Francisco Gil

Contemplações

Francisco Gil

Botero, o artista das formas arredondadas

Fernando Botero, é o artista mais universal da Colômbia, famoso em todo o mundo pelas suas figuras arredondadas e volumosas.
O mestre Botero, nasceu em Medellín em 1932, tendo falecido em setembro do 2023 na sua casa no Mónaco aos 91 anos de idade. Foi um artista autodidata em todos os sentidos da palavra. "A arte deve produzir prazer, uma certa tendência para um sentimento positivo", disse em 2019 numa entrevista ao jornal EL PAÍS. "Mas eu pintei coisas dramáticas. Sempre procurei a coerência, a estética, mas pintei violência, tortura, a paixão de Cristo... Há um prazer diferente na pintura dramática, na pintura em si. A maior alegria da pintura, a beleza, não põe em conflito o dramático e o prazeroso", disse na altura.

O longo caminho de Botero teve muitas paragens ao longo do percurso. De origens muito humildes, a sua carreira começou como ilustrador do jornal El Colombiano no final da década de 1940. Desde cedo se reconheceu como um herdeiro de Piero della Francesca, e a génese do seu estilo inconfundível surgiu aos 25 anos, com um esboço de um bandolim que indicava o seu sentido de monumentalidade. Considerado durante muito tempo um dos maiores artistas vivos, a fama e a popularidade que adquirira com as suas pinturas de cores luminosas aumentaram nos anos 90, quando as suas enormes esculturas em bronze começaram a ser expostas nas principais capitais do mundo. Um estilo que nunca abandonou, e que manteve até ao último dos seus dias.

Na década de 60, Botero passou por Nova Iorque, onde esteve num dos mais importantes laboratórios da vanguarda artística contemporânea, onde chegou com 200 dólares no bolso. Conta que, a certa altura, durante esses anos difíceis, só lhe restavam 27 dólares na conta poupança. Botero com trinta e poucos anos, enfrentou nesse tempo as correntes predominantes na altura. Sentiu-se incompreendido, mas manteve a coragem, para se orientar no seu percurso e para aperfeiçoar o domínio da sua técnica. Naquela época, predominavam a arte abstrata, o expressionismo abstrato e a arte pop, mas o colombiano já tinha escolhido uma direção diferente. As vozes críticas também o acompanharam ao longo da sua extraordinária carreira.

Nos anos 70, mudou-se para Paris, onde foi atingido pela maior das tragédias. Aos quatro anos, viu Pedro, o filho do seu segundo casamento, morrer num acidente de viação. O próprio Botero perdeu parte da mão direita, ficou incapaz de pintar durante vários meses. Fechou-se no seu estúdio para recriar repetidamente o rosto do seu Pedrito (série de obras que se encontram no Museo de Antioquia, Medellín, Colômbia).

Apesar de ter vivido no México, Nova Iorque, Mónaco e Paris, Botero nunca perdeu de vista o seu país. As suas memórias de infância do mundo de Medellín nas décadas de 1930 e 1940 inspiraram grande parte da sua obra. A convicção de que a arte, quanto mais local é, mais universal é, acompanhou-o. No início deste século, doou toda a sua coleção de arte à Colômbia, uma decisão que veio a considerar a mais importante e satisfatória da sua vida. Para além das obras expostas nos museus de Bogotá e Medellín, outra das suas esculturas é talvez o maior testemunho da transformação desta última, a capital da província de Antioquia, e do terror que sofreu durante o narco-terrorismo do final do século passado. Quando uma bomba destruiu a pomba com a sua assinatura que estava exposta numa praça da cidade, causando 26 mortos e uma centena de feridos, Botero pediu que não fosse reconstruída. Deixou-a como monumento desfigurado e, ao lado, fez outra pomba em homenagem à paz. Ainda hoje é assim. A guerra e a paz da Colômbia através do seu artista mais universal.