Afonso Dias

reflexões in verso

Afonso Dias

crónica de agosto (em dois tempos)

crónica de agosto (em dois tempos)

tempo primeiro

tão amigos que somos e tão tolos
zurzíamos nos fachos que nem ginjas
já o sol se punha pela cerveja abaixo
da goela depois veio-te a covid
e foi uma semana sem ver gajas
vá lá que havia sopa congelada

a pressa que eu tinha em ir à fonte
que é estéril como o bispo do seixal *
(bom negócio de esquerda dos valentes
e coçar bem as virilhas dá comenda
canta a conta camarada a conta)

já a meteorologia é uma vaca
arde a serra ribanceira abaixo
cinzento é de cinza este fumeiro
e o covão d’ametade ** vai enxuto
“leva nisto e não chove” diz-se em lagos

n’igreja de santo antónio *** brilha a talha
tinha eu tantas saudades tinha tinha
e atracou o comboio fez cem anos

               * restaurante no seixal
               ** lugar ao cimo do glaciar de manteigas
               *** em Lagos

tempo segundo


vive o vírus
verga a viga
vilegiatura
vigiada
vigilante
diligente
diligencia
a dedada
formatada
formatura
olhós três
da vida airada
olho por olho
é bisolho
não é terçolho
o hordéolo
é rima mal
amanhada

uma maçada

qualquer maré
do mar é
e é do banheiro
a braçada
anca coxa
perna e pé
anatomia
artilhada

não baza israel
de gaza
mas não goza
com a maralha
que acordada
é teimosa
e tem a meta
traçada
na síria é
o que se vê
só metralha
desvairada
iemenita
a tormenta
seca de sede
esventrada
ucrânia
martírio cego
zaporíjia
atomizada

o papa faz
homilias
e as rezas
não dão em nada
esganai
os filhos da puta
antes da noite
fechada
a geostra-
tégia é uma
valentís-
sima
cagada