Francisco Gil

Contemplações

Francisco Gil

Reconstrução da estátua colossal de Constantino em Roma

O imperador Constantino (306-337) foi um dos mais notáveis imperadores romanos. Tomou uma série de decisões que tiveram um forte impacto no seu tempo e na história. Entre elas, a adoção do cristianismo como religião oficial do Império Romano, embora se pense hoje, que o processo tenha sido menos abrupto do que por vezes se conta, como foi recentemente demonstrado pela descoberta de um templo de culto imperial em Spello, e a fundação de uma nova capital no Oriente, Constantinopla – atualmente Istambul. Constantino, que reinou durante quase 30 anos, foi também um grande construtor, nomeadamente em Roma.

O Colosso de Constantino, uma estátua monumental no coração de Roma.
O Colosso de Constantino era uma estátua de acrólito, ou seja, uma estátua composta, (um tipo de estátua da Antiguidade, esculpida somente nas suas extremidades, utilizando pedra, mármore ou marfim, com todo o resto elaborado com material de menor qualidade, normalmente madeira) um pouco diferente das estátuas criselefantinas, onde se usava materiais preciosos como o marfim para representar a carne e ouro para as roupas – a estátua de Zeus em Olímpia, por exemplo. No caso deste colosso, a cabeça, os braços e as pernas eram de mármore, enquanto o resto do corpo era de tijolo e madeira, talvez revestido com bronze dourado. Tinha mais de 10 metros de altura.

A datação da estátua é objeto de alguma controvérsia, mas pensa-se que terá sido feita por volta de 312-315, tendo sido depois refeita por volta de 325. Destinava-se a adornar a abside ocidental da Basílica de Maxêncio, um grande edifício situado no fórum romano. A construção da Basílica, ordenada pelo usurpador Maxêncio em 307, foi concluída por Constantino após a sua vitória em 312.

A estátua foi destruída e o seu bronze saqueado na Antiguidade tardia ou no início da Idade Média. Em 1486, foram encontrados vários fragmentos: a cabeça, o braço direito, o pulso, a mão direita, o joelho direito, a tíbia direita e os dois pés. A estátua foi inicialmente atribuída ao imperador Commodus (180-192), e só foi corretamente identificada no final do século XIX. Os seus elementos foram conservados e podem ser vistos atualmente no Museu Capitolino (imagem na base desta página).

A recriação do colosso, um exercício científico.
A Fundação Factum, sediada em Madrid, está por detrás da recriação desta estátua. O processo começou com a criação de documentação digital precisa e de alta resolução de sítios e obras de arte do património cultural em todo o mundo, a fim de criar fac-símiles de obras de arte destruídas, danificadas, saqueadas ou perdidas. A equipa passou então alguns dias a digitalizar os fragmentos utilizando técnicas de fotogrametria. Cada fragmento foi depois modelado em 3D e colocado na versão digital da estátua, inspirando-se nas formas de outras estátuas de culto da época com poses semelhantes. Foram tidos em conta vários fatores, como o tipo de mármore utilizado na estátua e o seu restauro, para que se pudessem acrescentar réplicas das partes em falta.

Segundo Adam Lowe, Diretor da Fundação Factum, que supervisionou o processo de reconstrução: – é algo que se situa entre a documentação, a recriação e a interpretação. Mas que se espera que seja o início de uma revolução na forma como se partilha e mostra grandes obras, entretanto destruídas.

Uma vez concluída a digitalização 3D, a equipa utilizou resina, poliuretano, pó de mármore, folha de ouro e gesso para as partes de mármore e bronze da estátua. A estrutura interna, provavelmente feita originalmente de tijolos, madeira e barras de metal, foi construída em alumínio.

A imponente estátua de 13 metros de altura assim recriada foi inaugurada a 6 de fevereiro de 2024. Encontra-se atualmente num jardim lateral dos Museus Capitolinos, mesmo ao virar da esquina do pátio que contém os fragmentos originais dos pés, mãos e cabeça do colosso original.