Neurociência educacional

Amauri Betini Bartoszeck*

A aprendizagem e as Artes Visuais podem articular-se?

O cérebro humano é o organizador das experiências vividas, das percepções estéticas, linguagem, emoções e da tomada de decisões ao longo da vida. Os estímulos ambientais exteriores e os no interior do organismo acionam recetores específicos, codificados em frequência de impulsos elétricos e que são conduzidos ao cérebro, que os interpreta, memoriza e responde com uma ação. Alguns autores alegam que o hemisfério esquerdo do cérebro está envolvido com a atividade verbal, com letras, números e sequências e por sua vez, o hemisfério direito com sons produzidos por instrumentos musicais, sons onomatopeicos, formas, cores com relevância para o “cérebro japonês” (1). Pela propriedade da neuroplasticidade, particularmente no desenvolvimento do sistema nervoso, o uso continuado do órgão ele se desenvolve, adapta-se ao novo e transforma-se estruturalmente, mesmo em adultos idosos. É o fenómeno pelo qual a aprendizagem e a experiência modificam continuamente o cérebro. É um órgão com notável “plasticidade”.

Este texto visa explorar uma intersecção entre a ciência cognitiva, a aprendizagem e artes visuais. A arte visual para a pessoa é um esforço de habilidade e imaginação, mas no sentido mais amplo, é uma forma de comunicação. Muitos indivíduos com incapacidade no desenvolvimento, utilizam a arte para melhorar a sua autoestima, individualidade e a expressão criativa. Procura conhecer melhor a ciência da aprendizagem humana, através da lente da formação nas artes visuais em crianças que frequentam as escolas regulares e adultos com incapacidade no desenvolvimento, por exemplo autismo e deficientes mentais educáveis.

A neurociência educacional investiga como as crianças e adultos aprendem, quais as práticas que promovem e substanciam o processo de aprendizagem. É um campo educacional interdisciplinar que combina a investigação experimental da neurofisiologia, psicologia e educação. Ajudam a criar métodos de ensino inovador e currículos abrangentes.

Um dos objetivos desta investigação é verificar se a formação precoce em artes visuais promove alterações estruturais no cérebro e contribui para aspectos da cognição. Por si só, a formação em artes visuais pode constituir canais para melhorar a criatividade. Algumas experiências empíricas de sala de aula, sala de recursos e centros de arte sugerem que uma pedagogia baseada em artes visuais, pode melhorar a aprendizagem escolar, maior interesse com as disciplinas escolares e retenção do conteúdo académico na memória de longa duração. O homem sobreviveu graças à aprendizagem. Sem ela não teríamos a linguagem, a capacidade para armazenar novas informações, aprender pela experiência. Assim, a memória de trabalho (curta duração) faz-nos lembrar o que o professor disse. Abrir o livro de Matemática na página 18, dá-nos a certeza da continuidade do presente, quem sou eu, qual é o meu nome. Já a memória de longa duração, o conhecimento e habilidades que se adquirem pela arte visual transferem-se para as outras disciplinas escolares do ensino básico e secundário. A prática artística pode melhorar a retenção do conteúdo escolar por mais tempo, particularmente nos alunos com dificuldade de leitura. Por seu turno, nos centros de arte os participantes obtêm grande envolvimento emocional com a tarefa estética. A elaboração de estratégias quer em sala de aula ou em centros de arte, levam à ativação dos circuitos da função executiva e ao autocontrole dos impulsos. Para adultos, a maior parte dos pensamentos faz-se em termos de imagens mentais. A importância das artes visuais são ferramentas para a aquisição e armazenamento do conhecimento estético no cérebro.

Não há consenso entre os pedagogos de como integrar a arte no currículo escolar tradicional. Os educadores acham que o desenvolvimento da criatividade é estimulante para a aprendizagem. Os pais em princípio aceitam que a arte visual em particular deve ser promovida na educação dos filhos, dada a sua importância no desenvolvimento da cognição e imaginação. Por sua vez, os alunos sentem-se mais ligados às escolas quando dispõe de algum programa de artes. Os professores sabem intuitivamente que as artes podem ter efeito nas emoções de seus alunos, no controle da raiva e violência, os quais evitam devastar as carteiras e instalações escolares. Técnicas de imagem por ressonância magnética funcional (fMRI) tentam captar a atividade no sistema límbico e córtex pré-frontal relativa às emoções e alterações nos circuitos do cérebro que resultam em lembranças permanentes. A este propósito muito ainda precisa ser investigado.

(1) Raul Marino Jr. (2018). O Cérebro Japonês.

* Laboratório de Metabolismo Celular, Neurociência e Educação em Ciência Emergente, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, com Francisco Gil, Universidade do Algarve.