à Deriva
Fernando Vieira
Remendos pelo ar
- Partilhar 04/07/2022
Passam este mês 57 anos
sobre a entrada em funcionamento do Aeroporto
Internacional de Faro, que muito recentemente ganhou
o nome de Gago Coutinho, honrando este pioneiro da
aviação lusa.
Nem de propósito, com o
exponencial afluxo de turistas esperados por conta
da época estival já em curso e dos importantes
eventos que neste período animarão a região
algarvia, é uma das infraestruturas aéreas alvo do
plano de contingência “Verão IATA 2022” preparado
pelo Ministério da Administração Interna (MAI),
entrando no início de julho "na máxima afetação" de
reforço de meios, a qual consagra "ajustamentos
necessários", caso a respetiva monitorização semanal
prevista os revele imprescindíveis.
Trocado
por miúdos, isso significa que o ‘nosso’ aeroporto,
cuja dimensão continua aquém do desejado, será alvo
de especial atenção por parte do MAI, Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF), ANA — Aeroportos de
Portugal e outras entidades relevantes no que diz
respeito ao controlo das fronteiras externas da
União Europeia, para garantir a segurança do Espaço
Schengen e promover a fluidez no processamento dos
passageiros que entram e saem do país por via aérea.
Apesar de ser uma exceção ao crónico
desinvestimento que o Poder Central dedica ao
Algarve, pois na última década beneficiou de
intervenções de vulto, ainda assim o Aeroporto Gago
Coutinho apresentou elevadas taxas de ocupação das
boxes nos períodos considerados de pico logo após a
entrada em vigor do tal plano, o que motivou tempos
de espera bem superiores ao ideal e obstou a um
processamento célere dos fluxos de passageiros.
Para colmatar a lacuna, o MAI reafetou para Faro
15 inspetores do SEF e mais uns quantos agentes da
PSP, ao mesmo tempo que está a proceder à
atualização e monitorização de algumas soluções
tecnológicas, entre outras medidas avulsas, sendo
que esta preocupação acrescida tem prazo de
validade, pois a partir de setembro tudo voltará à
‘normalidade’, mal a pressão diminua.
Pressão
essa, recordo, que tem pulverizado os sistemas
aeroportuários na Europa e noutros pontos do mundo,
o que se traduz de forma generalizada no
cancelamento de voos, no aumento dos tempos de
espera e noutras perturbações que afetam os
aeroportos, as companhias de aviação e os
passageiros.
Sempre em ascensão desde 2011,
ao ponto de ultrapassar os nove milhões de
passageiros no ano pré-pandemia (a que se seguiu
quebra acentuada e compreensível de tráfego em
2020), o aeroporto algarvio continua a aguardar uma
expansão à séria, perspetivando as próximas décadas,
e não apenas soluções pontuais, que mais não são que
apressados remendos.
- n.38 • julho 2022