Olhar Juvenil
Victoria Sajin
Dar valor aos valores de antigamente
- Partilhar 29/10/2022
Já algum tempo se passou e eu tenho
andado um pouco desaparecida. No entanto,
decidi voltar para poder partilhar com vocês
algumas novidades e pequenas aventuras que
têm acontecido nos últimos tempos, agora a
viver sozinha em Lisboa.
Bem, como
todos sabem: Lisboa, cidade grande. O sonho
de muitos jovens que procuram ir em busca
daquilo que desejam, seja ela uma carreira
ideal ou até mesmo uma mudança. E eu,
igualmente uma jovem sonhadora, a fazer
exatamente o mesmo. Mas focando no assunto
que vou partilhar este mês, tem a ver com o
estranhar da simpatia dos jovens (eu sei que
isto soa um pouco estranho, mas vou já
explicar e vai fazer sentido, prometo).
O primeiro momento que vou partilhar
aconteceu numa fila de supermercado, que
funciona como a da Primark, em que é
apenas uma fila única e cada caixa chama
assim que está livre e nós apenas nos temos
de deslocar para lá e colocar as nossas
coisas no tapete, enfim, uma forma de
organização mais justa. Estava na fila do
Continente, à minha frente um senhor entre
os seus 50 e 60 anos. Chamaram para a caixa
e o senhor foi a caminho da mesma, porém, em
menos de um minuto regressou e estava com um
ar de incomodado. Pediu-me imediatamente
desculpa como se me estivesse a passar à
frente ou a tirar o meu lugar, dizendo que a
caixa chamou, mas que a fila ainda estava
grande, então regressou para esperar. A
minha resposta foi tão simples quanto isto:
“Não tem problema nenhum, é normal porque as
caixas chamam automaticamente e podem
falhar”. O senhor ficou especado a olhar
para mim durante uns longos segundo até que
lhe saem as seguintes palavras: “Obrigado
menina, obrigado pela sua compreensão e pela
sua reação” (estranho, não é?).
O
segundo momento aconteceu no autocarro, onde
ajudei duas senhoras que não tinham a
certeza onde era a paragem que elas iam
descer e, eu como ouvi a conversa e percebi
que precisavam de ajuda, disse-lhes que
quando estivermos quase a chegar lá eu aviso
e elas descem. Entretanto, ambas, super
simpáticas, fomos a conversar o caminho
todo. Antes de chegarmos à paragem onde as
senhoras iriam descer, toquei no botão e
disse-lhes que era já a seguir. Elas ficaram
muito felizes e agradeceram pela minha
simpatia e disponibilidade e disseram-me o
seguinte: “Já não há muitos jovens como a
menina, muito simpática e que nos ajudou só
porque sim!” (aparentemente uma atitude
normalíssima da minha parte, achava eu).
Nestes dois meses a viver em Lisboa,
tenho vindo a tirar algumas conclusões de
coisas que, na minha cabeça me pareciam tão
simples e que qualquer pessoa o faz no seu
dia a dia, como ser simpático/a. Vou então
retomar o que disse acima: as pessoas
estranham a simpatia dos jovens e, acho que
isto se sente mais pelos idosos. E talvez
seja normal, pois numa cidade tão grande, as
pessoas mal se conhecem e mal se falam. Mas
será que ser simpático com alguém que não
nos fez nada de mal é assim tão difícil?
Senti-me estranhamente especial em ambos os
momentos que contei, porque pela reação das
pessoas percebi que já não é tão comum um
jovem dar o seu lugar no autocarro para uma
pessoa de mais idade, ser simpático só
porque sim ou mesmo apenas não levar a mal o
atrasar numa fila de talvez um minuto. Mas o
facto de não ser tão comum nos dias de hoje,
faz de mim uma pessoa que ainda dá valor aos
valores de antigamente?
- n.42 • novembro 2022