
Crónica
Fernando Correia
PARA ANA GOMES JÁ CHEGA
- Partilhar 04/02/2021
Ana Gomes, figura
proeminente na política portuguesa e mulher
de antes quebrar que torcer, talvez padeira
de Aljubarrota, talvez Maria da Fonte, mas
certamente Ana Gomes para a história de
Portugal, pediu a ilegalização do partido
“Chega”, tornado evidência por André
Ventura, por entender que fere a
Constituição e vai contra a democracia
conquistada em 1974 pelo Movimento das
Forças Armadas.
O pedido de ilegalização é
endereçado ao Tribunal Constitucional e ao
Ministério Público (via Procuradoria Geral da
República) e dado a conhecer a todas as organizações
a que Portugal pertence, começando pela União
Europeia, baseado em quarenta aspectos formais da
existência e do procedimento do próprio “Chega”.
Esta é uma questão séria que
não pode ser apreciada com um sorriso de desdém nos
lábios ou com um leviano encolher de ombros.
E é sério, porque a
democracia portuguesa também se obriga a ser séria.
Ou seja: se este partido tem
uma forma de proceder ilegal; se defende uma
política que vai contra a Constituição da República
Portuguesa; se actua usando processos não
democráticos; se tem nas suas fileiras conhecidos
extremistas de direita; se se deixou infiltrar por
elementos nazis; se é segregador e racista, é óbvio
que, à luz da Constituição, não pode existir em
Portugal.
Se não é nada disto e apenas
tem votos porque o seu líder é benfiquista, então
não se vê razão para que acabe, a não ser em
consequência dos maus resultados que o seu clube tem
feito no futebol.
Voltando à seriedade do
texto: como português respeitador da Constituição,
exijo ser esclarecido, de uma vez por todas, se
posso ou não admitir o “Chega” como partido político
integrante do quadro democrático nacional, surgindo
nas listas eleitorais ao lado de todos os outros
partidos que reconheço como respeitadores da
Constituição da República.
Apenas isto. Porque também não gosto de ser enganado.
FERNANDO CORREIA
Meu querido “irmão” Carlos do Carmo
- Partilhar 04/01/2021
Afinal juntaste a tua
saída dos palcos à tua saída da vida
terrena! Não foi nada que eu não esperasse,
porque te conheço bem e sei que és um homem
determinado. Sempre foste, desde os tempos
do “Faia”, da mãe Lucília, da Cila, do Becas
e do Gil, até ao “João Sebastião Bar” onde
afogávamos as dores de crescimento da
democracia bebé em copos de bom vinho tinto,
a acompanhar um prato de “camarões à baiana”
feitos pela Eulália sob as ordens da amiga
Vera.
Nessa altura
andávamos a gatinhar à procura de um caminho
saudável para as politiquices que
discutíamos, uns mais esquerda, outros mais
ao centro, com evidente repudio das
“direitas” que alguns saudosistas do estado
novo ainda defendiam, com mais unhas do que
dentes.
Eram dias e dias,
noites e noites, tu, eu, o Tordo, o Ary, o
Solnado, o Bastos, o Cardoso Pires, o
Orlando Costa, o Vitorino de Almeida, o
Nicholson, o José Viana, o Henrique, e todos
aqueles que iam lá para vos ver e para vos
ouvir.
Às vezes nem saíamos
de lá e juntávamos a noite ao dia em
conversas saudáveis sobre o tempo novo que
era o nosso.
Depois, ias cantar ao
estrangeiro, naquelas salas cheias de
saudade, dos portugueses trabalhadores que
tinham saído da pátria desiludidos e que
queriam voltar para participarem na nova
vida portuguesa. Mas quando voltavas, lá
estávamos todos à tua espera para mais uma
boa conversa e para ouvir as boas notícias
que trazias na bagagem.
Até que um dia fomos
todos ao Rio de Janeiro e a São Paulo levar
fado e poesia aos portugueses. E que
êxito!... Eras tu a cantar, o Ary a dizer
poesia e eu a apresentar os espectáculos.
Não é possível
esquecer.
Como não é possível
esquecer o programa “No calor da noite”, na
Rádio Comercial, onde tu cantaste e
contaste, em episódios semanais, a história
do fado, cujas bobinas gravadas guardo no
meu armário de vida, representando um dos
meus grandes tesouros.
