Myriam Jubilot de Carvalho

Por Ondas do Mar de Vigo

Myriam Jubilot de Carvalho

Homenagem a Greta Thunberg

 

Lemos nas notícias:
“A cimeira do clima das Nações Unidas, de que deverão sair compromissos firmes para conseguir cumprir o Acordo de Paris e reduzir emissões globalmente, tem este domingo seu início formal em Glasgow, na Escócia. Reúne milhares de especialistas, ativistas e líderes políticos.” (1)

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Apesar de toda a nossa legítima preocupação quanto aos problemas climatéricos que vivemos, sabemos que as oscilações climáticas têm os seus ciclos. Toda a vida as houve... Não esqueçamos que a Europa viveu a "Pequena Idade do Gelo" entre os séculos XIV e XIX e que este período de arrefecimento do Globo teve graves consequências. Os camponeses dos países como Inglaterra e Holanda adoptaram novas culturas, como é o caso da cultura da batata, e essa alteração dos hábitos tradicionais, quer de cultivo quer alimentares, foi determinante para a sobrevivência dos povos do norte europeu.
Entretanto, países como a França, viveram épocas de grandes fomes, uma vez que ao problema climático se juntavam as consequências das guerras em que a Europa nessas épocas se envolveu, pois as tropas que cruzavam os campos devastavam e pilhavam terrenos e culturas. Sabemos hoje que essa dependência da Agricultura em relação ao Clima foi mais uma das causas da Revolução Francesa...
No que toca às oscilações climatéricas, no dia 05 do passado mês de Outubro, a LUSA noticiava (2):
Ana Monteiro, professora catedrática e investigadora do Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, afirma que "no caso climático, o discurso do combate é perigoso, porque nos dá a impressão de que a ciência e a técnica são capazes. Não são, não é possível".
A Professora Ana Monteiro acrescenta:
"Abomino a expressão 'combater' as alterações climáticas. Não vamos combater nada, temos de nos adaptar – é outra postura. Quando digo combater, estou a assumir uma posição de controlo, pelo menos vou lutar para ganhar. Quando eu me adapto, é como num casamento, ou numa amizade (...), vou tornar-me menos vulnerável àquilo que eu acho que me incomoda", afiança a cientista, que acrescenta:
"Adaptada não quer dizer que não tenho riscos. Quer dizer é que tenho conhecimento desses riscos e impermeabilizei o solo, escolhi modelos construtivos, levo um ritmo de vida e uso formas de me transportar que me tornam menos vulnerável, porque mexer no sistema climático, não há ninguém que mexa". E diz ainda, "NÃO APRENDEMOS NADA" com a pandemia.
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Mas de facto, não temos só o problema das alterações naturais do ciclo da Natureza... sabemos com perfeito conhecimento, que foram e continuam a ser, as grandes indústrias, os grandes potentados económicos, que deram uma mãozinha à Natureza.
E escusamos de nos choramingar, pois todos nós, países ditos civilizados, temos usufruído daquilo que se convencionou considerar como “avanços tecnológicos”! O benefício que a Humanidade tirou destes avanços tecnológicos dos últimos séculos, ao início da Era Tecnológica, foi, porventura, inconsciente dos resultados funestos que daí adviriam...
Mas desde que se tomou consciência dos problemas de poluição atmosférica, poluição de terras, rios e mares; problemas de secas advindas, por exemplo, da grande desflorestação – que é que se tem feito?
É este detalhe que pode, e deve ser, repensado – se os grandes poluidores quiserem fazê-lo...

É aqui que entra o valor dos grandes activistas que têm actuado a nível individual, dando origem à movimentação de grupos de intervenção cívica que se têm formado por todo o Planeta.
Mas não chega... A par de um retrocesso no caminho destrutivo levado a cabo pelos grandes poderes económicos, terá que haver um decisivo compromisso individual! Bruce Chatwin, já em 1987, na sua obra “Songlines”, cita o provérbio indiano: Life is a bridge.
Cross over it, but build no house on it A vida é uma ponte. Atravessa-a, mas não construas nela nenhuma casa.” (3).
Jesus Cristo, segundo rezam as crónicas, também disse, no famoso e magistral Sermão da Montanha: “Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam, contudo vos digo que nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles.”
...A nossa “civilização” ultrapassou em muito esta sabedoria, e o resultado está à vista. Prestando novamente atenção a Bruce Chatwin, vemos esta lúcida antevisão das difíceis mudanças de hábitos que nos aguardam, e que todos sem excepção vamos ter de observar e respeitar, de bom gosto ou a contra-gosto – “O mundo, se algum futuro tem, há-de ser um futuro ascético.”
“Adaptação”, foi o que fizeram os camponeses antigos dos países do Norte europeu... Eram iletrados, mas souberam compreender as suas dificuldades, e como torneá-las! E é isso que todos nós, gente instruída e culta, teremos de nos prestar a conseguir. Quanto mais cedo, melhor!

(1) - SIC Notícias, 31.10.2021 às 9h54 - Cimeira do Clima COP26
(2) - Lusa.pt, 05.10.2021 às 09h07 - Alterações climáticas
(3) - O provérbio indiano citado por Bruce Chatwin em “Songlines” – Life is a bridge. Cross over it, but build no house on it – vem na página 219 da tradução portuguesa, “Canto Nómada”. A observação de que “O mundo, se algum futuro tem, há-de ser um futuro ascético”, vem na página 164.