Fábio d'Abadia de Sousa

Memórias do Futuro

Fábio d'Abadia de Sousa

O melhor presente de Natal para a humanidade

Para Carl Sagan, astrônomo cujas palavras me fizeram um apaixonado pelas estrelas e de quem eu me lembrei muito enquanto o James Webb era lançado.

Um presente avaliado em quase US$ 9 bilhões (7,9 mil milhões de euros).  Foi isso que a humanidade ganhou no dia 25 de dezembro de 2021, com o lançamento do telescópio James Webb rumo ao espaço. Foi um momento de grande emoção para quem é aficionado pelas descobertas relacionadas ao Universo e que acompanhou, ao vivo, da base espacial na Guiana Francesa - bem pertinho do Brasil - a transmissão feita pela NASA, a Agência Espacial Norte-Americana. Num momento em que nós, seres humanos, sofremos com a pandemia de corona vírus e em que o futuro parece incerto, o James Web leva para sua órbita a 1.5 milhões de quilômetros da Terra (a ser atingida em dois meses e meio) a esperança de que o amanhã vai ser de descobertas fascinantes e de superação de medos e tragédias.

Na pior das hipóteses, o James Webb já nos provoca a fazer redescobertas fascinantes.  A mais importante delas é que, quando trabalhamos em coletividade, temos mais chances de obter sucesso.  Milhares de pessoas de dezenas de países e línguas foram essenciais para que o mais potente telescópio da história fosse lançado ao espaço.  Além de pessoas da NASA, também estiveram envolvidos cientistas, engenheiros da ESA (Agência Espacial Europeia) e da CSA (Agência Espacial Canadense), além de uma quantidade imensa de trabalhadores de empresas terceirizadas.

Logo no início da transmissão, a âncora do programa, a astrônoma da NASA Michelle Lynn Thaller, ressaltou: “Today, humanity begins its next bold adventure to extend ourselves out into the Cosmos.
This is something we do as a whole planet, all of us, together!” (Hoje, a humanidade começa a sua próxima e ousada aventura para nos alçarmos em direção ao Cosmos. E isso é algo que nós fazemos em união com todo o planeta, todos nós, juntos!).

Enquanto chamava alguns dos trabalhadores envolvidos na construção do James Webb, para falarem de alguns dos desafios superados para que o telescópio pudesse ser lançado, a cientista da NASA explicou: “Thousands of people from all around the world have worked for years to allow today’s launch.
(...) Without a doubt this is the most complex spacecraft ever built (...)” (Milhares de pessoas de todo o mundo trabalharam por anos, para possibilitarem o lançamento de hoje. (...) Sem dúvidas esta é mais a complexa nave espacial jamais construída (...)).

As expectativas em relação ao desempenho do James Webb são enormes, uma vez que ele está dotado de excepcional capacidade para registrar imagens captadas em radiação infravermelha, o que permitirá que ele “enxergue” bem mais longe do que o telescópio Hubble, atualmente, o mais potente “olho” da humanidade rumo às estrelas. Através do seu “ultra deep field” (ultra campo de visão profunda), o Hubble conseguiu captar imagens de milhares de galáxias a mais de 5 bilhões de anos luz da terra.  O otimismo dos cientistas prevê que o James Webb consiga “ver” as primeiras galáxias criadas no Universo, há mais de treze bilhões de anos. Os astrônomos sonham também com outras façanhas incríveis, como captar imagens nítidas do buraco negro no centro da nossa galáxia-mãe: o Sagittarius A* (pronuncia-se Sagittarius A-estrela).

Ao focar suas lentes rumo a um passado tão distante através do Universo, os cientistas pretendem que o James Webb, na verdade, possa buscar mais repostas para o futuro da humanidade que, certamente, conforme apregoava o brilhante astrônomo Carl Sagan (1934-1996) estão lá só nos esperando no grande “oceano cósmico”. Tudo o que temos que fazer é nos unirmos e, sempre juntos, caminharmos rumo ao infinito das estrelas, o enorme e ainda desconhecido quintal da nossa casa!