Santiago Aguaded Landero

Poemas ibéricos

Santiago Aguaded Landero

Poemas ibéricos (6) PEDRO S. SANZ

Pedro S. Sanz (Sevilha, 1970). É licenciado em Filologia Inglesa pela Universidade de Sevilha. Desde os seus anos de universidade que tem um gosto viciante pela tradução. Actualmente vive em Jerez de la Frontera, onde trabalha como professor. Publicou vários livros de poesia, incluindo La templanza y otros georemas (2013), Abisales (2015) e Razón de las islas (2017). A sua última colecção de poemas, Refugio en el vuelo, foi publicada em 2019 pela Chamán Editora. Recebeu alguns prémios literários tanto pela sua narrativa, Platero International Short Story Prize (ONU), na sua poesia há uma tentativa cuidadosa de encontrar um equilíbrio entre o lírico, a narrativa e o conceptual, entendendo o poema como um instrumento de investigação sobre o ser perante o mundo, uma testemunha do que acontece, sobre o ser no mundo, como uma engrenagem do mesmo, e sobre o processo da própria criação poética. Este autor irá colaborar comigo em sucessivas traduções do português para o espanhol.

DEL OTRO LADO

1
Bajo los tejados orantes del mercado, las conversaciones, susurradas, rebotan contra los ladrillos rojos y despiertan en ti un leve rubor, temblor que evoca un pasado inexistente, en el que nunca fuiste, y un futuro que será más deseo que sangre y tacto. Este presente, sin embargo, reverbera con la misma solidez que la densa luz que golpea en el mar.

2
De un lado y de otro lado, de cualquier lado, río u océano mediante, el dolor siempre llega en forma de letanía silenciosa.

3
¿Será la gaviota un ser fuera del tiempo, criatura angelical que con su voz, grito, oración o advertencia, nos convoca? La gaviota que, tierra adentro, sobrevuela la ciudad ¿nos vigila, nos protege? ¿es sólo plumas, carcasa, pico, vuelo? ¿es arcángel que nos recuerda, en una lengua primigenia, que pertenecemos al agua, primera cuna, que somos onda, abismo insondable?

4
Las islas no gustan del Verano. El sol no es amable, reseca su piel antigua. Se acercan barcos, sueltan su carga de cuerpos, que se solazan con ellas como si fueran juguetes de la naturaleza, de un sólo día ¿Dejarán huellas indelebles, ellos en ellas, ellas en ellos? Sin duda el mar lamerá sus heridas. Las islas no gustan del Verano. Ahora que está por llegar el invierno, una cortina de niebla esconde sus cuerpos de sirenas varadas. Mis ojos las llaman desde la orilla ¿Dónde? ¿Dónde os ocultáis? Y en el eco parece venir un canto desvaído, unas notas musicales enredadas en jirones de niebla: ¡Do-La-Do-De-Lá! ¡Do-La-Do-De-Lá! Al otro lado, siempre al otro lado. Las islas no gustan del Verano, prefieren su fresco mutismo de gigante sumergido
.

Olhão, otoño 2019


DO OUTRO LADO

1
Sob os telhados orantes do mercado, as conversas, murmuradas, chocam contra os tijolos vermelhos e despertam em ti um ligeiro rubor, um tremor que evoca um inexistente passado, no que jamais foste, e um futuro que será mais desejo do que sangue e toque. No entanto, este presente, reverbera com a mesma solidez que a luz densa que atinge o mar.

2
De um lado e do outro, de qualquer lado, rio ou oceano no meio, a dor chega sempre sob a forma de uma silenciosa ladainha.

3
Será a gaivota um ser fora do tempo, uma angelical criatura que com a sua voz, grito, oração ou aviso, nos convoca? A gaivota que terra dentro, a cidade sobrevoa, nos vigia, nos protege? é tão só penas, carcaça, bico, voo? é um arcanjo que nos lembra, numa primogénita linguagem, que pertencemos à água, primeiro berço, que somos onda, insondável abismo?

4
As ilhas não gostam do Verão. Não é dócil o sol, seca a sua pele anciã. Aproximam-se os barcos, descarregam a sua tripulação de corpos, que com elas confortam-se como se fossem brinquedos da natureza, de somente um dia. Deixarão indeléveis pegadas, eles nelas, elas neles? Por certo o mar lamberá as suas feridas. As ilhas não gostam do Verão. Agora que o Inverno se anuncia, uma cortina de nevoeiro esconde os seus corpos de sereias encalhadas. Os meus olhos chamam-lhes da costa. Onde? Onde as escondeis? E no eco parece vir uma desbotada canção, umas quantas notas musicais enleadas em farrapos de neblina: Do-La-Do-De-Lá! Do-La-Do-De-Lá! Do outro lado, sempre do outro lado. As ilhas não gostam do Verão, preferem o arrefecido mutismo de gigante submerso.

Olhão, Outono de 2019
Tradução para português de Manuel Neto dos Santos
Web de autor: https://pedrossanzurdo.wixsite.com/escritor