à Deriva
Fernando Vieira
‘Lobby’ de interesses
- Partilhar 06/04/2022
Desde que ando metido nestas
coisas do jornalismo – e já lá vão quatro décadas –
tenho lido e ouvido recorrentemente lamúrias sobre a
inexistência (ou ineficácia) de um ‘lobby’ de
pressão que pugne pelos reais interesses do Algarve
e dos algarvios, quer a nível social, quer no âmbito
económico.
Durante este já longo período,
têm surgido diversos coletivos, sobretudo
empresariais, que asseguram aos quatro ventos vir
para mudar as coisas, autoproclamando-se arautos de
um Algarve melhor, mais coeso e melhor adaptado aos
desafios atuais e futuros.
Contudo, a
realidade tem sido bem diferente e, na prática,
essas entidades/associações acabam por se revelar,
na esmagadora maioria das vezes, meros laboratórios
criados com o intuito de preparar elixires com
propriedades político-partidárias, limitando-se a
servir de rampas de lançamento, vulgo trampolins,
para projetos de índole pessoal, uns mais ambiciosos
que outros, supostamente visando o bem-estar da
comunidade.
Tudo isto a propósito de um
recente projeto, criado em 2015 na forma da
AlgFuturo – União Empresarial do Algarve, que tem
sido reiteradamente liderada pelo insuspeito José
Vitorino, cujo vasto currículo é esclarecedor sobre
os ideais que o movem enquanto personalidade
interessada na coisa pública.
Detalhes à
parte, gostaria imenso de acreditar que, por fim, a
região passou a ter uma voz ativa, isenta e
independente, inovadora e empreendedora,
desinteressada e congregadora, capaz de exercer a
tal pressão junto do poder central de que nós,
algarvios, tanto carecemos, através da cooperação
interativa entre as estruturas públicas e a
sociedade civil.
Mas, pelos anos já
decorridos desde a sua criação e perante as notícias
que me vêm chegando das mais recentes posições
oficiais da dita União, fico com a amarga impressão
de que ainda não é desta que nos veremos livres da
manipulação politiqueira de dados e factos, já que
as queixas e críticas que os seus responsáveis vêm
propagando para o exterior, podendo ser legítimas na
sua génese, soam-me demasiado excessivas,
desenquadradas da realidade e assumidamente contra a
corrente, só porque sim.
Portanto, do meu
ingénuo ponto de vista e até prova em contrário, eis
mais uma oportunidade perdida, pois continuamos sem
a tal voz forte, credível e agregadora que há muito
necessitamos.
É pena.
- n.35 • abril 2022