Fernando Correia

Crónica

Fernando Correia

A FESTA EM DOWNING STREET

Convenhamos que o número 10 de Downing Street, em Londres, tem muita história para contar, essencialmente por ser a residência oficial do “Prime Minister” e porque as paredes daquela casa secular ocultam muitos segredos e são fiéis depositárias de acontecimentos que, provavelmente, não deviam ter acontecido.
A fama não vem de agora. Em 1530 já havia rua e já havia casas, embora a que tinha o número 10 fosse partilhada com outras três habitações, todas resultantes da construção idealizada por George Downing.
A partir de 1732, as três casas deram lugar a uma casa só que passou a ser a residência e escritório do Lord do Tesouro, ao mesmo tempo considerado Primeiro Ministro.
Chamavam – lhe a “casa dos fundos” e actualmente podem, até, vir a chamar – lhe mais qualquer coisa, depois de o ex – jornalista Boris Johsson ter tomado conta do poder, desafiando o poder da União Europeia, e deixando história escrita no seu país pelos piores motivos ou, pelo menos, os não desejáveis pela maioria britânica escondida ou distraída.
Esta célebre casa de Westmisnter - que dá para St. James Park – sofreu um abalo político quando o desgrenhado Boris promoveu uma festa em “sua” casa, no mês de Maio de 2020, durante o rigoroso confinamento a que obrigara os pares do reino e os cidadãos comuns, através de uma fiscalização rigorosa e dura e no meio de centenas de mortes provocadas pelo “covid”.
Pois, nos jardins de Downing Street houve uma festa (sabe – se lá porquê) e os convidados até levaram bebidas porque a sede, em Londres, é sempre muita.
Boris esteve presente porque “pensava que era um evento de trabalho” e, talvez por isso, até se apresentou com uma fatiota ligeira que mais parecia um fato de treino!
Desde aí, os Trabalhistas nunca mais lhe deram descanso, apoiados na razão política e social que tinham, e agora, no Parlamento obrigaram Boris a retratar – se.
O Primeiro Ministro pediu desculpa e apresentou razões esfarrapadas para o seu consentimento e para a sua presença.
Ficou mal na explicação dada que ainda foi pior do que se tivesse ficado calado e abriu uma brecha profunda no seu “reinado”.
Aquela cabelo loiro, artisticamente despenteado, já não disfarça nada; já não significa “saudável loucura”; já não traduz um “homem desalinhado”; já não serve de desculpa nem de retrato.
Boris foi incompetente. Mais uma vez.
Por isso, o líder do Partido Trabalhista, Sir Keir Starmer, lhe disse o seguinte em pleno Parlamento: “(…)Será o povo a expulsá – lo; será o seu Partido a expulsá – lo: ou será o senhor a demitir – se. Não tem outra solução (…)”
E Boris é capaz de não ter mesmo outra solução.