Como não é possível
ignorar as tuas apresentações no “Olympia”,
em Paris, onde Aznavour e Piaff também
aplaudiram o teu sucesso.
Recordo a tua
generosidade, a tua ternura pelas minhas
três filhas, as brincadeiras de criança com
os teus três filhos, na Malveira, no
“Burrico”, onde também cantaste.
E hoje a notícia, a
primeira do ano de 2021.
Partiste para o
Oriente desconhecido, onde te espera uma
nova luz e a certeza derradeira da vida
eterna.
Fico a olhar para ti.
Recordo Braga, o
“Teatro – Circo”, onde iniciaste a tua
última ronda de canções. Estivemos juntos no
hotel. Jantamos juntos. A Maria Judite
estava presente. Sempre presente.
Dia 1 de Janeiro.
Os jornais falam de
ti, meu irmão.
Na Segunda–Feira é
dia de luto nacional. Bem mereces que te
lembrem. O professor Marcelo dedicou–te
palavras bonitas e o António Costa, o filho
do Orlando, falou no amigo que perdeu.
Não perdeu. Tu apenas foste preparar o teu próximo concerto fadista. No meio dos anjos.
“Nós somos tempo!” –
Eduardo Lourenço dizia isto no tempo em que
tinha tempo de ser tempo. Mas, agora que o mundo o
transformou em história e em saudade, o que fica
dele é a memória. A memória grandiosa de quem
dedicou a sua vida a pensar, provando que do Ser
Humano o que resta é o pensamento, quando ele nos
atinge transformado em inesgotável lição. Eduardo Lourenço era um
pensador, dos poucos que Portugal teve, na sucessão
de Fernando Pessoa e de Agostinho da Silva. E tal
como estes, mesmo morrendo não nos deixou, porque
teve espaço de vida suficiente para nos legar as
ideias escritas. E mesmo não sendo os
portugueses um povo que prime pela afirmação
colectiva, não podemos deixar de pensar ao lado do
Mestre que: “Nós somos tempo. Compreender aquilo que
somos é compreender o tempo que nós somos, aquilo
que o tempo exterior, o tempo da história, o tempo
da sociedade, é em nós. Não se faz essa aprendizagem
sem que ela seja uma metamorfose permanente daquilo
que nós somos.” Saibamos entender o alcance
deste pensamento e o que ele encerra de crítica, de
verdade e de futuro aconselhado a gente boa que se
desculpa permanentemente com a falta de tempo e que
faz dessa ideia, transformada em dogma, um modo de
vida. Pensar Portugal continua a ser
preciso. Procurar a razão de ser do tão proclamado
“Quinto Império” é a explicação que mais se deseja.
Perceber a índole sebastiânica de gente marcada pela
instante procura de si mesma e pelo reencontro com o
Mundo é algo que se impõe como tarefa transformadora
de um desígnio de sofrimento e dor. É uma tarefa enorme. Mas é
nossa. Termino recordando palavras do Cardeal José
Tolentino de Mendonça: “O caixão de Eduardo Lourenço
tem, qualquer que seja a sua forma, a forma de
Portugal.” Não gosto muito da
via política para me debruçar sobre o que
está mal e podia estar bem, nem sobre o que
estando bem podia estar melhor. Também não sei se os
Partidos Políticos resolvem todos os
problemas das pessoas e se contribuem, sem
equívocos nem bandeiras artificiais, para
que os cidadãos tenham uma vida melhor. O que sei é que os
seus membros são, de uma forma geral,
demagogos e que todos afinam pelo mesmo
diapasão, ou seja, se não estás do meu lado
é porque estás contra mim! E, a verdade é que
muitas vezes não é assim e uma diferença de
opinião pode não querer dizer que estejamos
em polos opostos. Reconhecendo o
direito à liberdade de opinião e ao voto,
não entendi muito bem a argumentação de
alguns Partidos que votaram contra o
Orçamento de Estado na generalidade. E não
entendi por debilidade argumentativa; porque
determinada esquerda especulativa votou ao
lado de uma direita conservadora e
oposicionista por tradição; e porque não se
tinha discutido, ainda o orçamento na
especialidade que é a discussão que, na
verdade, interessa. Ou seja: o voto
contra é um voto às escuras, é um voto cego,
é um voto “porque sim”. E, sendo assim, não é
sério. Também li uma
entrevista do único Deputado do “Chega” na
AR, em que, por entre muitas afirmações de
