Francisco Gil

Contemplações

Francisco Gil

O EXPRESSIONISMO

O expressionismo nas artes visuais destaca-se pelas cores luminosas e nas violentas formas tão distorcidas quanto possível.

Os expressionistas são os responsáveis pela primeira grande insurreição do conceito de obra de arte e do respectivo tema. Mesmo hoje, os pintores contemporâneos continuam a redescobri-lo, sob rótulos tão elegantes como «anos 80» ou «pós-moderno», para que pareça algo de definitivamente novo. Como disse o crítico de arte Hertwarth Walden, fundador do movimento, sem falsa modéstia: «Chamamos expressionismo à arte deste século para a distinguir de tudo o que não seja arte. Estamos perfeitamente conscientes do facto de que também os artistas dos séculos anteriores procuravam a expressão; apenas não sabiam formulá-la.»

Se os pintores do grupo Die Brücke (A Ponte), nascidos em Dresden, no início do século XX, escolheram este nome com o objetivo de expressarem quanto a sua arte era uma ponte para o futuro, pode dizer-se que foram brilhantemente sucedidos: os desastres sociais e as revoluções pictóricas tornaram-nos, mesmo hoje, mais actuais do que nunca.

Dos artistas de Die Brücke, Emil Nolde é o mais conhe­cido. Enquanto muitos pintores expressionistas se suicidaram com o advento do nazismo, Nolde declarou-se um nacional-socialista convicto. Não há ética alguma em arte. Infelizmente para ele, Hitler — ele próprio um pintor — acabaria por considerar as suas obras tão degeneradas como as dos seus camaradas, tendo Nolde sido proibido de expor durante este período negro.

Em Munique, de inspiração expressionista, formou-se em 1911, o movimento cosmopolita Blaue Reiter (Cavaleiro Azul), fundado por Kandinsky, que abandonara a Rússia, trazendo para o movimento o seu amigo Franz Marc, como se em arte nada fosse definitivamente tão importante como a amizade ou a inimizade. Para tentarem impressionar o público, os críticos procuram origens etimológicas extremamente complexas para as tendências artísticas. Já os verdadeiros artistas, contudo, preferem a simplicidade: a única coisa que Kandinsky teve para dizer acerca do nome deste movimento foi: «O Marc e eu adoramos o azul; o Marc gosta de cavalos e eu gosto de cavaleiros; daí que o nome Blaue Reiter, o Cavaleiro Azul, nos tenha parecido apropriado.»

Para um pintor, viver em Oslo é uma vantagem, dado tratar-se de um lugar sem grande concorrência artística. Edward Munch, o monstro sagrado do expressionismo, viu o seu génio devidamente recompensado nessa cidade sob a forma de um gigantesco museu inteiramente dedicado à sua obra. A mais famosa pintura de Munch, tem o título de Skrike (em norueguês, e não O Grito), um nome tão assustador como o próprio quadro.

O expressionismo sofreu muitas alterações em resultado das diferentes influências, como, por exemplo, a dos fauves, Matisse e Derain. Este nome (fauves), que significa aproximadamente animais selvagens, foi-lhes dado depreciativamente por Louis Vauxelles, um famoso crítico deste período que, ao ver as obras destes pintores no Salão de Outono, disse ter-se sentido num jardim zoológico, trancado na jaula de uma fera. (Dana Rodna)