Vultos da Cultura Portuguesa

Amália Rodrigues

Amália da Piedade Rebordão Rodrigues nasceu em Lisboa, de uma família originária da Beira Baixa. As enciclopédias registam a data de 23 de Julho de 1920, mas ela própria confessa não saber ao certo o dia em que nasceu. Por isso, escolheu 1 de Julho como data de aniversário. Mas não rejeitou o dia 23: "Resolvi guardar as duas datas, porque assim sempre podia fazer duas festas de anos". A sua estreia como fadista data de 1939, no "Retiro da Severa". Em 1940 aceitou um convite para cantar em Madrid e começou uma longa e bem sucedida carreira internacional, sendo ouvida e aplaudida por quase todo o mundo. Os seus primeiros discos, gravados no Brasil e só depois editados em Portugal, datam de 1945. Gravou, desde então, inúmeros títulos, com fados e canções, cuja lista completa se perdeu na memória dos tempos (Vítor Pavão dos Santos, no livro biográfico "Amália", editado em 1987 pela Contexto, publica a mais completa lista até agora conhecida das gravações da cantora). Comparada a Edith Piaf e Bessie Smith, pela voz de Amália passaram inúmeros poetas e letristas, de Luís de Camões a Alexandre O'Neill, passando por David Mourão-Ferreira, Ary dos Santos, Linhares Barbosa, Amadeu do Vale, Manuel Alegre, Pedro Homem de Melo e Vasco de Lima Couto, entre outros. Na música, teve ao seu lado os compositores Raúl Ferrão, Frederico de Freitas, Alain Oulman e Frederico Valério. Como cantora, mas também como actriz, Amália participou em mais de uma dezena de filmes. A partir de final dos anos 80, a carreira de Amália foi objecto de um levantamento quase exaustivo e, a par das inúmeras homenagens que lhe têm sido prestadas, a sua obra tem sido alvo de reedições, colectâneas e edições videográficas.

Fado português
Poema: José Régio
Música: Alain Oulman

O fado nasceu num dia
Em que o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava,
Na amurada dum veleiro,
No peito dum marinheiro
Que estando triste, cantava.
[...]

( - Ai que lindeza tamanha,
Meu chão, meu monte, meu vale,
De folhas, flores, frutos de ouro!
Vê se vês terras de Espanha,
Areias de Portugal,
Olhar ceguinho de choro...)
[...]

Na boca do marinheiro
Do frágil barco veleiro,
Morrendo, a canção magoada
Diz o pungir dos desejos
Do lábio a queimar de beijos
Que beija o ar, e mais nada.

( - Mãe, adeus! Adeus, Maria!
Guarda bem no teu sentido
Que aqui te faço uma jura
Que ou te levo à sacristia,
Ou foi Deus que foi servido
Dar-me no mar sepultura!)
[... ]

E as mães de filhos ausentes
Acordam batendo os dentes,
Torcendo as mãos, e carpindo,
Sabendo todas que é a morte
Que chega daquela sorte,
No luar funéreo e lindo...

Ora eis que embora, outro dia,
Quando o vento nem bulia
E o céu o mar prolongava,
À proa doutro veleiro,
Velava outro marinheiro
Que estava triste e cantava.


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