Fernando Vieira

à Deriva

Fernando Vieira

G’anda seca

Entrados em fevereiro, volta às manchetes a eventual escassez de água no Sul, especialmente na região algarvia, e, com ela, a ameaça de seca severa nas nossas barragens, com tudo o que de nefasto isso implica.

Trata-se de um fenómeno geoclimático claramente agravado pelas alterações atmosféricas verificadas nos últimos tempos e não sei muito bem como poderá ser revertido. Nem natural nem artificialmente.

O que sei por experiência própria, pois já o senti literalmente na pele em outras ocasiões, é que a coisa pode ficar bastante complicada (cada vez mais complicada…), mesmo que vá caindo uns aguaceiros aqui e umas chuvadas ali.

Por estas ocasiões, é habitual os representantes das chamadas ‘entidades responsáveis’ exercitarem a sua prerrogativa de exigir às mais altas instâncias «medidas de apoio», sobretudo dirigidas à Agricultura, mas também para o Turismo.

Essas «medidas de apoio» resumem-se, na maioria das vezes, a verbas destinadas a atenuar o aumento dos custos de produção e a criar algum tipo de facilidades no que toca a linhas de crédito e afins. Portanto, e do meu ponto de vista, mais não fazem – as medidas – que salpicar as nossas hortas e ‘resorts’ de euros. E nada mais.

Entretanto, desde há cerca de dois anos, a malfadada pandemia agravou violentamente um cenário económico e social já de si nada auspicioso, o que veio dar uma forte machadada no setor turístico, do qual o Algarve em tanto depende para a sua subsistência.

Sendo assim, receio estar-se a formar uma ‘tempestade perfeita’ entre a atual crise sanitária (longe de resolvida) e os desafios climáticos (insanáveis), atingindo diretamente a Agricultura, um dos poucos segmentos económicos que poderiam contrabalançar a imprevisibilidade tão ligada à indústria do Turismo, no sentido de diversificar as fontes de rendimento dos algarvios.

De resto, Agricultura e Pescas já tiveram preponderância económica na região, de que poucos se recordarão… até que chegou o Turismo e, pouco depois, políticas suicidas e insensatas foram impingidas.

Então, e face à realidade, como ultrapassar este melindroso momento e edificar uma economia mais saudável, mais abrangente e mais resiliente a crises como a que estamos a viver? Mais: de que forma se deve enfrentar a endémica escassez de água e seu abastecimento?

No rol das perguntas, e se me permitem, coloco-vos mais estas: que estratégias poderão ser desenvolvidas para mitigar os impactos nefastos que a falta de água tem entre nós? A construção de centrais de dessalinização e a criação de bacias de retenção e redes de transvases, ou mesmo certas inovações tecnológicas, poderão ser a resposta? De onde virão os avultados recursos financeiros para dar, quanto antes, passos nesse sentido? As potências económicas da União Europeia estarão dispostas a abrir os cordões à bolsa, dando a mão aos países da bacia mediterrânica, que continuam a ser vistos como sociedades intelectualmente inferiores?...

Respostas precisam-se!