enorme gratuitidade e de sentido claramente
agitador, afirma ser contra algumas posições
assumidas pelo Papa Francisco, porque as
considera anti – cristãs e, com jeitinho,
anti – clericais. Não sei se por apoiar
o casamento civil entre homossexuais; não
sei se por condenar a pedofilia de uma
maneira geral e, nomeadamente, na Igreja
Católica; não sei se por estar contra as
desigualdades sociais; não sei se por ser
contra as guerras; não sei se por admitir o
casamento dos sacerdotes em determinadas
condições; não sei se por ser contra a
ostentação, o luxo e a riqueza na Igreja;
não sei se por dar mais força ao espírito do
que à religião, sem negar a importância da
oração. Não sei. O que sei é que para
mim já é demais! As comemorações do “5
de Outubro” foram, obviamente, mais
simbólicas do que vividas ao pormenor, não
só pelos efeitos das possíveis celebrações
em grupo e suas consequências, mas também
porque vários protagonistas dessas
celebrações ainda viviam, com alguma
apreensão viral, os efeitos do último
Conselho de Estado onde participou António
Lobo Xavier, já infectado com o “covid-19”. Mas, apesar da
contensão e da apreensão, o Presidente da
República voltou a ser bem claro no seu
discurso comemorativo da data, tendo a
inteligência e a capacidade política de o
orientar para aquilo que, na verdade, parece
ser neste momento mais importante. Ou seja,
o interesse colectivo dos portugueses e a
necessidade de uma convergência no essencial
das forças políticas. No primeiro caso, a
leitura interpretativa vai no sentido de ser
fundamental, numa altura em que estão a
chegar os fundos europeus, manter o
interesse colectivo acima dos interesses
individuais, que o mesmo é dizer muita
atenção porque o dinheiro que aí vem não é
só para alguns. Por outro lado, também há
uma leitura política orientada para a
necessidade de haver cedências para que a
convergência seja viável no essencial e o
Orçamento de Estado permita uma governação
séria e cuidada. Mas a leitura pode ir
ainda mais longe baseada no pressuposto que
deve imperar uma ética republicana contra a
corrupção. No fundo são duas faces da mesma
moeda que só pode chamar-se “Euro da
transparência e da integridade”. Sabe-se que palavras
e actos percorrem distâncias diferentes, mas
bom seria que, de uma vez por todas, se
pensasse nos País e não numa dúzia de
portugueses privilegiados, os tais que são
sempre os “protegidos” e “beneficiados”
nestas ocasiões. Fundos passados já
demonstraram onde está o problema,
permitindo uma distribuição muito pouco
equitativa. Chegou a hora de se
mostrar ao Mundo a tal transparência e a tal
integridade, para que possamos dizer que, em
Portugal, nos encontramos todos a trabalhar
para o mesmo fim, pensando na sociedade
global, nos problemas da comunidade e nas
crescentes zonas de pobreza. FERNANDO CORREIA A frequência
obrigatória das aulas da disciplina de
“Educação para a Cidadania” está a ser posta
em causa por alguns sectores políticos e
católicos da sociedade portuguesa, não se
sabe se por alguma razão plausível, se por
mera conveniência de contexto. Tenta-se, por essa
razão, que os alunos não sejam obrigados a
frequentar as aulas e a obter na disciplina
uma classificação positiva, argumentando-se
com a figura da objeção de consciência que,
aparentemente não encontra no caso vertente
qualquer campo aceitável de análise e de
aceitação. Porquê? Porque não se
encontra na sua fundamentação nenhum
conteúdo ideológico que esteja aquém ou para
além da Constituição da República Portuguesa
e porque defender que seja uma disciplina
opcional permite um aprofundamento das
muitas desigualdades, infelizmente, já
existentes na nossa sociedade. Não vejo que faça
mal, que seja contraproducente, que ancilose
os sentidos, não tratar da matéria
ambiental, da defesa do consumidor, das
finanças, das necessidades culturais, da
segurança, da defesa, da paz, da igualdade
de género, dos direitos humanos, do
voluntariado ou da saúde. Sinceramente não vejo
