Francisco Gil

Contemplações

Francisco Gil

A educação artística na formação geral

A partir da segunda metade do século XVIII, num período rico em mudanças, como seja a revolução industrial, a independência norte-americana, ou a queda da monarquia em França, fez com que muitos dos paradigmas vigentes se alterassem radicalmente. No mundo das artes e da expressão visual e plástica em particular, essa rutura com o passado também ocorre nesse período. As artes visuais estiveram durante séculos condicionados, sob o conceito limitado das habilidades mecânicas, num mundo fechado e imutável. É com as mudanças que ocorreram com as revoluções operadas pela industrialização e pelo declínio progressivo do antigo regime aristocrático que surgem novas filosofias e doutrinas que mudarão os sistemas de ensino na Europa. Em Portugal, as mudanças político-sociais produzem não só o nascimento do ensino público secular, mas também abrem caminho a uma valorização das chamadas artes mecânicas e, claro, à criação de um sistema público de formação artística.

Será no século XX que a educação artística se tornará uma área fundamental nos currículos da Educação Básica obrigatória. A mudança significativa ao longo do processo de modernização educativa surgiu com as novas interpretações que as questões artísticas passaram a ter em todo o sistema. A educação artística passa a não se limitar apenas à formação específica de artistas e torna-se uma área fundamental na construção da pessoa humana.

Se no contexto medieval, a formação de artistas é organizada com base na relação mestre-aprendiz, confinada à oficina e assente em pedagogias alicerçadas na destreza manual e na manutenção do gosto e valores estéticos clássicos. Com o desenvolvimento industrial e mercantilista, a formação artística irá quebrar os seus compromissos com os interesses corporativos, sai da oficina, e passa a ser realizada em aulas públicas que gradualmente ganham prestígio social, até serem integradas na Universidade na segunda metade do século XX. Todavia, quer no ensino artístico, quer no ensino geral, as pedagogias conservadoras irão manter durante muitos anos os aspetos “académicos”, centrados nos resultados finais, como intransponíveis na didática das artes plásticas e visuais.

Com a queda progressiva do regime aristocrático que ocorreu no século XIX em Portugal, para além da implementação das aulas públicas para a formação de artistas, existe a progressiva integração da educação artística no domínio da educação formal. No início, a Educação Visual e Plástica nas escolas públicas, financiada pelo Estado, tinha funções claras: a aplicação da aprendizagem à formação profissional e à indústria. Será com as mais recentes teorias, enfatizando a Educação pela Arte e a Educação Estética, onde se destaca mais do que a criação, a criatividade, mais do que o artista, o homem, e mais do que o especialista, o cidadão, que a Educação e Expressão Visual e Plástica serão constituídas como áreas inclusivas de todo o sistema educativo.

* Uma aula tradicional numa escola primária no início do século XX.