Espelho Cinemático
Daniela Graça
Soul – Uma Aventura com Alma (2020)
- Partilhar 02/01/2021
Depois de um
adiamento inicial devido à pandemia
Covid-19,
Soul – Uma Aventura
com Alma
trocou a estreia nas salas de cinema
portuguesas pela estreia exclusiva e direta
na plataforma de streaming Disney Plus no
dia 25 de dezembro.
A mais recente
adição ao catálogo cinematográfico dos
gigantes da animação, Pixar e Disney,
trata-se de uma história focada no género
musical
jazz
e na procura
do propósito para viver. Este é o primeiro
filme da Pixar protagonizado por um
afro-americano. O realizador de
Soul,
Pete Docter, é responsável pelas adoradas
obras de animação
Monstros e Companhia
(2001),
Divertida-mente
(2015) e Up –
Altamente
(2009), que foi galardoado com o Óscar de
Melhor Filme de Animação.
O filme segue Joe
Gardner, um professor de música apaixonado
por jazz, que após uma audição, finalmente
conseguiu atingir o seu sonho de tocar num
bar de Nova Iorque com uma banda talentosa.
Joe fica eufórico, é domado por uma
felicidade incontrolável. No entanto, não vê
o seu sonho realizado uma vez que acaba por
sofrer um acidente grave que o deixa à beira
da morte. A sua alma separa-se do seu corpo,
mas o músico recusa-se a morrer sem realizar
o seu propósito de vida. Começa aqui a
viagem de Joe e sua tentativa de escapar do
Grande Além. Joe acaba por tornar-se o
mentor de uma jovem alma reticente em
iniciar a sua vida, a número 22, no Grande
Antevida, o lugar onde as almas existem
antes de começarem a viver na Terra. O
músico aproveita esta oportunidade para
regressar ao seu corpo e tocar o concerto
mais importante da sua vida.
Soul
lembra o filme
Coco
(2017), também da autoria da Pixar e Disney,
uma vez que em ambos existe a temática
musical e a missão do protagonista consiste
em tentar regressar à vida. Mas as
semelhanças ficam por aí,
Soul
é inserido numa
cultura e vivência completamente diferente e
a sua mensagem não é focada na importância
da família e legado, mas sim no significado
e propósito de viver.
Através de viagens
espirituais por diferentes dimensões de
existência e aventuras pela cidade de Nova
Iorque marcadas por desentendimentos,
obstáculos e confusões caricatas as duas
personagens descobrem facetas da vida que
previamente tinham ignorado.
Soul
levanta aquela
derradeira e incontornável pergunta que
apoquenta tantas, mas tantas pessoas: “Qual
é o meu propósito de vida?”.
Soul
demonstra como a falta ou a obsessão por um
propósito destroem o espírito humano, como
as pessoas se perdem na procura por um
propósito, como paixões se tornam prisões.
Com o outono nova
iorquino como cenário e jazz a pautar a
história,
Soul
desmistifica como ter um propósito não é o
significado da vida. No fundo,
Soul
demonstra e ensina
que o significado da vida está no simples
ato de aproveitar a beleza de viver, a
companhia dos outros, as experiências e
sensações mais simples (tidas, tantas vezes,
como banais) e a natureza em si.
Soul
trata do tema que mais cativa e aterroriza a
humanidade, a grande incógnita que é o
propósito e significado da vida, de uma
forma divertida, leviana e ternurenta com
sequências ora mágicas, ora serenas. O
humor, tal como é habitual nos projetos da
Pixar, é um dos pontos fortes do filme.
Soul
é reconfortante, é o filme perfeito para um
serão em família no conforto do seu lar.
Soul está agora
disponível para streaming no Disney Plus.
Classificação: ★★★★
- n.20 • janeiro 2021