Contemplações
Francisco Gil
ARTE MODERNA
- Partilhar 1/03/2022
Segundo a
enciclopédia, arte moderna engloba uma
grande variedade de movimentos, teorias
e atitudes cujo modernismo reside
particularmente numa tendência para
rejeitar formas e convenções
tradicionais, históricas ou académicas,
num esforço para criar uma arte mais de
acordo com as novas condições sociais,
económicas e intelectuais. Os inícios
da pintura moderna não podem ser
claramente demarcados, mas há um
consenso geral de que ela começou na
França do século XIX.
Há quem
entenda o moderno, como novo, atual, um
estilo e um corrente estética e
artística própria do tempo presente.
Nessa perspetiva, a arte mais
representativa tem sido sempre moderna.
Isto é, as principais produções
artísticas na história da humanidade
sempre acompanharam as tendências do
seu tempo. Mas, hoje, na atual
sociedade de consumo, o moderno de
ontem passa rapidamente de moda. Esta é
uma das suas características mais
relevantes. O facto de ser
«representativa do seu tempo» faz
aumentar o respectivo valor comercial.
A arte de outros tempos
empenhava-se em criar uma ilusão de
realidade, em alcançar um sentimento de
beleza e harmonia. No passado, os
artistas procuravam exprimir o ideal de
beleza, o que contrasta em absoluto com
as preocupações actuais. Se no passado,
a preocupação era a qualidade estética
e artística do produto final, hoje,
centramo-nos bem mais no processo
criativo do que nos seus resultados.
A arte moderna iniciou-se
realmente com a expressão da
subjectividade, dos sentimentos de
tensão e de crise. A maioria das
pessoas são totalmente incapazes de
apreciar tal coisa, sendo este um
bloqueio mental que se encontra
distribuído de modo bastante
democrático por todas as classes
sociais. Em geral, as pessoas são
altamente conformistas (e
conservadoras); a arte moderna perturba
o seu sentido das conveniências, a
menos que, obviamente, lhes traga
prestígio e riqueza.
Para
muitos artistas e criadores, ser
moderno significa dar a ver de um modo
totalmente novo o que outros antes
deles já andavam a fazer há décadas.
Alguns, poucos, alcançam o sucesso. Em
desespero de causa, adoptam-se
prefixos, como neo-, novo- ou, melhor
ainda, nouveau-, pós-, trans-, etc.
Criam apenas neologismos. A erudição é
admirável, mas raramente conduz a
obras-primas.
O escultor belga
Pol Bury, criador de numerosas fontes,
desde o Palais Royal de Paris aos Jogos
Olímpicos de Seul, exprime deste modo o
objectivo principal do artista moderno:
«O meu procedimento é um pouco como o
de Cézanne ao olhar para a montanha de
Sainte-Victoire, ao alterar a imagem
tradicional que podíamos ter desta. É
um modo de mostrar lugares familiares
sob uma nova luz e, depois de lhes
conferir um ponto de vista diferente,
vê-los melhor ou menos bem.»
- n.34 • março 2022