
Contemplações
Francisco Gil
Maman: A Majestosa Aranha de Louise Bourgeois
- Partilhar 02/09/2024
A escultura
"Maman", criada pela artista
Louise Bourgeois (1911-2010), é uma obra que
transcende a simples representação
física de uma aranha gigante. Com a sua
imponência e complexidade, esta obra
escultórica não apenas desafia as
convenções artísticas, mas também evoca
alguns significados emocionais e
simbólicos.
Louise Bourgeois,
nascida em Paris e naturalizada
norte-americana, é conhecida
pelas suas contribuições significativas
para a arte contemporânea. Louise
emergiu como uma figura central no
movimento da arte feminista e ganhou
reconhecimento pelas suas esculturas,
instalações e pinturas que exploram
temas como a feminilidade, a
sexualidade e a psique humana. "Maman",
concluída em 1999, é uma das obras mais
emblemáticas de Bourgeois,
destacando-se não apenas pela sua
escala impressionante, mas também pela
complexidade das emoções que evoca.
A escultura é uma representação
colossal de uma aranha, com pernas
estendidas que se projetam a mais de 9
metros de altura. Feita de bronze, a
estrutura maciça e imponente da aranha
domina o espaço ao seu redor. A escolha
do material, o bronze, confere à obra
uma durabilidade e solidez que
contrastam com a fragilidade muitas
vezes associada às aranhas. Essa
dualidade de força e vulnerabilidade é
uma constante nas obras de Bourgeois.
O título "Maman" que significa
"mãe", é um elemento maternal,
fundamental para a interpretação da
escultura. Bourgeois afirmou que a
aranha é uma representação da sua mãe,
Josephine, uma mulher forte e
resiliente que influenciou
profundamente sua vida. A escolha de
retratar uma aranha, um aracnídeo
muitas vezes temido e associado a
aspetos negativos, é intrigante.
Bourgeois transforma a aranha numa
figura maternal protetora, desafiando
estereótipos e explorando a
complexidade das relações familiares.
A dimensão psicológica de "Maman"
também é evidente. Bourgeois, mergulha
nas profundezas do inconsciente,
explorando os seus próprios medos,
anseios e memórias. A aranha, como
símbolo, remete não apenas à figura
materna de Josephine, mas também a
aspetos mais amplos da feminilidade e
da teia complexa de relações
familiares. A ambiguidade emocional da
escultura torna-se um convite
mergulharmos nas nossas próprias
experiências e reflexões sobre a
maternidade e a família.
A
escolha de uma aranha como elemento
central também ressoa com a iconografia
arquetípica. Aranhas são frequentemente
associadas à tecelagem e à criação de
teias intricadas. Nesse contexto, a
teia da "Maman" pode ser interpretada
como uma metáfora para a complexidade
da vida e das relações humanas. A
habilidade da aranha em tecer a sua
teia é um ato criativo, e Bourgeois, ao
usar esse símbolo, destaca a natureza
intrincada e muitas vezes imprevisível
da existência humana.
A escala
monumental de "Maman" também desafia as
convenções tradicionais da escultura.
Ao ocupar um espaço considerável, a
obra envolve o observador, criando uma
experiência imersiva. A presença física
da aranha, com as suas pernas
estendidas e a sombra que projeta,
contribui para a sensação de dominação
e monumentalidade. A interação entre a
escultura e o espaço ao redor é
fundamental para a experiência estética
que Bourgeois busca proporcionar.
Além da dimensão emocional e
simbólica, "Maman" também aborda
questões contemporâneas, como a
presença feminina nas artes. Bourgeois,
como uma das artistas mais proeminentes
do século XX, desafia as normas
estabelecidas e reivindica seu espaço
no mundo da arte dominado por homens.
"Maman" torna-se, assim, uma afirmação
poderosa da presença feminina e uma
celebração da força inerente à
feminilidade.
"Maman" de Louise
Bourgeois transcende o seu status de
mera representação artística para se
tornar uma obra complexa e
multifacetada. Ao incorporar elementos
emocionais, simbólicos e psicológicos,
Bourgeois cria uma peça que desafia as
expectativas, convida à reflexão e
proporciona uma experiência estética
única. "Maman" não é apenas uma
homenagem pessoal à mãe da artista, mas
também uma exploração profunda da
condição humana e da complexidade das
relações familiares.
Louise
Bourgeois, Maman, 1999, bronze, aço inoxidável e mármore,
927 x 891 x 1024 cm (existem 6
cópias em todo o mundo).
Na foto, a peça adquirida em 2004 pela National Gallery of Canada.
- Ano VI • 2024