Myriam Jubilot de Carvalho

Por Ondas do Mar de Vigo

Myriam Jubilot de Carvalho

Serra da Arrábida

A Serra ergue-se na sua imponência além da estrada. Do outro lado da barreira natural, erguida à nossa esquerda, fica o Mar Oceano.
A estrada rústica, de terra batida, segue, sinuosa, a interiorizar-se cada vez mais no interior da Floresta. Dizem os entendidos que é “a última floresta mediterrânica”, conservando ainda exemplares da Era Terciária. Não sei identificá-los, profundamente o lamento, apesar de ser tão antiga que me sinto aparentada com esses sobreviventes dessas épocas ultrapassadas, enigmáticas, misteriosas...
A estrada segue. Enquanto descemos, é sempre em frente. Há nuvens, suaves, trazidas pela aragem. A hora luminosa do canto das aves já passou. E agora, sob este calor do meio da tarde, impôs-se, quente, este silêncio abafado e húmido.
Estacionamos o carro numa encruzilhada amena. Outros caminhos seriam possíveis, mas escolhemos este – e aqui, está-se bem.
Retiramos do porta-bagagens as cadeiras de campismo. Instalamo-nos à sombra aconchegante das árvores de nomes desconhecidos. Essa incógnita não nos perturba. Abençoada, acolhedora, a sua quietude muda, convida-nos a este silêncio comunicante!
Foi este imponente silêncio que inspirou monges e poetas a procurem esta Serra como cenário da sua meditação e inspiração. Sebastião da Gama, ou Frei Agostinho da Cruz, os mais conhecidos. Séculos os separam e, no entanto, viveram o mesmo fascínio, e a mesma bênção.
Esta aragem, mais leve que a respiração... Uma ou outra folha seca balançando-se ao vento como num berço...
E este silêncio...
Vêm sublimar um pensamento actualmente recorrente... Um dia, um dia que finalmente virá, um dia, quando o meu coração mergulhar no vale do Eterno Silêncio – estará Anúbis à minha espera? Será o meu coração mais leve que esta aragem, mais leve que esta folha seca balançando-se ao vento como num berço?
Que amuleto, então, me ajudará?
Terei, ao menos, sobre o coração, um pequeno escaravelho de lápis-lazúli para me proteger?
Será, ao menos, o meu coração mais leve que a pena de Maat?... Ou que esta folhinha morta que se desprendeu da árvore e vem balançando, suavemente, harmoniosamente, ociosamente, em direcção ao chão para se refundir no eterno húmus vital?...