que alguma destas matérias possa motivar
objeção de consciência, a não ser por
comodismo dos alunos que não estão para
perder tempo, ainda por cima apoiados por
alguns pais, com uma disciplina obrigatória
como esta, “inventada” pela sociedade atual. Fico preocupado com
os objetores, por temer que eles estejam, de
facto, a seguir um condenável caminho
político, absolutamente contrário à
Constituição Portuguesa, aprovada em acto
democrático pela Assembleia da República. Só por essa razão dou
visibilidade a esta matéria. FERNANDO CORREIA Afinal queremos, ou
não, turistas estrangeiros em Portugal e,
nomeadamente, no Algarve? Portugal precisa da
indústria turística e reclama (com razão) da
decisão de Boris em excluir o nosso país dos
destinos seguros. Recentemente chegaram
ao Algarve 2.400 jovens holandeses. Olha que
bom! Mas atenção: vão um bocadinho à praia,
mantendo as regras do distanciamento, bebem
água ao jantar e, a seguir, toca a ir para a
caminha. Está-se mesmo a
ver!... Por isso não escondo
as minhas dúvidas e quero partilhá-las para
me sentir útil à comunidade. As regras internas
estão estabelecidas e as fronteiras estão
abertas. A livre circulação de pessoas
voltou a ser (quase) um facto. Precisamos
urgentemente de relançar a economia e
necessitamos de turistas como de pão para a
boca. Os hotéis,
restaurantes, bares e discotecas têm de
funcionar. A própria Inglaterra
reabriu os “Pubs”. Bom. E nós? Mandamos
patrulhas da GNR para as ruas da Oura e
corremos com a malta toda, por causa dos
ajuntamentos. Acabou. E não há um pouco de
flexibilidade racional? Claro que os turistas
vão procurar outros destinos. Claro que a
Espanha rejubila. Claro que a Grécia bate
palmas. A Itália põe colchas à janela e a
França abre o Louvre e o Moulin Rouge com a
mesma vontade de cativar a rapaziada que vem
da estranja, seja lá como for. Pensemos, então, com
alguma clareza. Bem-vindos os
turistas. Que tragam dinheiro e o gastem cá.
Que bebam umas cervejas. Que comam marisco.
Que cumpram as regras possíveis para evitar
contágios. Que riam. Que cantem. Quer se
sintam bem. Que passeiem. Que visitem. Que
vejam. Que fiquem. Que voltem. Isto não é uma
“balda”. De facto, não é. Mas sejamos
coerentes e pensemos que se não fizermos o
mesmo que os outros países, vamos certamente
ficar sozinhos a “chorar baba e ranho de
todo o tamanho”, sem dinheiro, sem turismo,
com mais desemprego, com mais dívida
pública, com a hotelaria fechada e… com
“covid”. Isto só vai lá quando
a doença conhecida como “covid-19” deixar de
ser avaliada como uma pandemia e passar a
ser tratada como uma endemia. Mais uma, entre
muitas que andam por aí à solta, e que matam
todos os dias. FERNANDO CORREIA Andou o Padre António
Vieira pelo Brasil a pregar aos peixes,
defendendo os índios e lutando contra a
escravatura, para ser vandalizado por quem
não sabe “História” e transforma as palavras
de pedra em arma insultuosa de arremesso. Andou o Padre António
Vieira a pregar, por D. João IV e pelo reino
português, contra a inquisição e não lhe
bastou ser preso como agora insultado na sua
morada esfíngica. Andou o Padre António
Vieira a consumir a alma pela justiça dos
homens, pondo em causa a justiça de Deus,
para lhe agradecerem com as cores do demónio
pintadas no rosto. Andou o Padre António
Vieira a lutar contra os comerciantes de
carne humana pelo imenso Brasil, para ser
agora escorraçado e pela calada da noite
afastado das páginas de gratidão e
reconhecimento da história universal. Andou o Padre António
Vieira a semear a sua palavra, em sermões de
fé e esperança, para nos dias de hoje, ditos
de civilização avançada, fazerem chover
granizo para evitar uma boa colheita. Ando eu, como Santo
António, de menino ao colo, à espera que
este povo, abençoado pelo quinto império de
Pessoa, olhe para dentro de si e resgate do
passado quem merece. A verdade, por vezes,
transforma – se em mentira. A mentira
repetida transforma – se em verdade para
quem a deseja. A história escrita, contada e
