Os novos medievais
Margarida Vale
Vikings
- Partilhar 30/11/2022
Vikings. Este é o nome dado aos navegadores
escandinavos que entre os séculos IX e XI
realizaram incursões nas ilhas do Atlântico
e em quase toda a Europa Ocidental. São uma
antiga civilização que hoje compreende o
território que agora é ocupado por três
países europeus: a Suécia, a Dinamarca e a
Noruega. A sua cultura era baseada na
actividade agrícola, no artesanato e no
notável comércio marítimo.
Suscitando
alguma admiração nos outros povos e ainda
receio, os ingleses apelidaram-nos de pagãos
ou dinamarqueses, os francos de nómadas, os
irlandeses de estrangeiros e na Europa
central eram conhecidos por rua ou varegues.
Não se sabe ao certo a origem da palavra que
pode ter sofrido uma deturpação no seu uso.
Viken relaciona-se com fiorde ou ainda baía.
Por outro lado existe ainda a hipótese de
estar ligada a um verbo que significa evitar
ou esconder. O certo é que evitavam
confrontos, sempre que possível.
Cronologicamente esta civilização alcançou o
seu auge entre os séculos VIII e XI. A maré
das primeiras invasões começou em 856.
Conquistaram grande parte das terras
britânicas, estendendo-se até à Escócia.
Mais tarde, no século X, Eurico, o Vermelho,
explorou a Gronelândia onde estabeleceu uma
colónia e o seu filho, Leif Ericson explorou
o litoral norte americano, procurando
colonizá-lo, sem sucesso.
Eram os
melhores navegadores do mundo e sabiam
orientar-se pelo sol e pelas estrelas. Foi
assim que chegaram a França e aos Países
Baixos. Devido às baixas temperaturas, os
vikings tinham expressa necessidade de uma
vestimenta que lhes permitisse suportar o
frio. Assim, combinavam peças de tecido com
couro e peles grossas para manter o corpo
aquecido. Curiosamente apreciavam adornos de
metal e pedra que usavam com mestria.
Os seus barcos, os drakares ( dragões )
eram elaborados de forma bastante
inteligente pois podiam ter entre 20 e 40
pés de comprimento e 3 metros de largura.
Uma das vantagens é que eram mais fáceis de
manobrar facilitando as táticas de ataque e
de fuga. Igualmente navegavam nos mares e
nos rios porque o casco aberto era trincado.
De vela quadrada e remo-leme lateral na
popa, tinham 2 filas laterais de remos e uma
cabeça de serpente que servia para os
identificar.
As habitações eram
bastante simples. Madeira, pedra e relva
seca eram os elementos principais usados na
sua construção. Práticos e desembaraçados
por natureza, as casas tinham, por norma,
uma só divisão sendo que nas famílias mais
abastadas havia lugar a cozinha e quartos.
Inicialmente a organização era democrática
mas com o tempo os chefes passaram a assumir
uma maior importância.
A organização
familiar tinha traços patriarcais sendo que
o homem era o principal responsável pela
defesa da família e das várias actividades
que providenciassem o sustento. A mulher era
a responsável pelos alimentos e algumas
também se tornaram guerreiras sendo tão ou
mais destemidas que os homens. A educação
era exclusiva dos pais que passavam aos
filhos os ofícios e as tradições. Eram um
povo de cultura oral e não escrita.
O
rei estava no topo da autoridade, seguido
dos condes e chefes tribais que eram
respeitados por todos. As reuniões eram ao
ar livre onde se discutiam todos os assuntos
comuns, faziam as leis e definiam os
castigos a aplicar aos infractores. Existia
uma certa democracia nestas decisões pois
todos eram ouvidos com bastante atenção.
A sua mitologia é vasta e muito rica.
Politeístas convictos, os seus inúmeros
deuses funcionavam como consciência
colectiva e orientadora. Odin era o deus dos
deuses, Thor a divindade de maior
popularidade e tinha como missão proteger o
povo viking e o controlo do céu. Mas tinham
outros deuses que eram venerados de modo
particular.
Com a cristianização da
Europa durante a Idade Média, estes
guerreiros acabaram por se converter à nova
religião levando ao fim da sua cultura, o
que acontece entre os séculos XI e XII. Tal
ficou a dever-se aos conflitos, infindáveis,
entre os nobres ingleses e os da Normandia,
que tinham em mente os seus próprios
interesses e não os da comunidade.
Contudo as lendas e as superstições
sobreviveram ao tempo e tornaram-se uma
fonte de estudo para todos aqueles que se
interessam pelas civilizações que se
extinguiram. Hoje em dia estes países
preservam as suas tradições e fazem questão
de manter estas memórias tão vivas quanto
possível, quer através de museus ou de
inúmeras recriações históricas.
Por
serem tão interessantes e ainda mais
apaixonantes, um assunto que não se esgota,
foram tema de vários filmes e de séries que,
com detalhes e rigor, tentam recriar os
tempos da sua grande civilização e não os
deixar morrer na memória colectiva. É
preciso saber destrinçar entre a realidade,
a verdade e a ficção que serve para animar
dias que já se foram há muito.
- n.43 • dezembro 2022