Cante na Alma
Desidério Lucas do Ó
"Cante an Menino" de Vila
de Frades
" O Natal não era
uma grande festa comparada com o entrudo.
Mas sempre se fazia o presépio na igreja,
para o qual íamos buscar musgo ao Olival da
Casa e a descida do menino de Jesus pela
chaminé também era excitante. Uma prendinha
e já era um pau, um automóvel miniatura, sem
motor, mas disso tratávamos nós.
O
momento mais solene era o "cante an Menino",
em casa, ou melhor ainda, quando os homens
vinham bater à nossa porta e começavam a
cantar. A excitação era enorme entre mim e a
minha irmã, porque, na última quadra os
homens cantavam : " senhora dona de casa,
deixe-se estar que está bem/ mande-nos dar a
esmola/ p'lo filhinho (ou filhinha que aí
tem" e nós os dois, em pulgas, a disputar a
honra de lhes ir entregar a linguiça...
Depois o meu pai mandava entrar os homens e
todos bebiam um copo de aguardente ao pé do
lume."
E lá iam eles bater a outra porta
que o tempo era de miséria e a Guarda
proibia o cante na rua."
Obrigado, boas
festas e um forte abraço para todos.
Desidério
- n.31 • dezembro 2021