
Por Ondas do Mar de Vigo
Myriam Jubilot de Carvalho
Estrelas na noite
- Partilhar 09/09/2022
Retira os óculos,
para descansar um pouco. Os olhos. E a
curvatura recôncava do nariz.
Da janela
da sala avista, de onde em onde, pequenas
ampolas eléctricas. Povoando a noite. Seus
brilhos redondos, interpretam-nos,
grosseiramente, seus olhos míopes. Como
imensas estrelas. Deslocadas. Ou
terrivelmente brancas, ou agressivamente
amarelas, ou suavemente. Verdes.
Estou
cada vez pior, pensou. Vou acabar ceguinha
de todo.
Liga o rádio.
*
Índia...
A tua imagem...
Sempre comigo vai...
*
Oh, há quanto tempo não ouvia isto…
Canção que tinha sido tão familiar. De tão
insistentemente repetida. E, agora. Na bela
voz da Gal Costa... Parecendo-lhe ainda mais
bela...
*
Vai até à janela. Chega o
nariz à vidraça. Que a separa do frio e da
noite. E da distância. O bafo quente da
respiração faz-lhe transpirar o vidro…
Distraidamente, ergue a mão. Para apanhar
uma dessas estrelas. Caídas. Lá tão longe.
E, no entanto, tão perto.
A mão
tropeça-lhe na janela.
Cada vez pior,
sorria consigo própria. Cada vez pior,
sorriu. Sem se aperceber. De que sorria...
- n.40 • setembro 2022