Santiago Aguaded Landero

Poemas ibéricos

Santiago Aguaded Landero

Poemas ibéricos (14) ÁGUEDA GARCÍA GARRIDO

Águeda García Garrido nasceu em Huelva, Andaluzia. É doutora pela Universidade da Sorbonne e professora titular na Universidade de Caen-Normandia (França) desde 2011. Águeda, combina a sua atividade universitária com a criação literária. Ganhou vários prémios nacionais e internacionais de poesia. Publicou em numerosas revistas de literatura e cultura (Barcarola, círculo de poesia, Cadernos do matemático, Dos filos, Fábula, Borderad, o Colóquio dos cães, Nayagua...) e os seus poemas apareceram em várias antologias: a Alquimia do Fogo (Amargord, 2014), XXIV prémios de poesia "luz" (Tarifa, 2017), entre outros. Traduziu vários poetas franceses inéditos em castelhano. É autora do poemário “O Espaço Ausente” (Coleção Donaire, n.° 3, Diputación Provincial de Huelva, 1998). A sua poesia explora a linguagem da itinerância, brinca com as emoções do desenraizamento e reconstrói a memória dos lugares vividos num mundo onde o habitável é apenas um refúgio.

POR LO QUE VIVIMOS

Empieza el día y ya es de noche.
Hay un árbol azul en medio del vacío
esperando que la luz sea el refugio
de su savia continua. 
Despacio mueve su ramaje,
sin alterar su melodía, 
igual que una pluma de nadie
baja del cielo y nos sorprende.
En su cima hay algo que escapa
a los anillos del aire,
todavía oscuros y cerrados.
Un nimbo helado que tiembla
como mi voz en tu nuca.

Logo se faz noite, mal o dia começa.
Uma árvore azul no lugar desabitado
espera que a luz absorva
sua primeira seiva.
De vez em quando agita seus ramos
qual pluma translúcida
que do céu cai, e nos deslumbra,
Em seu fulgor algo se dispersa sem alterar sua melodia,
nos volteios do ar,
assombrosa ocultação.
Gélida obscuridade, meu trémulo
gemido na tua nuca ecoa.

VOLENDAM

En la casa número 19 vive Klaas.
Es un templo de ébano que ya ha ardido
la noche en que vino el soldado de las botas sucias
golpeando la puerta con el pomo de su espada.
El fuego se llevó el tibio olor de los corpiños
con sus trencillas rotas y su apretado aliento,
la primera humedad de la achicoria,
el dormido acorde del laúd
en la irisada piel de los lirios,
el agua inmóvil del caldero
que brillaba en el hueco de las manos,
el rápido abrazo que todo lo retiene, 
la felicidad azul de la pupila,
dilatada en su furtivo oleaje,
el corazón que un día lo vio todo perdido.

En la casa número 19 vive un hombre que busca
la tierna vocación de la hierba,
abrigada en su pecho como esquivo
temblor del paraíso.
Sale cada día a medir la sal que delinea
la puntualidad del estuario
porque allí las raíces ignoran los incendios
y la tristeza se agita en su látigo precoz.

Triunfante, rendido, jadeante
atraviesa el campo con la memoria
saciada en los desvanes.

Se dirige al mar a detener el mundo,
sus olímpicas llantas en la tierra.
Su bicicleta está oxidada
como el gozne de una larga primavera
zurcida en su nociva pendiente
del tiempo y el camino.
Con ella reconstruye la oquedad
de su infancia, su primer amanecer
en otro cuerpo que hoy descansa
bajo el linde solar de las luciérnagas. 

Na casa a que foi dado o n.º19 vive Klaas.
Queimado templo de ébano na noite
em que o soldado
das botas sórdidas
arromb
ou a porta com o cabo da espada.
As chamas consumiram os corpetes flácidos
com cordõezinhos retalhados e sua respiração aflita,
a primeira fragrância da chicória,
o sonolento acorde do alaúde
na irid
escente textura dos lírios,
a água dormente no caldeiro
refulgindo na concha das mãos,
o esquivo abraço que tudo prende,
o radiante azul do olhar.
espargido em seu furtivo tremular
o coração em que um dia tudo naufragou.

Na casa n
.º19 vive um homem
que implorou
a branda consolação da erva,
acolhida em seu peito como indócil
lucilação do paraíso.

Dia a dia sai a calcular a salinidade
com que assegura a harmonia do estuário
onde as raízes enjeitam os incêndios
e a desolação vibra seu açoite precoce.

Exultante, rendido, sufocado
percorre o descampado com a memória
exaurida em recônditas paragens.

Para suster o mundo segue com destino ao mar,
suas olímpicas rodas na terra,
montando a bicicleta mais enferrujada
que os gonzos de uma juvenilidade
passajada em seu desgaste irreparável.
ora pelo tempo, ora pela jornada.
Com ela recupera a vacuidade
da infância, seu primeiro alvor
numa outra compleição hoje protegida
sob a cúpula solar dos pirilampos.

(Inédito, Diciembre 2021)
Tradução para português pelo VAV

*Nota do tradutor: Mantive a tradução literal do vocábulo "hierba" explorando a analogia com a poética de Walt Whitman e da leitura que deve ser feita da obra "Leaves of grass" - enquanto estupefaciente.

Volendam es una pequeña ciudad portuaria y turística de Holanda perteneciente a la comuna de Edam-Volendam. Su población se sitúa en torno a los 22.000 habitantes.