Paulo Cunha

Musique-se

Paulo Cunha

Música autárquica

Não tendo tido, ainda, o privilégio e a felicidade de pisar as tábuas de um palco, e assim desfrutar da participação do público, aqui confesso que me tem dado um grande prazer constatar que alguns amigos músicos já regressaram, paulatinamente, à função que lhes garante o seu ganha-pão e muita da alegria de viver.

Viajando por Portugal, verifiquei que muitas autarquias, apesar de não ser a sua função, começaram a sair progressivamente das restrições e contingências a que as atividades musicais foram obrigadas, programando-as para esta época estival com o recurso à “prata da casa”. Sem olharem aos géneros musicais que apoiam, fizeram-no como garantia de subsistência e de continuidade do património cultural da sua região. Naturalmente, achei que tal atitude é digna de relevo. Daí, aqui mencioná-la, homenageá-la e parabenteá-la!

Mas o que dizer dos senhores programadores/decisores de determinadas autarquias que, apesar da míngua a que os “seus” se viram obrigados durante quase dois anos de continuada pandemia, logo que puderam começar a dar música aos seus concidadãos, recorreram imediatamente às receitas antigas em termos de programação rápida, eficaz e a gosto? Obviamente, recorrendo ao que vem de fora e já foi legitimado com o selo de garantia das habituais playlists financiadas pelas editoras multinacionais, as lotações das salas, nas atuais condições de segurança, terão sempre o cartaz “Esgotado” nas bilheteiras!

Por andar nestas lidas há algumas décadas, naturalmente já tive e provoquei algumas “azias”. Nada que o passar dos anos não ajude a dissipar! Por isso, respondo sempre o mesmo quando alguém me questiona qual é a razão por que são sempre os mesmos a tocar em determinadas regiões e eventos. Naturalmente, que colocando a qualidade dos músicos de parte, as razões são óbvias para quem tenha “dois dedos de testa”, não precisando, por isso, de me alongar nas respostas.

Agora, que se aproximam as eleições autárquicas, entre os muitos fatores que poderão ponderar para votar numa lista e não noutra, que tal fazerem um flashback e recordarem o apoio que os autarcas e os candidatos que tiveram a liderar os destinos das localidades onde moram concederam aos músicos que, há anos, andam a colocar a vossa região no mapa cultural do país?!

Eu sei que este artigo de opinião tem um curto prazo de validade, mas não custa nada continuar a sonhar com uma gestão autárquica que dê um genuíno destaque e valorização ao que é da sua região. Por isso, quem sabe, daqui a quatro anos, republico-o neste ou noutro órgão de comunicação social!?

E ainda há quem pense que a pandemia mudou formas de estar, pensar e de agir... Eu não!