Francisco Gil

Contemplações

Francisco Gil

Washed Up: uma instalação ambiental

Um dos grandes problemas ambientais no mundo é o excesso de lixo que é produzido. Cada produto industrial que se consome, vem acondicionado numa embalagem que invariavelmente é colocada no contentor do lixo ou abandonada algures. Apesar de nos últimos anos ter havido uma maior preocupação na reciclagem e reutilização de determinados materiais, o facto é que em muitos locais do mundo, o lixo é ainda atirado para o chão, para os rios e ribeiras, acabando no mar.

São conhecidas as enormes ilhas de plástico e microplástico que flutuam nos oceanos [nature.com]. A maior dessas ilhas, no Pacífico Norte, tem uma superfície maior que as todas as ilhas do Reino Unido. A gravidade da situação é tal, que os milhares de toneladas de lixo que formam estas impressionantes ilhas, são apenas uma pequena parte do problema, já que a maior parte do lixo existente nos oceanos acumula-se debaixo de água. Se não houver uma mudança na forma como tratamos o ambiente, em breve haverá mais plásticos do que peixes no mar.

Além do lixo que se acumula longe do nosso olhar, há o lixo que percorre milhares de quilómetros pelos oceanos entre continentes e chega ao litoral e praias de todo o mundo. São os mais diversos objetos que dão à costa e que são recolhidos pelos serviços de limpeza e voluntários, de maneira a mostrar a todos uma praia limpa de lixo visível.

Nos territórios protegidos, reservas da biosfera, a beleza natural é muitas vezes agredida com o lixo internacional que é encontrado nas suas praias. É o caso da reserva protegida de Sian Ka'an, na costa caribenha do México, património mundial da UNESCO e uma das regiões do planeta com maior biodiversidade. Em Sian Ka’an têm sido encontradas embalagens de plástico de mais de 50 países e territórios diferentes, como refere Alejandro Durán, artista visual mexicano, que usa o lixo que recolhe nas praias para produzir as suas obras e alertar para o problema do lixo nos oceanos.

Alejandro Durán, ao visitar pela primeira vez a reserva de Sian Ka’an em 2010, ficou impressionado com a quantidade de lixo que se encontrava espalhado na praia. Decidiu então recolher o lixo com outros voluntários, organizá-lo pelas diferentes cores e formatos e fotografá-lo. Ao longo deste tempo tem recolhido as mais diferentes embalagens das mais diversas origens: potes de manteiga do Haiti, garrafas de água da Jamaica, embalagens de produtos de limpeza e de beleza dos EUA, Coreia do Sul, Noruega, escovas de dentes, brinquedos, talheres de plástico, etc, etc.

Os seus primeiros trabalhos realizados consistiram na organização de grande parte do plástico recolhido, sendo que a cor preponderante era o azul. Ficou famoso o pequeno arranjo enquadrado com o céu e as águas azuis das Caraíbas: uma obra efémera e ecológica.

Com o lixo recolhido e organizado nas suas diferentes cores, Alejandro, tem organizado diferentes instalações, com um plano muito simples: usar o lixo recolhido e reutilizá-lo em diferentes instalações. O seu plano passa também por envolver as comunidades neste seu processo de arte ecológica.

Hoje, a sua intenção é simples: recolher o lixo, exaltá-lo, colocá-lo num pedestal e exibi-lo. 
vermais: alejandro_duran_how_i_use_art_to_tackle_plastic_pollution_in_our_oceans