Fernando Correia

Crónica

Fernando Correia

A MANIA DAS GRANDEZAS

A Jornada Mundial da Juventude vai trazer a Portugal o Papa Francisco, enquanto representante máximo da igreja Católica e enquanto símbolo do sofrimento de Jesus Cristo, dito filho de Deus, na sua passagem mensageira e transformadora pela Terra, e vai trazer também milhares de jovens, muitos deles acompanhados pelos seus familiares, que comungam dos mesmos ideais de paz, concórdia, amor pelo próximo e crescimento espiritual.

Serão jornadas de fé e de manifestação da unicidade de Deus com os Seres Humanos, percebendo-se ser uma ocasião abençoada para se preparar o Mundo para um futuro melhor, mais digno e de maior transparência.

Francisco já manifestou, por diversas vezes, a sua identificação com os mais pobres, com os desprotegidos pela sociedade, com os marginalizados, com os que sofrem por estarem sós, por não terem trabalho, por não terem casa, por não terem quem olhe por eles e para eles.

Para além dessas manifestações e do seu interesse em querer uma vida pessoal afastada de riquezas e de pompas, afinal mais de acordo com a religião Católica e com a palavra de Jesus, Francisco pôs de parte a ostentação do Vaticano, desde a sua morada às suas vestes, até à forma como se faz transportar e às mensagens que a sua voz irradia, sempre em favor dos mais desfavorecidos.

É nessa zona da sociedade civil que ele se sente bem e é por esse tipo de sofrimento que mais deseja espalhar a sua palavra e nas encíclicas a que dá visibilidade exterior, existem sempre sinais de humildade e de aperfeiçoamento interior.

Por esta razões, não pode estar feliz ao saber que só o palco-altar a construir para a Jornada Mundial da Juventude, onde ele será o personagem principal, vai custar cinco milhões de euros (fora o resto) ao erário público português, acrescentando ainda os custos inerentes à sua deslocação, à sua permanência e às suas outras visitas programadas. A estimativa das despesas relativas à deslocação papal e de tudo o que a envolve anda pelos 160 milhões de euros.

Curiosamente, ou não, porque nada acontece por acaso, Deus transmitiu um aviso a Portugal, deixando-o ao frio do Inverno e Lisboa (temperada por natureza) a viver uma experiência gelada, sobretudo para os sem-abrigo da cidade que ganharam a bondade temporária do Município (o dos 5 milhões para o palco-altar) ao mandar abrir, durante a noite, algumas estações de metro para eles pernoitarem e facultando-lhes, até, a utilização de um pavilhão desportivo, contendo algumas dezenas de camas, a fim de os albergar por uns dias.

Quando o frio abrandar, fecha-se o Pavilhão Desportivo e as estações de metro encerram as suas portas.

Neste momento e por tal razão estará o Papa Francisco a pensar o mesmo que muitos de nós: os cinco milhões de euros (fora o resto, num total de 160 milhões) davam e sobravam para construir infraestruturas destinadas a albergar os sem-abrigo da cidade, em zonas devolutas ou expectantes de Lisboa, suficientes para diminuir a desgraça em que caíram pelas mais diversas razões.

E dava para comprar camas funcionais, almofadas, lençóis e cobertores. Não daria a bondade social para lhes enxugar as lágrimas, mas certamente iriam sentir que alguém se preocupava com eles.

E o Papa Francisco ficaria feliz a abençoar os jovens que virão de várias partes do Mundo, num palco-altar, mesmo raso ao chão, com flores portugueses ao seu redor, que custasse o preço da dignidade e do bom senso.

Jesus foi pregado numa Cruz e deu ao Mundo o exemplo do seu sofrimento. Como que criou um palco natural do tamanho do Universo para albergar a fé dos Homens.

FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Escritor)