Poemas ibéricos
Santiago Aguaded Landero
Poemas ibéricos (17) ANTONIO CARVAJAL MILENA
Antonio Carvajal nasceu em Albolote (Granada, 1943), numa família de agricultores na Vega de Granada. Aos dez anos, foi inscrito como aluno interno no Colegio de los Escolapios de Granada, onde começou a ler escritores clássicos e contemporâneos. Em 1961 começou a escrever poesia, embora não tenha publicado nada até quatro anos mais tarde. Depois de deixar o internato, mudou-se permanentemente para a capital para continuar os seus estudos. Em 1966, começou a estudar Filologia Românica na Faculdade de Filosofia e Letras de Granada, estudando de forma descontínua, concluindo os seus estudos em 1981. Foi por volta desta altura que ele reuniu os poemas que viriam a fazer parte da Tigres en el jardín, o seu primeiro livro, publicado em 1968. Desde então, não deixou de publicar poesia, que foi recolhida e publicada pela Fundação Jorge Guillén sob o título Extravagante Jerarquía (1968-2017). Foi o fundador das colecções de poesia "Suplementos de Pliegos de Vez en Cuando" (Granada, 1986-1988) e "Corimbo de Poesía" (Granada, 1987-1989), dirigindo a colecção "Genil de Literatura" da Diputación Provincial de Granada e a Cátedra Federico García Lorca da Universidade de Granada, no qual desenvolveu uma intensa actividade de divulgação e apoio às novas vozes da poesia, como tem sido o caso, desde 1998, com o Prémio Internacional de Poesia Jovem "Antonio Carvajal" patrocinado pela Câmara Municipal de Albolote. Para ele, a poesia é a forma menos imperfeita de comunicar com o leitor, que é uma minoria porque a capacidade de responder verbalmente ao pedido que é cada poema não é generalizada. E quanto à originalidade poética, ele pensa que esta é menos importante do que a autenticidade criativa, uma autenticidade que prevalece no diálogo com a tradição e nos usos intertextuais.
A las
azucenas que Natalia y José
Antonio Fotografiaron para el
poeta.
núbiles copas que la
luz moldea,
Às açucenas que Natália e José
António fotografaram para o
poeta
Corpo nascido pelo
amor à água,
água espigada
pelo amor ao ar,
ar concreto
para ser teu perfume,
cândido
lírio,
quando nos altares da
virgem ergues
núbeis taças
que a luz molda,
pensa nos
meus lábios que quiseram de ti
beber o orvalho.
Pensa nos
meus lábios que ao zelar pelo
nome
discreto do seu amor
disseram todos
os amores
possíveis que na terra
entrelaçam os seus ninhos,
desditosos ninhos onde a deusa
ferida
pela espiga do trigo e
pelo áspero espinho
da
romãzeira as suas úlceras cura
com suave óleo.
Se na beira
do salar partires
e o teu
perfume alimentar outros sonhos,
recorda que de mim tiveste um
olhar
que te procurava
Oda casi horaciana
A
Paco Domene,
el primero que me habló del
petricor
Seda mis
labios áridos la humuvia,
seda mi pecho con sutil
fragancia
y los rigores y el
hervor disipa,
leve, del
alma.
A las ansias y al
tiempo pone olvido,
brillos
recobra el prado de esmeralda
y el monte su alta cumbre
despereza
sintiendo el agua.
Me sé mantillo y soy
semilla y doy
a la felicidad
nueva palabra,
humuvia, hija
del suelo y de la lluvia
llena de gracia..
Ode quase horaciana
Para Paco Domene
o primeiro que me
falou do petricor
Acalma os meus lábios áridos con
humuvia*,
acalma o meu peito
com subtil fragrância
e os
excessos e inquietação dissipa,
leve, da alma.
As
angústias e o tempo faz
esquecer,
ao campo devolve o
brilha de esmeralda
e o alto
do monte acorda
ao sentir a
água.
Sei que sou húmus
e semente e dou
à felicidade
novo significado,
humuvia,
filha da terra e da chuva
cheia de graça.
* Nota do
tradutor: “humuvia” é uma
palavra criada pelo poeta, daí
manter-se no original.
Endecha sobre un motivo* de Josep Piera
Ay, tu olor me recrea,
sáname
tu memoria
PEDRO ESPINOSA
Se van las madres.
Quedan sus sabores
adheridos
al son de la palabra,
sanan
memorias y el aroma vuelve
con cada silaba
pronunciada,
contada, recobrada.
No es
hinojo, es fenoll, no atún,
toñina,
y baladre la adelfa,
el algarrobo
garrofer y aigua
aquello cuyo nombre solo suena
a rubor de frescor entre los
dientes.
¿Poeta? Sí, si su
palabra tiene
rumor de madre.
Motril, 12 de Agosto de 2020
*PIERA.JOSEP.
Els
fantàstics setanta. 1969/1974.
Valéncia, Institució Alfons
el Magnànim, 2020
PÁG. 109
Nénia sobre um motivo* por Josep Piera
Oh, alegra-me
o teu aroma,
cura-me a tua
memória
PEDRO ESPINOSA
As mães
partem. Os seus sabores
aderem ao som da palavra,
curam memórias e o aroma
regressa
em cada sílaba
dita, contada, recuperada.
Não é funcho, é
fenoll, não é
atum, toñina,
e baladre o
oleandro, a alfarroba
garrofer e
aigua*
aquilo cujo
nome apenas soa
a uma rubra
brisa entre os dentes.
Poeta?
Sim, se a sua palavra tem
rumor de mãe.
Motril, 12
de Agosto de 2020
*JOSEP.
Els fantàstics setanta.
1969/1974.
Valéncia,
Institució Alfons el Magnànim,
2020.
P. 109
** Nota do
tradutor (SAL): As palavras em
itálico estão em língua
valenciana, daí manter-se no
original
*Tradução de Manuel A. Domingos, excepto para o terceiro poema, que foi traduzido pelo SAL e revisto pelo Manuel. Obrigadíssimo.
- n.30 • novembro 2021