à Deriva
Fernando Vieira
Ingleses, para que vos quero?
- Partilhar 03-06-2021
Sob o pretexto da
final da Champions League entre Chelsea e
Manchester City, que o Governo português
achou por bem acolher, os ingleses começaram
a retornar – de forma algo abrupta e
descoordenada – a terras onde se canta o
fado e se come sardinhas à mão.
E desde logo fizeram
sentir o seu peso, tanto ao nível económico
como nas atitudes de arrogância e desdém
pelo alheio, dois fatores profundamente
interligados, seja por defeito ou feitio dos
súbditos de sua majestade.
Cá pelos algarves, e
desde as últimas semanas de maio, é ver
chegar vagas de ‘tourists’, muitos deles
cumpridores das regras de sanidade pública
em vigor devido à atual pandemia, embora se
rejeitem demasiadas infrações ao nível do
incumprimento das mais elementares regras de
higiene e distanciamento social, porque há
gente que acredita estar numa terra sem rei
nem roque.
As portas foram-lhes
escancaradas e as libras tudo pagam, julgam
eles, mal-habituados a estratégias de
acolhimento e campanhas promocionais
subservientes, seja em Portugal, seja na
Grécia, Espanha, Itália, Turquia ou noutros
países de pendor turístico considerados mais
limítrofes.
Note-se que não meto
no mesmo saco os outros britânicos (galeses,
irlandeses e escoceses), pois o seu
comportamento padrão nada tem a ver com os
truculentos dominadores da Velha Albion.
Entretanto, temos
esfregando as mãos de contentamento as
agências de viagens, as companhias aéreas,
as rent-a-car, a restauração e – sobretudo –
a indústria hoteleira, que registou aumentos
de reservas na ordem dos 600 por cento no
decurso das últimas semanas. Mas contenha-se
este entusiasmo, pois tamanha percentagem é
aferida em comparação com o movimento
anterior… que era pouco mais que nenhum.
Na verdade, bastará
uma ligeira centelha, como por exemplo um
qualquer problema originado pelos excessos
dos turistas ingleses ou o simples
agravamento dos números relativos aos casos
de Covid-19, e tudo se esfumaça.
Espero sinceramente
que tenhamos um Verão em cheio e que a
região algarvia volte a receber ondas de
turistas vindos dos habituais países
clientes, com tudo a correr pelo melhor, de
maneira a que a economia local absorva a
plenos pulmões esta lufada de ar fresco para
os seus cofres, a bem da saúde financeira
das empresas (não só turísticas) e da
estabilidade dos postos de trabalho que
geram.
Mas… há que
disciplinar os indisciplinados,
preferencialmente através de ações e
campanhas pedagógicas, para que uns quantos
tresloucados (na maior parte dos casos
inebriados pelo excesso do consumo de
álcool) não prejudiquem as merecidas férias
de todos aqueles que por cá procuram,
prazerosos, a nossa hospitalidade de
primeira, desfrutando a natureza de sonho, a
gastronomia deliciosa e as condições
turísticas “do very best”.
Competirá às autoridades, nacionais e regionais, prevenir antes de remediar.
- n.25 • junho 2021