Fernando Vieira

à Deriva

Fernando Vieira

Ingleses, para que vos quero?

Sob o pretexto da final da Champions League entre Chelsea e Manchester City, que o Governo português achou por bem acolher, os ingleses começaram a retornar – de forma algo abrupta e descoordenada – a terras onde se canta o fado e se come sardinhas à mão. 

E desde logo fizeram sentir o seu peso, tanto ao nível económico como nas atitudes de arrogância e desdém pelo alheio, dois fatores profundamente interligados, seja por defeito ou feitio dos súbditos de sua majestade. 

Cá pelos algarves, e desde as últimas semanas de maio, é ver chegar vagas de ‘tourists’, muitos deles cumpridores das regras de sanidade pública em vigor devido à atual pandemia, embora se rejeitem demasiadas infrações ao nível do incumprimento das mais elementares regras de higiene e distanciamento social, porque há gente que acredita estar numa terra sem rei nem roque. 

As portas foram-lhes escancaradas e as libras tudo pagam, julgam eles, mal-habituados a estratégias de acolhimento e campanhas promocionais subservientes, seja em Portugal, seja na Grécia, Espanha, Itália, Turquia ou noutros países de pendor turístico considerados mais limítrofes. 

Note-se que não meto no mesmo saco os outros britânicos (galeses, irlandeses e escoceses), pois o seu comportamento padrão nada tem a ver com os truculentos dominadores da Velha Albion. 

Entretanto, temos esfregando as mãos de contentamento as agências de viagens, as companhias aéreas, as rent-a-car, a restauração e – sobretudo – a indústria hoteleira, que registou aumentos de reservas na ordem dos 600 por cento no decurso das últimas semanas. Mas contenha-se este entusiasmo, pois tamanha percentagem é aferida em comparação com o movimento anterior… que era pouco mais que nenhum. 

Na verdade, bastará uma ligeira centelha, como por exemplo um qualquer problema originado pelos excessos dos turistas ingleses ou o simples agravamento dos números relativos aos casos de Covid-19, e tudo se esfumaça. 

Espero sinceramente que tenhamos um Verão em cheio e que a região algarvia volte a receber ondas de turistas vindos dos habituais países clientes, com tudo a correr pelo melhor, de maneira a que a economia local absorva a plenos pulmões esta lufada de ar fresco para os seus cofres, a bem da saúde financeira das empresas (não só turísticas) e da estabilidade dos postos de trabalho que geram. 

Mas… há que disciplinar os indisciplinados, preferencialmente através de ações e campanhas pedagógicas, para que uns quantos tresloucados (na maior parte dos casos inebriados pelo excesso do consumo de álcool) não prejudiquem as merecidas férias de todos aqueles que por cá procuram, prazerosos, a nossa hospitalidade de primeira, desfrutando a natureza de sonho, a gastronomia deliciosa e as condições turísticas “do very best”. 

Competirá às autoridades, nacionais e regionais, prevenir antes de remediar.

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