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Paulo Cunha
Doze “Capitais Europeias da Cultura 2027” em Portugal
- Partilhar 30/11/2021
Sendo as
Capitais Europeias da Cultura um dos
projetos com maior reconhecimento na
União Europeia, cuja ideia basilar se
centra na colocação das cidades nomeadas
no centro da vida cultural de toda a
Europa, espelhando assim o que têm em
comum, bem como a riqueza que advém da
sua diversidade em termos de tradições,
idiomas e história, Faro (a cidade que
me acolheu como seu) entregou no dia 21
de novembro de 2021 a candidatura a tão
ambicionada escolha.
Estando
ligado há algumas décadas, de várias
formas, à intervenção cultural em Faro e
no Algarve, naturalmente,
questionaram-me qual era o meu papel na
candidatura da cidade à “Capital
Europeia da Cultura 2027”. Tendo
respondido que o meu “papel” já teve o
seu tempo, congratulei-me por saber que
tanta gente que não conhecia da Cultura,
na Cultura e para a Cultura, hoje, a
defende como fonte de progresso,
prestígio e enriquecimento da sua cidade
e região. Valeu assim a pena muitas
vezes ter trilhado solitários caminhos
na aridez cultural com que, não há muito
tempo, Faro e o Algarve eram votados. É
caso para dizer: “Haja financiamento e
vontade e a Cultura acontece!”
Decorria o mês de novembro de 2015
quando escrevi o artigo “O Algarve na
Europa da Cultura” para a revista
Algarve Informativo. Dois anos depois, o
citado artigo integrou o livro “Cem
desabafos… Sem espinhas”. Seis anos
volvidos, “roubo-me” os seguintes
parágrafos: (…) “Sendo uma candidatura
de uma cidade, deverá, antes de mais,
ter implícita na sua génese, toda a
região de que Faro é capital. Comparado
com certas cidades cosmopolitas
internacionais, o Algarve quase se
assemelha a uma grande cidade
atravessada pela estrada nacional 125 e
pela via do Infante, tendo como ponto
central, Faro. Deverá ser assim o farol
de uma candidatura onde as questões e
divergências históricas, autárquicas e
político-partidárias deverão ficar para
trás, privilegiando o crescimento e
enriquecimento cultural da região. (…)
Deverá privilegiar a cultura e a
educação para a cultura – tout court
– sem se deixar amarrar a questões de
ordem económica e financeira que, logo à
partida, poderão fazer inquinar a
qualidade da candidatura. Deverá
privilegiar todos os equipamentos
culturais da região e, ao mesmo tempo,
requalificar e criar outros que possam
vir a ter um papel estrutural e
estruturante para a criação, produção e
apresentação de cultura na região
algarvia. Deverá ter em conta os
algarvios (agentes, intervenientes e
consumidores de cultura), pois serão
eles os maiores e melhores veículos de
promoção da região após a realização dos
eventos inclusos na candidatura. Deverá,
finalmente, ser idealizada também com o
intuito de projetar além-fronteiras, a
cultura (desconhecida) de uma região que
tem tudo para se afirmar também através
do turismo cultural.”
As
candidaturas para a “Capital Europeia da
Cultura 2027” estiveram abertas de 23 de
novembro de 2020 até 23 de novembro de
2021 e, ao todo, doze cidades
perfilam-se agora para uma iniciativa
que poderá valer um apoio do Estado
português no valor de 25 milhões de
euros. Em 2027, a iniciativa envolverá
uma localidade de Portugal e outra da
Letónia. As vencedoras funcionarão,
durante doze meses, como uma espécie de
montra para toda a Europa da sua
atividade e diversidade culturais,
organizando eventos, reabilitando
património e dinamizando as cidades como
centros de vida cultural, social e
económica.
Depois de Lisboa
(1994), Porto (2001) e Guimarães (2012),
Portugal voltará a acolher a organização
da Capital Europeia da Cultura. Tendo
concorrido à organização de tão grande e
prestigiante evento uma dúzia de
localidades portuguesas (Aveiro, Braga,
Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Guarda,
Leiria, Oeiras, Ponta Delgada, Viana do
Castelo e Vila Real), parabenteio-as –
todas por igual – por tão meritória
iniciativa. Portugal, com regiões
culturalmente tão diferenciadas entre
si, mas situando-se geograficamente tão
perto umas das outras, com todas estas
candidaturas irá assim aumentar o
planeamento e investimento em
equipamentos culturais e a formação e
consolidação de novos intervenientes
culturais (produtores, agentes e
consumidores).
Desejo as maiores
felicidades a todas as candidaturas.
Espero também que ganhe a melhor, pois
Portugal, seguramente, já ganhou!
- n.31 • dezembro 2021