Afonso Dias

reflexões in verso

Afonso Dias

golpe de vista

golpe de vista
          aos burocratas bem sucedidos meus amigos mais ou menos
          (já que acordei bem disposto)


ó que belo olho de vidro
refulgente
que até semelha em brilho
o diamante
quase parece o traste
inteligente
sendo apenas um cegueta
um pedante
mas tem curso de lacaio é um
pingente
um berloque do poder
o meliante

nada cria que se veja
pois não pensa
do outro olho é vesgo
e não lobriga
a mor distância que a pró-
pria barriga
perito é só em rimel e
cagança

não vê ponta de corno
a avantesma
é um espectro de pus um
avejão
um molusco gastrópode
uma lesma
uma bosta de trampa
um cagalhão

que deus noss’nhor nos forneça ‘ma infinita dose da sua mais santíssima
paciência
que ajude a penar esta
penitência