Espelho Cinemático
Daniela Graça
Top Gun: Maverick (2022)
- Partilhar 06/06/2022
Trinta e seis anos depois da estreia de
Top Gun - Ases Indomáveis Tom Cruise
volta a encarnar o mítico piloto Pete
“Maverick” Mitchell, papel que lançou o ator
para a estratosfera e o estabeleceu como uma
estrela entre as estrelas. Durante anos
Cruise recusou-se a fazer uma sequela para o
original de 1986, mas depois do realizador
Joseph Kosinski lhe ter apresentado o
argumento, movido pela relação de Maverick e
o filho de Goose, o ator foi finalmente
convencido. Tom Cruise e Val Kilmer retomam
os papéis originais e junta-se ao elenco
Miles Teller, Jennifer Connely, Jon Hamm,
Glen Powell, Monica Barbaro, Lewis Pullman e
Ed Harris.
Top Gun: Maverick
foi exibido pela primeira vez no festival de
Cannes a 17 de maio onde obteve uma receção
positiva e valeu a Cruise uma Palma de Ouro
honorária. O filme estreou em Portugal a 26
de maio e alcançou sucesso comercial a nível
mundial, tornando-se o filme com maior
receita de bilhetaria na carreira de Cruise.
Em Top Gun: Maverick
reencontramos Maverick como um piloto de
testes, um verdadeiro ás que se destaca
entre os melhores pilotos da Marinha e
ultrapassa limites com um talento inegável.
Apesar de ter sido condecorado com várias
distinções pelos seus feitos ao longo de
mais trinta anos de serviço, Maverick nunca
subiu na hierarquia da Marinha e continua a
ser só um capitão, o que lhe permite
continuar a voar em serviço. Devido à
importância e improbabilidade de sucesso de
uma missão especial, Maverick regressa à
academia Top Gun, mas desta vez no papel de
instrutor. Foi feita uma seleção dos
melhores pilotos da Marinha para aprenderem
sob a tutela de Maverick e entre estes
encontra-se Bradley “Rooster” Bradshaw
(Miles Teller), filho do falecido melhor
amigo de Maverick, Nick “Goose” Bradshaw
(Anthony Edwards). O relacionamento entre
Maverick e Rooster é turbulento e
conflituoso devido à tentativa de Maverick
de manter Rooster fora da Marinha e longe do
perigo.
No cerne da questão que move
a narrativa do filme está o desejo que
Maverick tem de ser uma figura paternal para
Rooster e de o proteger de uma morte
antecipada; a culpa que sente pela morte de
Goose e o fardo de enviar jovens para uma
missão mortífera na qual muitos poderão
perder a vida.
Mais de trinta anos
depois do original, Top Gun: Maverick
pode ser uma das melhores sequelas algumas
vez feitas. A nova geração de pilotos é tão
arrogante, confiante e audaz como a
primeira, desafiam-se uns aos outros à
primeira chance que têm, mas o sentido de
camaradagem une-os ao final do dia. O filme
faz paralelos e referências diretas ao
original e reitera o sentido de humor, a
música icónica e o espírito juvenil e
imparável que definem Top Gun, tendo
até recriado montagens icónicas como a
montagem introdutória e a montagem do jogo
de volleyball na praia, sendo desta vez
futebol americano durante o pôr-de-sol e em
contraluz. É um filme que entende o poder da
influência que o original tem na cultura
popular e que percebe como reavivar o mito
da personagem de Maverick sem a banalizar.
Os relacionamentos entre as personagens
conduzem a ação, mas Top Gun: Maverick
mantem-se preso ao cânone estabelecido e
previsível do género de ação. Os adversários
são os “maus”, tal como no original trata-se
de um inimigo cuja identidade e
nacionalidade é omitida ao público, apenas
interessa o foco nos “bons”, nos heróicos e
valentes pilotos. O romance é obrigatório,
como é de esperar de um filme de ação deste
calibre, e desta vez o interesse romântico é
a Penny (Jennifer Connely), que apesar de
ser um ótimo ombro amigo para Maverick, a
química com o mesmo é por vezes algo
insípida e fica muito aquém do romance
original de Top Gun com Charlie (Kelly
McGills).
Mas o que torna Top Gun:
Maverick tão formidável é o aspeto
técnico por detrás da pilotagem dos caças.
As manobras e voos são reais e as reações do
elenco genuínas. Tom Cruise, conhecido fazer
as próprias acrobacias nos filmes e não
utilizar duplos, queria autenticidade e
realismo na sequela de Top Gun. O
ator formulou um plano de treinos para
preparar os atores a suportarem a força G e
os voos nos caças F-18. Óbvio que os atores
não pilotaram os caças, mas voaram nos
mesmos no lugar do pendura enquanto os
pilotos verdadeiros da Marinha faziam as
manobras. Foram necessário meses de treino e
foram investidos milhões de dólares para
alugarem os caças F-18. Foi necessário um
excelente trabalho de equipa e coordenação
entre atores (que tinham de controlar as
câmaras nos cockpits) e o resto da equipa
técnica para obterem boas filmagens de
dentro do cockpit.
Isto resultou em
montagens de voos viscerais e realistas, em
que o poder bruto destas máquinas e o
impacto que a gravidade tem no corpo humano
prevalecem e espantam os espetadores. As
sensações alcançadas nestas cenas de ação
dificilmente serão desmerecidas até pelo
mais impiedoso crítico.
Top Gun:
Maverick veio para dominar as salas de
cinema, é um filme do mais puro e aliciante
entretenimento que relembra a saudosa era de
quando os filmes de ação não eram filmados
maioritariamente com green screens. É
um filme que promete maravilhar desde os fãs
mais ardentes até à geração mais jovem.
Classificação: ★★★★
- n.37 • junho 2022