Francisco Gil

Contemplações

Francisco Gil

Fortalecimento social por meio das artes

A organização “Research at Americans for the Arts”, defende o reconhecimento e o apoio para o valor extraordinário e dinâmico das artes, no sentido de que a educação artística é um instrumento importante para a prosperidade económica. Nesse sentido tem desenvolvido uma série de ações especialmente dirigidas às comunidades norte-americanas, cuja organização política assenta em grande parte no liberalismo económico.

Randy Cohen, um dos seus membros, dá o exemplo de Thomas Südhof, Prémio Nobel da Medicina de 2013, que numa entrevista à revista médica Lancet, confessou que o seu professor mais influente foi o professor de fagote, descrevendo que foi a sua educação musical que lhe deu os hábitos mentais que o tornaram cientista, disciplinado, desenvolvendo as suas capacidades criativas, de comunicação e com um desejo imenso de inovar.

Todos os estudantes beneficiam da educação e ensino artístico. Este é um conceito unânime na comunidade científica. Haverá ainda, nalguns sectores, a ideia de que o objetivo da educação artística é formar os jovens para uma carreira nas artes. Embora esse possa ser o destino de alguns, todos os estudantes beneficiam quando as artes fazem parte de uma educação bem fundamentada. Segundo a Research at Americans for the Arts, os estudantes envolvidos nas artes têm melhores classificações académicas, melhores notas nos testes, menores taxas de abandono escolar e maior aptidão para o ensino superior. De facto, os estudantes com quatro anos de aulas de artes e música no ensino básico e secundário têm em média melhores notas do que os estudantes com apenas meio ano ou menos.

Nos EUA os benefícios académicos do ensino artístico também atingem todos os níveis de estatuto socioeconómico. Os estudantes de famílias mais carenciadas economicamente e que estão altamente envolvidos nas artes têm as taxas de abandono escolar significativamente mais baixas e têm o dobro das probabilidades em concluir a sua formação superior do que os estudantes carenciados com baixo envolvimento nas artes. Os ganhos podem mesmo ser acompanhados até à idade adulta, sendo os estudantes envolvidos nas artes mais suscetíveis de obter emprego orientado para a carreira (50% vs. 40%) – empregos com salários mais elevados, maior responsabilidade, e mais oportunidades de promoção.

O interesse numa educação e formação consistente nas diferentes áreas do conhecimento e com melhores desempenhos académicos, é razão suficiente para assegurar que cada estudante recebe uma educação artística de qualidade. O interesse numa melhor educação é também um imperativo empresarial. Para que as empresas prosperem num mercado global cada vez mais competitivo, necessitam das pessoas mais brilhantes e inovadoras. Mais uma vez, a educação artística contribui.

Segundo Cohen, num relatório para a Ready to Innovate by The Conference Board – uma organização internacional sem fins lucrativos de investigação empresarial – os líderes empresariais classificam a “criatividade” entre as cinco principais competências aplicadas que procuram na sua força de trabalho. 72 por cento considera que a criatividade é de “alta importância” quando contratam; 85 por cento dos inquiridos afirmam que estão a lutar para encontrar candidatos qualificados. Quando solicitados a identificar indicadores de criatividade, o “estudo das artes na formação escolar” foi uma das suas principais respostas. O relatório conclui: “As artes – música, escrita criativa, desenho, dança – proporcionam as competências procuradas pelos empregadores do terceiro milénio”.

Uma descoberta semelhante foi observada no Estudo de Liderança Global 2010 da IBM, um inquérito internacional a mil e quinhentos CEOs, identificou a “criatividade” como o fator mais crucial para o sucesso futuro nos negócios, superando mesmo a integridade e o pensamento global.

Dada a importância da criatividade como instrumento para impulsionar a inovação e desenvolver trabalhadores de alto nível, não é de admirar que tanto os líderes empresariais como os líderes políticos estejam a exigir nos EUA a integração das artes no STEM, um currículo baseado na ideia de educar estudantes em quatro áreas: Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, numa abordagem interdisciplinar e aplicada. Ou seja, caminhamos no sentido de acrescentar o A para as artes, transformando o STEM em STEAM. Alguns estudos realizados no contexto norte-americano têm demonstrado a aceitação do valor que as artes trazem à educação: 91 por cento acredita que as artes fazem parte de uma educação bem fundamentada e 94 por cento acredita que os estudantes do K-12 (ensino de 12 anos pré-universitário) devem receber uma educação em artes.

Isto é, para Cohen muito simplesmente, a STEM faz grandes engenheiros; a STEAM faz engenheiros inovadores.