Contemplações
Francisco Gil
Washed Up: uma instalação ambiental
- Partilhar 1/03/2021
Um dos grandes
problemas ambientais no mundo é o excesso de
lixo que é produzido. Cada produto
industrial que se consome, vem acondicionado
numa embalagem que invariavelmente é
colocada no contentor do lixo ou abandonada
algures. Apesar de nos últimos anos ter
havido uma maior preocupação na reciclagem e
reutilização de determinados materiais, o
facto é que em muitos locais do mundo, o
lixo é ainda atirado para o chão, para os
rios e ribeiras, acabando no mar.
São conhecidas as
enormes ilhas de plástico e microplástico
que flutuam nos oceanos [nature.com].
A maior dessas ilhas, no Pacífico Norte, tem
uma superfície maior que as todas as ilhas
do Reino Unido. A gravidade da situação é
tal, que os milhares de toneladas de lixo
que formam estas impressionantes ilhas, são
apenas uma pequena parte do problema, já que
a maior parte do lixo existente nos oceanos
acumula-se debaixo de água. Se não houver
uma mudança na forma como tratamos o
ambiente, em breve haverá mais plásticos do
que peixes no mar.
Além do lixo que se
acumula longe do nosso olhar, há o lixo que
percorre milhares de quilómetros pelos
oceanos entre continentes e chega ao litoral
e praias de todo o mundo. São os mais
diversos objetos que dão à costa e que são
recolhidos pelos serviços de limpeza e
voluntários, de maneira a mostrar a todos
uma praia limpa de lixo visível.
Nos territórios
protegidos, reservas da biosfera, a beleza
natural é muitas vezes agredida com o lixo
internacional que é encontrado nas suas
praias. É o caso da reserva protegida de
Sian Ka'an, na costa caribenha do
México, património mundial da UNESCO e uma
das regiões do planeta com maior
biodiversidade. Em Sian Ka’an têm sido
encontradas embalagens de plástico de mais
de 50 países e territórios diferentes, como
refere Alejandro Durán, artista visual
mexicano, que usa o lixo que recolhe nas
praias para produzir as suas obras e alertar
para o problema do lixo nos oceanos.
Alejandro Durán,
ao visitar pela primeira vez a reserva de
Sian Ka’an em 2010, ficou impressionado com
a quantidade de lixo que se encontrava
espalhado na praia. Decidiu então recolher
o lixo com outros voluntários, organizá-lo
pelas diferentes cores e formatos e
fotografá-lo. Ao longo deste tempo tem
recolhido as mais diferentes embalagens das
mais diversas origens: potes de manteiga
do Haiti, garrafas de água da Jamaica,
embalagens de produtos de limpeza e de
beleza dos EUA, Coreia do Sul, Noruega,
escovas de dentes, brinquedos, talheres de
plástico, etc, etc.
Os seus primeiros
trabalhos realizados consistiram na
organização de grande parte do plástico
recolhido, sendo que a cor preponderante era o
azul. Ficou famoso o pequeno arranjo
enquadrado com o
céu e as águas azuis das Caraíbas: uma
obra efémera e ecológica.
Com o lixo
recolhido e organizado nas suas diferentes
cores, Alejandro, tem organizado diferentes
instalações, com um plano muito simples:
usar o lixo recolhido e reutilizá-lo em
diferentes instalações. O seu plano
passa também por envolver as comunidades neste seu
processo de arte ecológica.
Hoje, a sua intenção é simples:
recolher o lixo, exaltá-lo, colocá-lo num
pedestal e exibi-lo.
vermais:
alejandro_duran_how_i_use_art_to_tackle_plastic_pollution_in_our_oceans
- n.22 • março 2021