Por Ondas do Mar de Vigo
Myriam Jubilot de Carvalho
Homenagem a Greta Thunberg
- Partilhar 02/11/2021
Lemos nas
notícias:
“A cimeira do clima das Nações
Unidas, de que deverão sair compromissos
firmes para conseguir cumprir o Acordo de
Paris e reduzir emissões globalmente, tem
este domingo seu início formal em Glasgow,
na Escócia. Reúne milhares de especialistas,
ativistas e líderes políticos.” (1)
***
Apesar de toda a nossa legítima
preocupação quanto aos problemas
climatéricos que vivemos, sabemos que as
oscilações climáticas têm os seus ciclos.
Toda a vida as houve... Não esqueçamos que a
Europa viveu a "Pequena Idade do Gelo" entre
os séculos XIV e XIX e que este período de
arrefecimento do Globo teve graves
consequências. Os camponeses dos países como
Inglaterra e Holanda adoptaram novas
culturas, como é o caso da cultura da
batata, e essa alteração dos hábitos
tradicionais, quer de cultivo quer
alimentares, foi determinante para a
sobrevivência dos povos do norte europeu.
Entretanto, países como a França, viveram
épocas de grandes fomes, uma vez que ao
problema climático se juntavam as
consequências das guerras em que a Europa
nessas épocas se envolveu, pois as tropas
que cruzavam os campos devastavam e pilhavam
terrenos e culturas. Sabemos hoje que essa
dependência da Agricultura em relação ao
Clima foi mais uma das causas da Revolução
Francesa...
No que toca às oscilações
climatéricas, no dia 05 do passado mês de
Outubro, a LUSA noticiava (2):
Ana
Monteiro, professora catedrática e
investigadora do Departamento de Geografia
da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, afirma que "no caso climático, o
discurso do combate é perigoso, porque nos
dá a impressão de que a ciência e a técnica
são capazes. Não são, não é possível".
A
Professora Ana Monteiro acrescenta:
"Abomino a expressão 'combater' as
alterações climáticas. Não vamos combater
nada, temos de nos adaptar – é outra
postura. Quando digo combater, estou a
assumir uma posição de controlo, pelo menos
vou lutar para ganhar. Quando eu me adapto,
é como num casamento, ou numa amizade (...),
vou tornar-me menos vulnerável àquilo que eu
acho que me incomoda", afiança a cientista,
que acrescenta:
"Adaptada não quer dizer
que não tenho riscos. Quer dizer é que tenho
conhecimento desses riscos e impermeabilizei
o solo, escolhi modelos construtivos, levo
um ritmo de vida e uso formas de me
transportar que me tornam menos vulnerável,
porque mexer no sistema climático, não há
ninguém que mexa". E diz ainda, "NÃO
APRENDEMOS NADA" com a pandemia.
*
Mas
de facto, não temos só o problema das
alterações naturais do ciclo da Natureza...
sabemos com perfeito conhecimento, que foram
e continuam a ser, as grandes indústrias, os
grandes potentados económicos, que deram
uma mãozinha à Natureza.
E escusamos
de nos choramingar, pois todos nós, países
ditos civilizados, temos usufruído daquilo
que se convencionou considerar como “avanços
tecnológicos”! O benefício que a Humanidade
tirou destes avanços tecnológicos dos
últimos séculos, ao início da Era
Tecnológica, foi, porventura, inconsciente
dos resultados funestos que daí adviriam...
Mas desde que se tomou consciência dos
problemas de poluição atmosférica, poluição
de terras, rios e mares; problemas de secas
advindas, por exemplo, da grande
desflorestação – que é que se tem feito?
É este detalhe que pode, e deve ser,
repensado – se os grandes poluidores
quiserem fazê-lo...
É aqui que entra
o valor dos grandes activistas que têm
actuado a nível individual, dando origem à
movimentação de grupos de intervenção cívica
que se têm formado por todo o Planeta.
Mas não chega... A par de um retrocesso no
caminho destrutivo levado a cabo pelos
grandes poderes económicos, terá que haver
um decisivo compromisso individual! Bruce
Chatwin, já em 1987, na sua obra
“Songlines”, cita o provérbio indiano:
Life is a bridge.
Cross
over it, but build no house on it
–
A vida é uma
ponte.
Atravessa-a, mas não construas nela nenhuma
casa.” (3).
Jesus
Cristo, segundo rezam as crónicas, também
disse, no famoso e magistral Sermão da
Montanha: “Considerai como crescem os
lírios do campo: eles não trabalham nem
fiam, contudo vos digo que nem Salomão em
toda a sua glória se vestiu como um deles.”
...A nossa “civilização” ultrapassou em
muito esta sabedoria, e o resultado está à
vista. Prestando novamente atenção a Bruce
Chatwin, vemos esta lúcida antevisão das
difíceis mudanças de hábitos que nos
aguardam, e que todos sem excepção vamos ter
de observar e respeitar, de bom gosto ou a
contra-gosto – “O mundo, se algum futuro
tem, há-de ser um futuro ascético.”
“Adaptação”, foi o que fizeram os camponeses
antigos dos países do Norte europeu... Eram
iletrados, mas souberam compreender as suas
dificuldades, e como torneá-las! E é isso
que todos nós, gente instruída e culta,
teremos de nos prestar a conseguir. Quanto
mais cedo, melhor!
(1) -
SIC Notícias, 31.10.2021 às 9h54 - Cimeira do Clima COP26
(2) -
Lusa.pt, 05.10.2021 às 09h07 - Alterações climáticas
(3) - O provérbio indiano
citado por Bruce Chatwin em “Songlines” –
Life is a bridge. Cross over it, but build
no house on it – vem na página
219 da tradução portuguesa, “Canto Nómada”.
A observação de que “O mundo, se algum
futuro tem, há-de ser um futuro ascético”,
vem na página 164.
- n.30 • novembro 2021