Desidério Lucas do Ó

Cante na Alma

Desidério Lucas do Ó

"Cante an Menino" de Vila de Frades


" O Natal não era uma grande festa comparada com o entrudo. Mas sempre se fazia o presépio na igreja, para o qual íamos buscar musgo ao Olival da Casa e a descida do menino de Jesus pela chaminé também era excitante. Uma prendinha e já era um pau, um automóvel miniatura, sem motor, mas disso tratávamos nós.
O momento mais solene era o "cante an Menino", em casa, ou melhor ainda, quando os homens vinham bater à nossa porta e começavam a cantar. A excitação era enorme entre mim e a minha irmã, porque, na última quadra os homens cantavam : " senhora dona de casa, deixe-se estar que está bem/ mande-nos dar a esmola/ p'lo filhinho (ou filhinha que aí tem" e nós os dois, em pulgas, a disputar a honra de lhes ir entregar a linguiça... Depois o meu pai mandava entrar os homens e todos bebiam um copo de aguardente ao pé do lume."
E lá iam eles bater a outra porta que o tempo era de miséria e a Guarda proibia o cante na rua."
Obrigado, boas festas e um forte abraço para todos.
Desidério