Fernando Correia

Crónica

Fernando Correia

Roubar para não ter fome

Os supermercados estão a colocar alarmes nalguns produtos alimentares que são, ao que dizem, facilmente subtraídos às caixas de pagamento.
Conservas, congelados, queijos, manteiga, leite e por aí adiante, desde que facilmente manobráveis, são produtos que têm sidos desviados por gente com fome, por pessoas no limiar da pobreza, ou por mães que não têm nada para os filhos comerem e que já os mandam à Escola mais para eles comerem uma refeição quente por dia, do que para aprender as letras e as contas.

É um Portugal triste este em que vivemos.
É um lugar disfarçado de País, com ricos e pobres, portanto sem a produtiva classe média que faz avançar a economia.
É um pedaço da União Europeia sem bases de sustentação para resistir ao efeito “boomerang” das sanções impostas aos que fazem a guerra.

Os ricos “enchem–se” com os fundos europeus (está na moda), com desvios, espertezas, subtilezas, dinheiro empresta(da)do pelos bancos, negócios de exploração do próximo ou do desprevenido, compadrios familiares e empregos partidários.
A classe média vive uma pobreza envergonhada, fazendo números constantes de equilibrismo para resistir às exigências dos trinta dias do mês.
Os pobres pedem dinheiro nas ruas, acorrem às ajudas alimentares das organizações que existem para o efeito, dormem ao relento e, algumas vezes, recorrem aos supermercados para disfarçar a fome.

E nós? Os que somos apenas números? Os que não importamos?
Disfarçamos. Sofremos. Escondemos. Resistimos.

Quando eu tiver fome e roubar para comer, só consinto em ser preso se os outros que roubam de barriga cheia forem presos também.

FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Escritor)