Memórias do Futuro
Fábio d'Abadia de Sousa
O melhor presente de Natal para a humanidade
- Partilhar 11/01/2022
Para Carl Sagan, astrônomo cujas palavras me fizeram um apaixonado pelas estrelas e de quem eu me lembrei muito enquanto o James Webb era lançado.
Um presente avaliado em
quase US$ 9 bilhões (7,9 mil milhões de
euros). Foi isso que a
humanidade ganhou no dia 25 de dezembro de
2021, com o lançamento do telescópio James
Webb rumo ao espaço. Foi um momento de
grande emoção para quem é aficionado pelas
descobertas relacionadas ao Universo e que
acompanhou, ao vivo, da base espacial na
Guiana Francesa - bem pertinho do Brasil - a
transmissão feita pela NASA, a Agência
Espacial Norte-Americana. Num momento em que
nós, seres humanos, sofremos com a pandemia
de corona vírus e em que o futuro parece
incerto, o James Web leva para sua órbita a
1.5 milhões de quilômetros da Terra (a ser
atingida em dois meses e meio) a esperança
de que o amanhã vai ser de descobertas
fascinantes e de superação de medos e
tragédias.
Na pior das hipóteses, o
James Webb já nos provoca a fazer
redescobertas fascinantes. A
mais importante delas é que, quando
trabalhamos em coletividade, temos mais
chances de obter sucesso.
Milhares de pessoas de dezenas de países e
línguas foram essenciais para que o mais
potente telescópio da história fosse lançado
ao espaço. Além de pessoas da
NASA, também estiveram envolvidos
cientistas, engenheiros da ESA (Agência
Espacial Europeia) e da CSA (Agência
Espacial Canadense), além de uma quantidade
imensa de trabalhadores de empresas
terceirizadas.
Logo no início da
transmissão, a âncora do programa, a
astrônoma da NASA Michelle Lynn Thaller,
ressaltou: “Today, humanity begins its next
bold adventure to extend ourselves out into
the Cosmos. This
is something we do as a whole planet, all of
us, together!”
(Hoje, a humanidade começa a sua próxima e
ousada aventura para nos alçarmos em direção
ao Cosmos. E isso é algo que nós fazemos em
união com todo o planeta, todos nós,
juntos!).
Enquanto chamava alguns
dos trabalhadores envolvidos na construção
do James Webb, para falarem de alguns dos
desafios superados para que o telescópio
pudesse ser lançado, a cientista da NASA
explicou: “Thousands of people from all
around the world have worked for years to
allow today’s launch.
(...) Without a doubt
this is the most complex spacecraft ever
built (...)”
(Milhares de pessoas de todo o mundo
trabalharam por anos, para possibilitarem o
lançamento de hoje. (...) Sem dúvidas esta é
mais a complexa nave espacial jamais
construída (...)).
As expectativas em
relação ao desempenho do James Webb são
enormes, uma vez que ele está dotado de
excepcional capacidade para registrar
imagens captadas em radiação infravermelha,
o que permitirá que ele “enxergue” bem mais
longe do que o telescópio Hubble,
atualmente, o mais potente “olho” da
humanidade rumo às estrelas. Através do seu
“ultra deep field” (ultra campo de visão
profunda), o Hubble conseguiu captar imagens
de milhares de galáxias a mais de 5 bilhões
de anos luz da terra. O
otimismo dos cientistas prevê que o James
Webb consiga “ver” as primeiras galáxias
criadas no Universo, há mais de treze
bilhões de anos. Os astrônomos sonham também
com outras façanhas incríveis, como captar
imagens nítidas do buraco negro no centro da
nossa galáxia-mãe: o Sagittarius A*
(pronuncia-se Sagittarius A-estrela).
Ao focar suas lentes rumo a
um passado tão distante através do Universo,
os cientistas pretendem que o James Webb, na
verdade, possa buscar mais repostas para o
futuro da humanidade que, certamente,
conforme apregoava o brilhante astrônomo
Carl Sagan (1934-1996) estão lá só nos
esperando no grande “oceano cósmico”. Tudo o
que temos que fazer é nos unirmos e, sempre
juntos, caminharmos rumo ao infinito das
estrelas, o enorme e ainda desconhecido
quintal da nossa casa!
- n.32 • janeiro 2022