Contemplações
Francisco Gil
A educação artística na formação geral
- Partilhar 08/02/2021
A partir da segunda
metade do século XVIII, num período rico em
mudanças, como seja a revolução industrial, a
independência norte-americana, ou a queda da
monarquia em França, fez com que muitos dos
paradigmas vigentes se alterassem
radicalmente. No mundo das artes e da
expressão visual e plástica em particular,
essa rutura com o passado também ocorre
nesse período. As artes visuais estiveram durante
séculos condicionados, sob o conceito
limitado das habilidades mecânicas, num
mundo fechado e imutável. É com as mudanças que ocorreram
com as revoluções operadas pela
industrialização e pelo declínio progressivo
do antigo regime aristocrático que surgem
novas filosofias e doutrinas que mudarão os
sistemas de ensino na Europa. Em Portugal,
as mudanças político-sociais produzem não só
o nascimento do ensino público secular, mas
também abrem caminho a uma valorização das
chamadas artes mecânicas e, claro, à criação
de um sistema público de formação artística.
Será no século XX que
a educação artística se tornará uma área
fundamental nos currículos da Educação
Básica obrigatória. A mudança significativa
ao longo do processo de modernização
educativa surgiu com as novas interpretações
que as questões artísticas passaram a ter em
todo o sistema. A educação artística passa a
não se limitar apenas à formação específica
de artistas e torna-se uma área fundamental
na construção da pessoa humana.
Se no contexto
medieval, a formação de artistas é organizada
com base na relação mestre-aprendiz,
confinada à oficina e assente em pedagogias
alicerçadas na destreza manual e na manutenção
do gosto e valores estéticos clássicos. Com
o desenvolvimento industrial e mercantilista, a formação artística
irá quebrar os seus
compromissos com os interesses corporativos,
sai da oficina, e passa a ser realizada em
aulas públicas que gradualmente ganham
prestígio social, até serem integradas na
Universidade na segunda metade do século
XX. Todavia, quer no ensino artístico, quer
no ensino geral, as pedagogias conservadoras
irão manter durante muitos anos os aspetos
“académicos”, centrados nos resultados
finais, como intransponíveis na didática das artes
plásticas e visuais.
Com a queda progressiva do regime aristocrático que ocorreu no século XIX em Portugal, para além da implementação das aulas públicas para a formação de artistas, existe a progressiva integração da educação artística no domínio da educação formal. No início, a Educação Visual e Plástica nas escolas públicas, financiada pelo Estado, tinha funções claras: a aplicação da aprendizagem à formação profissional e à indústria. Será com as mais recentes teorias, enfatizando a Educação pela Arte e a Educação Estética, onde se destaca mais do que a criação, a criatividade, mais do que o artista, o homem, e mais do que o especialista, o cidadão, que a Educação e Expressão Visual e Plástica serão constituídas como áreas inclusivas de todo o sistema educativo.
* Uma aula tradicional numa escola primária no início do século XX.
- n.21 • fevereiro 2021