Fernando Vieira

à Deriva

Fernando Vieira

‘Lobby’ de interesses

Desde que ando metido nestas coisas do jornalismo – e já lá vão quatro décadas – tenho lido e ouvido recorrentemente lamúrias sobre a inexistência (ou ineficácia) de um ‘lobby’ de pressão que pugne pelos reais interesses do Algarve e dos algarvios, quer a nível social, quer no âmbito económico.

Durante este já longo período, têm surgido diversos coletivos, sobretudo empresariais, que asseguram aos quatro ventos vir para mudar as coisas, autoproclamando-se arautos de um Algarve melhor, mais coeso e melhor adaptado aos desafios atuais e futuros.

Contudo, a realidade tem sido bem diferente e, na prática, essas entidades/associações acabam por se revelar, na esmagadora maioria das vezes, meros laboratórios criados com o intuito de preparar elixires com propriedades político-partidárias, limitando-se a servir de rampas de lançamento, vulgo trampolins, para projetos de índole pessoal, uns mais ambiciosos que outros, supostamente visando o bem-estar da comunidade.

Tudo isto a propósito de um recente projeto, criado em 2015 na forma da AlgFuturo – União Empresarial do Algarve, que tem sido reiteradamente liderada pelo insuspeito José Vitorino, cujo vasto currículo é esclarecedor sobre os ideais que o movem enquanto personalidade interessada na coisa pública.

Detalhes à parte, gostaria imenso de acreditar que, por fim, a região passou a ter uma voz ativa, isenta e independente, inovadora e empreendedora, desinteressada e congregadora, capaz de exercer a tal pressão junto do poder central de que nós, algarvios, tanto carecemos, através da cooperação interativa entre as estruturas públicas e a sociedade civil.

Mas, pelos anos já decorridos desde a sua criação e perante as notícias que me vêm chegando das mais recentes posições oficiais da dita União, fico com a amarga impressão de que ainda não é desta que nos veremos livres da manipulação politiqueira de dados e factos, já que as queixas e críticas que os seus responsáveis vêm propagando para o exterior, podendo ser legítimas na sua génese, soam-me demasiado excessivas, desenquadradas da realidade e assumidamente contra a corrente, só porque sim.

Portanto, do meu ingénuo ponto de vista e até prova em contrário, eis mais uma oportunidade perdida, pois continuamos sem a tal voz forte, credível e agregadora que há muito necessitamos.

É pena.