Daniela Graça

Espelho Cinemático

Daniela Graça

Top Gun: Maverick (2022)

Trinta e seis anos depois da estreia de Top Gun - Ases Indomáveis Tom Cruise volta a encarnar o mítico piloto Pete “Maverick” Mitchell, papel que lançou o ator para a estratosfera e o estabeleceu como uma estrela entre as estrelas.  Durante anos Cruise recusou-se a fazer uma sequela para o original de 1986, mas depois do realizador Joseph Kosinski lhe ter apresentado o argumento, movido pela relação de Maverick e o filho de Goose, o ator foi finalmente convencido. Tom Cruise e Val Kilmer retomam os papéis originais e junta-se ao elenco Miles Teller, Jennifer Connely, Jon Hamm, Glen Powell, Monica Barbaro, Lewis Pullman e Ed Harris.

Top Gun: Maverick foi exibido pela primeira vez no festival de Cannes a 17 de maio onde obteve uma receção positiva e valeu a Cruise uma Palma de Ouro honorária. O filme estreou em Portugal a 26 de maio e alcançou sucesso comercial a nível mundial, tornando-se o filme com maior receita de bilhetaria na carreira de Cruise.  

Em Top Gun: Maverick reencontramos Maverick como um piloto de testes, um verdadeiro ás que se destaca entre os melhores pilotos da Marinha e ultrapassa limites com um talento inegável. Apesar de ter sido condecorado com várias distinções pelos seus feitos ao longo de mais trinta anos de serviço, Maverick nunca subiu na hierarquia da Marinha e continua a ser só um capitão, o que lhe permite continuar a voar em serviço. Devido à importância e improbabilidade de sucesso de uma missão especial, Maverick regressa à academia Top Gun, mas desta vez no papel de instrutor. Foi feita uma seleção dos melhores pilotos da Marinha para aprenderem sob a tutela de Maverick e entre estes encontra-se Bradley “Rooster” Bradshaw (Miles Teller), filho do falecido melhor amigo de Maverick, Nick “Goose” Bradshaw (Anthony Edwards). O relacionamento entre Maverick e Rooster é turbulento e conflituoso devido à tentativa de Maverick de manter Rooster fora da Marinha e longe do perigo.

No cerne da questão que move a narrativa do filme está o desejo que Maverick tem de ser uma figura paternal para Rooster e de o proteger de uma morte antecipada; a culpa que sente pela morte de Goose e o fardo de enviar jovens para uma missão mortífera na qual muitos poderão perder a vida.

Mais de trinta anos depois do original, Top Gun: Maverick pode ser uma das melhores sequelas algumas vez feitas. A nova geração de pilotos é tão arrogante, confiante e audaz como a primeira, desafiam-se uns aos outros à primeira chance que têm, mas o sentido de camaradagem une-os ao final do dia. O filme faz paralelos e referências diretas ao original e reitera o sentido de humor, a música icónica e o espírito juvenil e imparável que definem Top Gun, tendo até recriado montagens icónicas como a montagem introdutória e a montagem do jogo de volleyball na praia, sendo desta vez futebol americano durante o pôr-de-sol e em contraluz. É um filme que entende o poder da influência que o original tem na cultura popular e que percebe como reavivar o mito da personagem de Maverick sem a banalizar.

Os relacionamentos entre as personagens conduzem a ação, mas Top Gun: Maverick mantem-se preso ao cânone estabelecido e previsível do género de ação. Os adversários são os “maus”, tal como no original trata-se de um inimigo cuja identidade e nacionalidade é omitida ao público, apenas interessa o foco nos “bons”, nos heróicos e valentes pilotos. O romance é obrigatório, como é de esperar de um filme de ação deste calibre, e desta vez o interesse romântico é a Penny (Jennifer Connely), que apesar de ser um ótimo ombro amigo para Maverick, a química com o mesmo é por vezes algo insípida e fica muito aquém do romance original de Top Gun com Charlie (Kelly McGills).

Mas o que torna Top Gun: Maverick tão formidável é o aspeto técnico por detrás da pilotagem dos caças. As manobras e voos são reais e as reações do elenco genuínas. Tom Cruise, conhecido fazer as próprias acrobacias nos filmes e não utilizar duplos, queria autenticidade e realismo na sequela de Top Gun. O ator formulou um plano de treinos para preparar os atores a suportarem a força G e os voos nos caças F-18. Óbvio que os atores não pilotaram os caças, mas voaram nos mesmos no lugar do pendura enquanto os pilotos verdadeiros da Marinha faziam as manobras. Foram necessário meses de treino e foram investidos milhões de dólares para alugarem os caças F-18. Foi necessário um excelente trabalho de equipa e coordenação entre atores (que tinham de controlar as câmaras nos cockpits) e o resto da equipa técnica para obterem boas filmagens de dentro do cockpit.

Isto resultou em montagens de voos viscerais e realistas, em que o poder bruto destas máquinas e o impacto que a gravidade tem no corpo humano prevalecem e espantam os espetadores. As sensações alcançadas nestas cenas de ação dificilmente serão desmerecidas até pelo mais impiedoso crítico. 

Top Gun: Maverick veio para dominar as salas de cinema, é um filme do mais puro e aliciante entretenimento que relembra a saudosa era de quando os filmes de ação não eram filmados maioritariamente com green screens. É um filme que promete maravilhar desde os fãs mais ardentes até à geração mais jovem. 

Classificação: ★★★★