Fábio d'Abadia de Sousa

Memórias do Futuro

Fábio d'Abadia de Sousa

O uso de botox virou quase uma obrigação

O uso da toxina botulínica nome científico do famoso botox está tão disseminado na sociedade brasileira que causa estranhamento quando encontramos uma pessoa que franze a testa durante uma conversa. Pessoas de todas as idades e classes sociais, inclusive jovens, tanto meninas quanto meninos, a partir dos 15 anos, aderiram à moda que deixa o rosto “lisinho, como bumbum de nenê”! Como nas fotografias editadas! Nos corredores das escolas de ensino médio e universidades, fica mal falado e, às vezes, vira até vítima de “bullying”, quem decide não contrariar Chronos, o implacável deus do tempo na mitologia grega. Manter o botox e o ácido hialurônico em dia, virou quase que uma obrigação social, como tomar banho.

Atualmente no Brasil, parece que ostentar rugas no rosto virou sinônimo de pobreza extrema e de desleixo com a própria aparência. A prática está tão disseminada que os grandes shopping centers, ao lado de lojas de roupas e perfumes, possuem clínicas especializadas que oferecem o serviço de colocação de botox com pagamentos em dezenas de prestações. E, ao contrário do que apregoa o adágio popular que diz que “de graça, aceita-se até injeção na testa”, o preço para esconder rugas e expressões faciais naturais da condição humana não é nada baixo! Aqueles que não podem pagar por profissionais legalmente habilitados, recorrem a pessoas não qualificadas e, às vezes, ficam com lábios e pálpebras tortos.

A pressão social para o uso do botox é enorme, principalmente para as mulheres que, além de terem que esconder as rugas, ainda são “impelidas” a usarem também preenchimento labial, para ostentarem bocas ao estilo Angelina Jolie. O interessante é que poucos lembram que a atriz Viola Davis também tem lábios “carnudos” e sensuais. Em termos de estrelas de Hollywood, a atenção dos brasileiros é bastante seletiva. Olhássemos com mais cuidado os rostos dos astros mais consagrados no cinema estadunidense, veríamos que eles não usam botox. Parece que a prática que tomou conta do Brasil, é proibida na capital mundial do cinema. Olhemos, por exemplo, nos rostos de Sean Penn, Diane Lane, Carey Mulligan, Meryl Streep, Robert De Niro, Denzel Washington etc.

Hollywood sempre ditou modas pelo mundo; algumas nefastas, como o cigarro. No entanto, no caso da febre de botox, a capital do cinema parece que pode ficar de consciência tranquila. O motivo é muito simples: o botox tira, junto com as rugas, a capacidade de se expressar de forma autêntica. Para um ator, isso é destruidor de carreira. O rosto fica incapacitado de mostrar de maneira natural as centenas de emoções que o rosto humano é capaz de produzir. Então, se fôssemos apontar alguns culpados pela doença do botox, talvez as redes sociais, tipo Instagram, Tik Tok e Facebook, devessem ser julgadas. A impressão que se tem é que o botox é uma espécie de filtro que se aplica na própria pele, a fim de nos aproximarmos um pouco da perfeição que só as fotografias editadas em redes sociais podem oferecer. Já não nos contentamos mais em sermos mais bonitos apenas nas fotos. Parece que queremos ser as próprias imagens! Inclusive com movimentos faciais paralisados, como nas fotografias!