Francisco Gil

Contemplações

Francisco Gil

A Mulher de Willendorf: a importância suprema do feminino

A Mulher de Willendorf ou "Vénus de Willendorf" é o nome dado a uma estatueta feminina que foi encontrada em 1908 por um arqueólogo chamado Joseph Szombathy perto da cidade de Willendorf, na Áustria. Atualmente, encontra-se no Museu de História Natural de Viena. A estátua foi esculpida em calcário oolítico (um tipo especial de calcário formado por grãos que sofreram crescimentos sucessivos de lâminas microscópicas ao redor de um grão de quartzo ou fragmento de concha.) e foi colorida com pigmento ocre vermelho. Mede 11 cm de altura e é datada de 30.000 a 25.000 a.C.

Esta estátua é um importante ícone da pré-história. Os arqueólogos têm sugerido muitas formas diferentes de compreender o seu significado para a sociedade nómada que a criou. A primeira sugestão é que se tratava de uma figura de “Deusa”, usada como símbolo de fertilidade. Para além de ser feminina, a estátua tem a barriga e as mamas aumentadas, a zona púbica é muito realçada, servindo provavelmente como representante da procriação, e pensou-se que o pigmento ocre vermelho que a cobre simbolizava ou servia como sangue menstrual, visto como um agente gerador de vida. A segunda sugestão é que a estatueta pode ter servido como amuleto de boa sorte. O seu tamanho diminuto levou os arqueólogos a supor que poderia ter sido transportada pelos humanos, servindo como amuleto para lhes trazer segurança no seu dia-a-dia e sucesso nas suas caçadas. Esta ideia é reforçada pelo facto de a estatueta não ter rosto, o que lhe confere um ar de mistério e anonimato, sugerindo que pode ter tido muita importância como objeto simbólico. Além disso, o cabelo da estatueta está entrançado em sete círculos concêntricos, sendo o sete considerado, em tempos posteriores, como um número mágico utilizado para trazer boa sorte. Um terceiro significado possível é o de que a estatueta serve como deusa-mãe (mãe da terra ou divindade feminina). Esta ideia surge da sugestão de que a estátua era uma mulher cuja especificidade era indicada pela sua obesidade, uma vez que as mulheres numa sociedade de caçadores-recolectores provavelmente não teriam tido a oportunidade de se tornarem tão obesas (como sinal de fartura e prosperidade).

Com todas as sugestões que foram apresentadas sobre o significado da escultura, podem ser feitas conclusões provisórias sobre as crenças sociais, políticas e religiosas da comunidade em que foi produzida. A utilização da estatueta como divindade poderá sugerir a prática de cerimónias religiosas para garantir o sucesso do grupo (crê-se que neste período os grupos de humanos nómadas, poderiam ser constituídos por 10 a 15 indivíduos). Como deusa da terra, pode ter desempenhado o papel de assegurar um abastecimento contínuo de alimentos na sociedade. A par disto, também é possível acreditar na fé e na magia, caso a estatueta tivesse como objetivo assegurar o sucesso da caça. Do ponto de vista político, pode especular-se que as mulheres, devido às suas capacidades de criação, podem ter tido um papel de estima na comunidade. Assim, a sociedade pode ter sido mais matriarcal do que patriarcal, como sugerido por Jacob Bachojen (1815-1887): “O matriarcado ou ginecocracia, encontrado entre os povos tribais, em que a autoridade, tanto na família como na tribo, estava nas mãos das mulheres, devia estar associado ao culto de uma divindade terrestre feminina suprema”.

Ao contemplar esta estatueta, percebemos que esses indivíduos nómadas, que viveram há mais de 25 mil anos já possuíam interessantes valores estéticos e sabiam fazer belos objetos.

Leituras adicionais:
Hahn, Joachim. The Dictionary of Art, V.33. Mcmillan Publishers: (New York, 1996).

Matthews, Roy T. & F. Dewitt Platt. The Western Humanities. Mayfield publishing company: (Mountain View,California, London, Toronto, 1995). venus of willendorf

Tattersall, Ian. Encyclopedia of Human Evolution and Prehistory. Gerland Publishing: (New York & London, 1988).

Witcombe, Christopher L.C.E. Stone Age Women: "The Venus of Willendorf".