Crónica
Fernando Correia
A FESTA EM DOWNING STREET
- Partilhar 13/01/2022
Convenhamos que
o número 10 de Downing Street, em Londres,
tem muita história para contar,
essencialmente por ser a residência oficial
do “Prime Minister” e porque as paredes
daquela casa secular ocultam muitos segredos
e são fiéis depositárias de acontecimentos
que, provavelmente, não deviam ter
acontecido.
A fama não vem de agora. Em
1530 já havia rua e já havia casas, embora a
que tinha o número 10 fosse partilhada com
outras três habitações, todas resultantes da
construção idealizada por George Downing.
A partir de 1732, as três casas deram lugar
a uma casa só que passou a ser a residência
e escritório do Lord do Tesouro, ao mesmo
tempo considerado Primeiro Ministro.
Chamavam – lhe a “casa dos fundos” e
actualmente podem, até, vir a chamar – lhe
mais qualquer coisa, depois de o ex –
jornalista Boris Johsson ter tomado conta do
poder, desafiando o poder da União Europeia,
e deixando história escrita no seu país
pelos piores motivos ou, pelo menos, os não
desejáveis pela maioria britânica escondida
ou distraída.
Esta célebre casa de
Westmisnter - que dá para St. James Park –
sofreu um abalo político quando o
desgrenhado Boris promoveu uma festa em
“sua” casa, no mês de Maio de 2020, durante
o rigoroso confinamento a que obrigara os
pares do reino e os cidadãos comuns, através
de uma fiscalização rigorosa e dura e no
meio de centenas de mortes provocadas pelo
“covid”.
Pois, nos jardins de Downing
Street houve uma festa (sabe – se lá porquê)
e os convidados até levaram bebidas porque a
sede, em Londres, é sempre muita.
Boris
esteve presente porque “pensava que era um
evento de trabalho” e, talvez por isso, até
se apresentou com uma fatiota ligeira que
mais parecia um fato de treino!
Desde aí,
os Trabalhistas nunca mais lhe deram
descanso, apoiados na razão política e
social que tinham, e agora, no Parlamento
obrigaram Boris a retratar – se.
O
Primeiro Ministro pediu desculpa e
apresentou razões esfarrapadas para o seu
consentimento e para a sua presença.
Ficou mal na explicação dada que ainda foi
pior do que se tivesse ficado calado e abriu
uma brecha profunda no seu “reinado”.
Aquela cabelo loiro, artisticamente
despenteado, já não disfarça nada; já não
significa “saudável loucura”; já não traduz
um “homem desalinhado”; já não serve de
desculpa nem de retrato.
Boris foi
incompetente. Mais uma vez.
Por isso, o
líder do Partido Trabalhista, Sir Keir
Starmer, lhe disse o seguinte em pleno
Parlamento: “(…)Será o povo a expulsá – lo;
será o seu Partido a expulsá – lo: ou será o
senhor a demitir – se. Não tem outra solução
(…)”
E Boris é capaz de não ter mesmo
outra solução.
- n.32 • janeiro 2022