reflexões in verso
Afonso Dias
crónica de agosto (em dois tempos)
- Partilhar 08/08/2022
crónica de agosto (em dois tempos)
tempo primeiro
tão amigos que
somos e tão tolos
zurzíamos nos
fachos que nem ginjas
já o sol se
punha pela cerveja abaixo
da goela
depois veio-te a covid
e foi uma
semana sem ver gajas
vá lá que havia
sopa congelada
a pressa que eu
tinha em ir à fonte
que é estéril
como o bispo do seixal *
(bom negócio
de esquerda dos valentes
e coçar bem
as virilhas dá comenda
canta a conta
camarada a conta)
já a
meteorologia é uma vaca
arde a serra
ribanceira abaixo
cinzento é de cinza
este fumeiro
e o covão d’ametade **
vai enxuto
“leva nisto e não chove”
diz-se em lagos
n’igreja de
santo antónio *** brilha a talha
tinha eu tantas saudades tinha tinha
e atracou o comboio fez cem anos
* restaurante no seixal
** lugar ao
cimo do glaciar de manteigas
*** em
Lagos
tempo segundo
vive o
vírus
verga a viga
vilegiatura
vigiada
vigilante
diligente
diligencia
a dedada
formatada
formatura
olhós três
da vida
airada
olho por olho
é bisolho
não é terçolho
o hordéolo
é rima
mal
amanhada
uma maçada
qualquer maré
do mar é
e é do
banheiro
a braçada
anca coxa
perna e pé
anatomia
artilhada
não baza israel
de gaza
mas
não goza
com a maralha
que
acordada
é teimosa
e tem a meta
traçada
na síria é
o que se vê
só metralha
desvairada
iemenita
a tormenta
seca de sede
esventrada
ucrânia
martírio cego
zaporíjia
atomizada
o papa faz
homilias
e as rezas
não dão em nada
esganai
os filhos da puta
antes da noite
fechada
a geostra-
tégia é uma
valentís-
sima
cagada
- n.39 • agostoo 2022