Margarida Vale

Os novos medievais

Margarida Vale

Vikings

Vikings. Este é o nome dado aos navegadores escandinavos que entre os séculos IX e XI realizaram incursões nas ilhas do Atlântico e em quase toda a Europa Ocidental. São uma antiga civilização que hoje compreende o território que agora é ocupado por três países europeus: a Suécia, a Dinamarca e a Noruega. A sua cultura era baseada na actividade agrícola, no artesanato e no notável comércio marítimo.

Suscitando alguma admiração nos outros povos e ainda receio, os ingleses apelidaram-nos de pagãos ou dinamarqueses, os francos de nómadas, os irlandeses de estrangeiros e na Europa central eram conhecidos por rua ou varegues. Não se sabe ao certo a origem da palavra que pode ter sofrido uma deturpação no seu uso. Viken relaciona-se com fiorde ou ainda baía. Por outro lado existe ainda a hipótese de estar ligada a um verbo que significa evitar ou esconder. O certo é que evitavam confrontos, sempre que possível.

Cronologicamente esta civilização alcançou o seu auge entre os séculos VIII e XI. A maré das primeiras invasões começou em 856. Conquistaram grande parte das terras britânicas, estendendo-se até à Escócia. Mais tarde, no século X, Eurico, o Vermelho, explorou a Gronelândia onde estabeleceu uma colónia e o seu filho, Leif Ericson explorou o litoral norte americano, procurando colonizá-lo, sem sucesso.

Eram os melhores navegadores do mundo e sabiam orientar-se pelo sol e pelas estrelas. Foi assim que chegaram a França e aos Países Baixos. Devido às baixas temperaturas, os vikings tinham expressa necessidade de uma vestimenta que lhes permitisse suportar o frio. Assim, combinavam peças de tecido com couro e peles grossas para manter o corpo aquecido. Curiosamente apreciavam adornos de metal e pedra que usavam com mestria.

Os seus barcos, os drakares ( dragões ) eram elaborados de forma bastante inteligente pois podiam ter entre 20 e 40 pés de comprimento e 3 metros de largura. Uma das vantagens é que eram mais fáceis de manobrar facilitando as táticas de ataque e de fuga. Igualmente navegavam nos mares e nos rios porque o casco aberto era trincado. De vela quadrada e remo-leme lateral na popa, tinham 2 filas laterais de remos e uma cabeça de serpente que servia para os identificar.

As habitações eram bastante simples. Madeira, pedra e relva seca eram os elementos principais usados na sua construção. Práticos e desembaraçados por natureza, as casas tinham, por norma, uma só divisão sendo que nas famílias mais abastadas havia lugar a cozinha e quartos. Inicialmente a organização era democrática mas com o tempo os chefes passaram a assumir uma maior importância.

A organização familiar tinha traços patriarcais sendo que o homem era o principal responsável pela defesa da família e das várias actividades que providenciassem o sustento. A mulher era a responsável pelos alimentos e algumas também se tornaram guerreiras sendo tão ou mais destemidas que os homens. A educação era exclusiva dos pais que passavam aos filhos os ofícios e as tradições. Eram um povo de cultura oral e não escrita.

O rei estava no topo da autoridade, seguido dos condes e chefes tribais que eram respeitados por todos. As reuniões eram ao ar livre onde se discutiam todos os assuntos comuns, faziam as leis e definiam os castigos a aplicar aos infractores. Existia uma certa democracia nestas decisões pois todos eram ouvidos com bastante atenção.

A sua mitologia é vasta e muito rica. Politeístas convictos, os seus inúmeros deuses funcionavam como consciência colectiva e orientadora. Odin era o deus dos deuses, Thor a divindade de maior popularidade e tinha como missão proteger o povo viking e o controlo do céu. Mas tinham outros deuses que eram venerados de modo particular.

Com a cristianização da Europa durante a Idade Média, estes guerreiros acabaram por se converter à nova religião levando ao fim da sua cultura, o que acontece entre os séculos XI e XII. Tal ficou a dever-se aos conflitos, infindáveis, entre os nobres ingleses e os da Normandia, que tinham em mente os seus próprios interesses e não os da comunidade.

Contudo as lendas e as superstições sobreviveram ao tempo e tornaram-se uma fonte de estudo para todos aqueles que se interessam pelas civilizações que se extinguiram. Hoje em dia estes países preservam as suas tradições e fazem questão de manter estas memórias tão vivas quanto possível, quer através de museus ou de inúmeras recriações históricas.

Por serem tão interessantes e ainda mais apaixonantes, um assunto que não se esgota, foram tema de vários filmes e de séries que, com detalhes e rigor, tentam recriar os tempos da sua grande civilização e não os deixar morrer na memória colectiva. É preciso saber destrinçar entre a realidade, a verdade e a ficção que serve para animar dias que já se foram há muito.