Contemplações
Francisco Gil
O EXPRESSIONISMO
- Partilhar 1/06/2022
O
expressionismo nas artes visuais
destaca-se pelas cores luminosas e nas violentas formas
tão distorcidas quanto possível.
Os expressionistas
são os responsáveis pela primeira
grande insurreição do conceito
de obra de arte e do respectivo tema.
Mesmo hoje, os pintores contemporâneos
continuam a redescobri-lo, sob rótulos
tão elegantes como «anos 80» ou
«pós-moderno», para que pareça algo de
definitivamente novo. Como disse o
crítico de arte
Hertwarth Walden,
fundador do movimento, sem
falsa modéstia: «Chamamos
expressionismo à arte deste século para
a distinguir de tudo o que não seja
arte. Estamos perfeitamente conscientes
do facto de que também os artistas dos
séculos anteriores procuravam a
expressão; apenas não sabiam
formulá-la.»
Se os pintores do
grupo Die Brücke (A Ponte),
nascidos em Dresden, no início do
século XX,
escolheram este nome com o objetivo de
expressarem quanto a sua arte era uma
ponte para o futuro, pode dizer-se que
foram brilhantemente sucedidos: os
desastres sociais e as revoluções
pictóricas tornaram-nos, mesmo hoje,
mais actuais do que nunca.
Dos artistas de Die Brücke,
Emil
Nolde é o mais conhecido. Enquanto
muitos pintores expressionistas se
suicidaram com o advento do nazismo,
Nolde declarou-se um
nacional-socialista convicto. Não há
ética alguma em arte. Infelizmente para
ele, Hitler — ele próprio um pintor — acabaria por
considerar as suas obras tão
degeneradas como as dos seus camaradas,
tendo Nolde sido proibido de expor
durante este período negro.
Em
Munique, de inspiração expressionista, formou-se em 1911, o
movimento cosmopolita Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul),
fundado por
Kandinsky, que abandonara a Rússia,
trazendo para o movimento o seu amigo
Franz Marc, como se em arte nada
fosse definitivamente tão importante
como a amizade ou a inimizade. Para
tentarem impressionar o público, os
críticos procuram origens etimológicas
extremamente complexas para as
tendências artísticas. Já os verdadeiros
artistas, contudo, preferem a
simplicidade: a única coisa que
Kandinsky teve para dizer acerca do
nome deste movimento foi: «O Marc e eu
adoramos o azul; o Marc gosta de
cavalos e eu gosto de cavaleiros; daí
que o nome Blaue Reiter, o Cavaleiro
Azul, nos tenha parecido apropriado.»
Para um pintor, viver em Oslo é uma
vantagem, dado tratar-se de um lugar
sem grande concorrência artística.
Edward Munch, o monstro sagrado do expressionismo, viu o seu génio
devidamente recompensado nessa cidade
sob a forma de um gigantesco museu
inteiramente dedicado à sua obra. A
mais famosa pintura de Munch, tem o
título de Skrike (em norueguês,
e não O Grito), um nome tão
assustador como o próprio quadro.
O expressionismo sofreu muitas
alterações em resultado das diferentes
influências, como, por exemplo, a dos
fauves, Matisse e Derain.
Este nome (fauves), que significa
aproximadamente animais selvagens,
foi-lhes dado depreciativamente por
Louis Vauxelles, um famoso crítico
deste período que, ao ver as obras
destes pintores no Salão de Outono,
disse ter-se sentido num jardim
zoológico, trancado na jaula de uma
fera. (Dana Rodna)
- n.34 • março 2022