Francisco Gil

Contemplações

Francisco Gil

Totens norte americanos: histórias do povo das marés.

Esculpidos pelos povos indígenas da costa noroeste do Pacífico (ou seja, na Colúmbia Britânica, no Canadá, e no sul do Alasca, nos Estados Unidos), os totens foram criados para representar o orgulho, as conquistas, as histórias e as crenças de uma família ou clã, para narrar lendas, linhagens e acontecimentos memoráveis, para assinalar sepulturas e entradas de casas, para comemorar acontecimentos e para comunicar com os membros falecidos dessa família ou clã. Por conseguinte, todos os totens foram esculpidos com símbolos ou emblemas significativos de famílias ou clãs e dos seus antepassados.
Divididos em clãs, que por sua vez se dividem em subgrupos, os Tlingit, ou “povo das marés”, ocupavam uma vasta área. Durante séculos, eles e outras tribos locais negociaram e lutaram entre si. Os seus complexos sistemas filosóficos e religiosos têm semelhanças e diferenças acentuadas. Todas estas tribos praticavam o xamanismo, o que implica uma crença no sobrenatural. Os xamãs curavam, influenciavam o clima, ajudavam na caça, previam o futuro e protegiam contra a feitiçaria. Embora cada tribo tivesse os seus próprios mitos de criação, lendas e histórias e venerasse divindades diferentes, todas acreditavam que os xamãs podiam contactar os espíritos da floresta e da água. Acreditavam também que podiam comunicar com os seus antepassados para invocar os espíritos protectores em busca de ajuda e apoio, utilizando frequentemente os totens como veículos.
A decoração dos postes caracteriza-se pela utilização de animais ou símbolos, mas também contém figuras comuns. Os animais representam atributos diferentes. O lobo, por exemplo, é um líder nato muito inteligente e com um forte sentido de família, pelo que um totem com este animal simboliza a liderança, a inteligência e a força dos laços familiares. A águia representa a coragem, a liderança e o prestígio; e a raposa representa a astúcia, a dissimulação e a coragem feminina.
Esculpido a partir de um único tronco de cedro, este poste está imbuído de poder espiritual e de crenças históricas. Foi criado durante o século XIX, altura em que os Tlingit utilizavam ferramentas de metal, que permitiam esculturas complexas e precisas. A cultura Tlingit dá grande importância à família, ao respeito, à generosidade, às boas maneiras e à espiritualidade, e este totem foi feito para ser exposto à porta de uma das casas de tábuas que os Tlingit faziam para o clã. Este totem simboliza os espíritos protectores e cada animal e símbolo nele esculpido tem um significado específico. Está construído em três secções para ser interpretado de baixo para cima, e a posição de cada figura tem significado. A secção inferior é a mais relevante, uma vez que os seus símbolos e imagens são os mais visíveis e proeminentes. A secção superior contém monstros e criaturas mitológicas. As imagens destinam-se a representar rostos humanos e animais, mas não a reproduzi-los exatamente.

(Adaptado a partir de um texto de Susie Hodge).

Madeira de cedro pintada
1820-1840