à Deriva
Fernando Vieira
G’anda seca
- Partilhar 07/02/2022
Entrados em fevereiro,
volta às manchetes a eventual escassez de água no
Sul, especialmente na região algarvia, e, com ela, a
ameaça de seca severa nas nossas barragens, com tudo
o que de nefasto isso implica.
Trata-se de um
fenómeno geoclimático claramente agravado pelas
alterações atmosféricas verificadas nos últimos
tempos e não sei muito bem como poderá ser
revertido. Nem natural nem artificialmente.
O
que sei por experiência própria, pois já o senti
literalmente na pele em outras ocasiões, é que a
coisa pode ficar bastante complicada (cada vez mais
complicada…), mesmo que vá caindo uns aguaceiros
aqui e umas chuvadas ali.
Por estas ocasiões,
é habitual os representantes das chamadas ‘entidades
responsáveis’ exercitarem a sua prerrogativa de
exigir às mais altas instâncias «medidas de apoio»,
sobretudo dirigidas à Agricultura, mas também para o
Turismo.
Essas «medidas de apoio» resumem-se,
na maioria das vezes, a verbas destinadas a atenuar
o aumento dos custos de produção e a criar algum
tipo de facilidades no que toca a linhas de crédito
e afins. Portanto, e do meu ponto de vista, mais não
fazem – as medidas – que salpicar as nossas hortas e
‘resorts’ de euros. E nada mais.
Entretanto,
desde há cerca de dois anos, a malfadada pandemia
agravou violentamente um cenário económico e social
já de si nada auspicioso, o que veio dar uma forte
machadada no setor turístico, do qual o Algarve em
tanto depende para a sua subsistência.
Sendo
assim, receio estar-se a formar uma ‘tempestade
perfeita’ entre a atual crise sanitária (longe de
resolvida) e os desafios climáticos (insanáveis),
atingindo diretamente a Agricultura, um dos poucos
segmentos económicos que poderiam contrabalançar a
imprevisibilidade tão ligada à indústria do Turismo,
no sentido de diversificar as fontes de rendimento
dos algarvios.
De resto, Agricultura e Pescas
já tiveram preponderância económica na região, de
que poucos se recordarão… até que chegou o Turismo
e, pouco depois, políticas suicidas e insensatas
foram impingidas.
Então, e face à realidade,
como ultrapassar este melindroso momento e edificar
uma economia mais saudável, mais abrangente e mais
resiliente a crises como a que estamos a viver?
Mais: de que forma se deve enfrentar a endémica
escassez de água e seu abastecimento?
No rol
das perguntas, e se me permitem, coloco-vos mais
estas: que estratégias poderão ser desenvolvidas
para mitigar os impactos nefastos que a falta de
água tem entre nós? A construção de centrais de
dessalinização e a criação de bacias de retenção e
redes de transvases, ou mesmo certas inovações
tecnológicas, poderão ser a resposta? De onde virão
os avultados recursos financeiros para dar, quanto
antes, passos nesse sentido? As potências económicas
da União Europeia estarão dispostas a abrir os
cordões à bolsa, dando a mão aos países da bacia
mediterrânica, que continuam a ser vistos como
sociedades intelectualmente inferiores?...
Respostas precisam-se!
- n.33 • fevereiro 2022