Neurociência educacional
Amauri Betini Bartoszeck*
A aprendizagem e as Artes Visuais podem articular-se?
- Partilhar 23/01/2022
O cérebro humano é o
organizador das experiências vividas,
das percepções estéticas, linguagem,
emoções e da tomada de decisões ao
longo da vida. Os estímulos ambientais
exteriores e os no interior do
organismo acionam recetores
específicos, codificados em frequência
de impulsos elétricos e que são
conduzidos ao cérebro, que os
interpreta, memoriza e responde com uma
ação. Alguns autores alegam que o
hemisfério esquerdo do cérebro está
envolvido com a atividade verbal, com
letras, números e sequências e por sua
vez, o hemisfério direito com sons
produzidos por instrumentos musicais,
sons onomatopeicos, formas, cores com
relevância para o “cérebro japonês”
(1). Pela propriedade da
neuroplasticidade, particularmente no
desenvolvimento do sistema nervoso, o
uso continuado do órgão ele se
desenvolve, adapta-se ao novo e
transforma-se estruturalmente, mesmo em
adultos idosos. É o fenómeno pelo qual
a aprendizagem e a experiência
modificam continuamente o cérebro. É um
órgão com notável “plasticidade”.
Este texto visa explorar uma
intersecção entre a ciência cognitiva,
a aprendizagem e artes visuais. A
arte visual para a pessoa é um esforço
de habilidade e imaginação, mas no
sentido mais amplo, é uma forma de
comunicação. Muitos indivíduos com
incapacidade no desenvolvimento,
utilizam a arte para melhorar a sua
autoestima, individualidade e a
expressão criativa. Procura
conhecer melhor a ciência da
aprendizagem humana, através da lente
da formação nas artes visuais em
crianças que frequentam as escolas
regulares e adultos com incapacidade no
desenvolvimento, por exemplo autismo e
deficientes mentais educáveis.
A neurociência educacional investiga
como as crianças e adultos aprendem,
quais as práticas que promovem e
substanciam o processo de aprendizagem.
É um campo educacional interdisciplinar
que combina a investigação experimental
da neurofisiologia, psicologia e
educação. Ajudam a criar métodos de
ensino inovador e currículos
abrangentes.
Um dos objetivos desta
investigação é verificar se a formação
precoce em artes visuais promove
alterações estruturais no cérebro e
contribui para aspectos da cognição.
Por si só, a formação em artes visuais
pode constituir canais para melhorar a
criatividade. Algumas experiências
empíricas de sala de aula, sala de
recursos e centros de arte sugerem que
uma pedagogia baseada em artes visuais,
pode melhorar a aprendizagem escolar,
maior interesse com as disciplinas
escolares e retenção do conteúdo
académico na memória de longa duração.
O homem sobreviveu graças à
aprendizagem. Sem ela não teríamos a
linguagem, a capacidade para armazenar
novas informações, aprender pela
experiência. Assim, a memória de
trabalho (curta duração) faz-nos
lembrar o que o professor disse. Abrir
o livro de Matemática na página 18,
dá-nos a certeza da continuidade do
presente, quem sou eu, qual é o meu
nome. Já a memória de longa duração, o
conhecimento e habilidades que se
adquirem pela arte visual transferem-se
para as outras disciplinas escolares do
ensino básico e secundário. A prática
artística pode melhorar a retenção do
conteúdo escolar por mais tempo,
particularmente nos alunos com
dificuldade de leitura. Por seu turno,
nos centros de arte os participantes
obtêm grande envolvimento emocional com
a tarefa estética. A elaboração de
estratégias quer em sala de aula ou em
centros de arte, levam à ativação dos
circuitos da função executiva e ao
autocontrole dos impulsos. Para
adultos, a maior parte dos pensamentos
faz-se em termos de imagens mentais. A
importância das artes visuais são
ferramentas para a aquisição e
armazenamento do conhecimento estético
no cérebro.
Não há consenso
entre os pedagogos de como integrar a arte
no currículo escolar tradicional. Os educadores
acham que o desenvolvimento da
criatividade é estimulante para a
aprendizagem. Os pais em princípio
aceitam que a arte visual em particular
deve ser promovida na educação dos
filhos, dada a sua importância no
desenvolvimento da cognição e
imaginação. Por sua vez, os alunos
sentem-se mais ligados às escolas
quando dispõe de algum programa de
artes. Os professores sabem
intuitivamente que as artes podem ter
efeito nas emoções de seus alunos, no
controle da raiva e violência, os quais
evitam devastar as carteiras e
instalações escolares. Técnicas de
imagem por ressonância magnética
funcional (fMRI) tentam captar a
atividade no sistema límbico e córtex
pré-frontal relativa às emoções e
alterações nos circuitos do cérebro que
resultam em lembranças permanentes. A
este propósito muito ainda precisa ser
investigado.
- n.33 • fevereiro 2022