Contemplações
Francisco Gil
Reconstrução da estátua colossal de Constantino em Roma
- Partilhar 10/04/2024
O imperador Constantino (306-337)
foi um dos mais notáveis imperadores
romanos. Tomou uma série de decisões
que tiveram um forte impacto no seu
tempo e na história. Entre elas, a
adoção do cristianismo como religião
oficial do Império Romano, embora se
pense hoje, que o
processo tenha sido menos abrupto do
que por vezes se conta, como foi
recentemente demonstrado pela
descoberta de um templo de culto
imperial em Spello, e a fundação de uma
nova capital no Oriente, Constantinopla
– atualmente Istambul. Constantino, que
reinou durante quase 30 anos, foi
também um grande construtor,
nomeadamente em Roma.
O Colosso de Constantino, uma
estátua monumental no coração de Roma.
O Colosso de
Constantino era uma estátua de
acrólito, ou seja, uma estátua
composta, (um tipo de estátua da
Antiguidade, esculpida somente nas suas
extremidades, utilizando pedra, mármore
ou marfim, com todo o resto elaborado
com material de menor qualidade,
normalmente madeira) um pouco
diferente das estátuas
criselefantinas, onde se usava
materiais preciosos como o marfim para
representar a carne e ouro para as
roupas – a estátua de Zeus
em Olímpia, por exemplo. No caso deste
colosso, a cabeça, os braços e as
pernas eram de mármore, enquanto o
resto do corpo era de tijolo e madeira,
talvez revestido com bronze dourado.
Tinha mais de 10 metros de altura.
A
datação da estátua é objeto de alguma
controvérsia, mas pensa-se que terá
sido feita por volta de 312-315, tendo
sido depois refeita por volta de 325.
Destinava-se a adornar a abside
ocidental da Basílica de Maxêncio, um
grande edifício situado no fórum
romano. A construção da Basílica, ordenada pelo
usurpador Maxêncio em 307, foi
concluída por Constantino após a sua
vitória em 312.
A estátua foi destruída e o seu
bronze saqueado na Antiguidade tardia
ou no início da Idade Média. Em 1486,
foram encontrados vários fragmentos: a
cabeça, o braço direito, o pulso, a mão
direita, o joelho direito, a tíbia
direita e os dois pés. A estátua foi
inicialmente atribuída ao imperador
Commodus (180-192), e só foi
corretamente identificada no final do
século XIX. Os seus elementos foram
conservados e podem ser vistos
atualmente no Museu Capitolino (imagem
na base desta página).
A recriação do colosso, um
exercício científico.
A
Fundação Factum, sediada em Madrid,
está por detrás da recriação desta
estátua. O processo começou com a
criação de documentação digital
precisa e de alta resolução de sítios e
obras de arte do património cultural em
todo o mundo, a fim de criar
fac-símiles de obras de arte
destruídas, danificadas, saqueadas ou
perdidas. A equipa passou então alguns
dias a digitalizar os fragmentos
utilizando técnicas de fotogrametria.
Cada fragmento foi depois modelado em
3D e colocado na versão digital da
estátua, inspirando-se nas formas de
outras estátuas de culto da época com
poses semelhantes. Foram tidos em conta
vários fatores, como o tipo de mármore
utilizado na estátua e o seu restauro,
para que se pudessem acrescentar
réplicas das partes em falta.
Segundo Adam Lowe, Diretor da Fundação
Factum, que supervisionou o processo de
reconstrução: – é algo que se situa
entre a documentação, a recriação e a
interpretação. Mas que se espera que
seja o início de uma revolução na forma
como se partilha e mostra grandes
obras, entretanto destruídas.
Uma vez concluída a digitalização 3D, a
equipa utilizou resina, poliuretano, pó
de mármore, folha de ouro e gesso para
as partes de mármore e bronze da
estátua. A estrutura interna,
provavelmente feita originalmente de
tijolos, madeira e barras de metal, foi
construída em alumínio.
A
imponente estátua de 13 metros de
altura assim recriada foi inaugurada a
6 de fevereiro de 2024. Encontra-se
atualmente num jardim lateral dos
Museus Capitolinos, mesmo ao virar da
esquina do pátio que contém os
fragmentos originais dos pés, mãos e
cabeça do colosso original.
- Ano V • abril 2024