perpetuada em memórias de pedra e bronze,
jamais pode ser apagada, mesmo que não se
goste dela. E o Padre António
Vieira merecia que se soubesse da sua luta
interior contra as almas penadas do comércio
fácil da carne humana, essas sim, a valerem
a revolta dos que nobremente lutam pela
igualdade, pela fraternidade e pelo amor
entre os povos. FERNANDO CORREIA
Regina Duarte deixou
de namorar o Brasil mas, ao que parece, isso
não lhe custa nada. Pelo menos percebe–se
que foi o Brasil a acabar com o namoro,
provavelmente por já estar farto dela, o que
nem se deve censurar. Os namoros são assim e
servem para isto mesmo. Ou seja, tudo começa
por aquilo quer se pode definir como
compreensão mútua, por entendimento mútuo,
por se achar que não há ninguém igual, mas
depois, a pouco e pouco, verifica–se que
há pormenores que não são ultrapassáveis,
que afinal a beleza não é tudo, que o
corpinho apetitoso não esconde os defeitos
da alma e que as palavras são tão feias que
nem uns lábios carnudos as disfarçam. Não se sabe se Regina
Duarte ainda gosta do Brasil, mas percebe-se que o Brasil já não gosta de Regina
Duarte. Pelo menos, muito do que se vê e do
que se ouve aponta nesse sentido, correndo
até “abaixo–assinados” contra o facto de
Regina continuar a ser Secretária da
Cultura, o que ultrapassa de longe o facto
de ser uma simples namorada do País. E porquê? Exactamente por não
ter feito fosse o que fosse pela cultura
brasileira, que tem um belíssimo historial
de poetas, escritores, músicos, actores,
compositores, pintores, pensadores e por aí
fora. E tem, também, um historial pouco
recomendável de falta de apoio a todas as
pessoas que poderiam contribuir para a
subida do nível cultural do país e para o
projectar no desejável universo da arte e da
sabedoria mundiais. Regina foi uma
esperança. Mas não passou disso. Regina
tinha um passado artístico que podia dar
garantias de apoio e compreensão das
necessidades culturais. Mas não passou
disso. Regina foi uma boa actriz. Mas não
passou disso. Actualmente, o papel
que representa é de um absurdo e
inconveniente cariz político e, os
brasileiros assim o dizem, muitíssimo mal
representado. Já não passa disso. E para aqueles que
olham o mundo global com olhos de ver e
percebem o que nele se passa com coração de
sentir, estes casos de ascensão ao poder
(sempre efémero e enganador) são reveladores
de algo que está disfarçado, ou escondido,
na alma de determinadas pessoas, personagens
de si mesmas no palco da vida, ainda que
durante algum tempo estejam sentadas na
plateia do dia a dia a baterem palmas aos
outros. Claro que são aplausos de inveja,
palmas de conveniência, sorrisos forçados de
mentira para compor a falsidade da peça que
estão a representar. E há quem se lembre
daquela “Malu Mulher” – que por pouco
escapou à feroz censura da ditadura
brasileira – protagonizada por Regina
Duarte, nessa altura apenas para espectador
ver, uma grande defensora dos direitos
humanos, dos direitos do seu povo,
essencialmente dos direitos das mulheres. O tempo é outro e,
agora, nem o “senhôzinho Malta” lhe pode
valer, porque até ele deixou de estar
enamorado pela “viúva porcina”!
Estamos a assistir a
uma espécie de revolta da natureza contra
todos aqueles que tanto mal lhe têm feito.
A notícia é amarga e surge logo a seguir ao apregoado e proclamado mês da fraternidade: Dezembro!
Portugal e Lisboa continuam a ser destinos preferidos internacionalmente, o que contribui largamente para que
a economia, a nível do Estado, “sorria” feliz. Alguns senhorios, infelizmente, mas porque a lei o permite,
desataram a despedir inquilinos e a promover o turismo local que é uma espécie de galinha dos ovos de ouro,
mas que só pode ser “comida” por alguns. Ou seja: cria-se a galinha, ela põe os ovos de ouro e, depois,
quando se esgotam os ovos, ainda dá para fazer uma cabidela, servida à mesa dos tais privilegiados, mas
cozinhada com o sangue dos que ficam sem casa.
A história repete-se. Nunca se sabe donde vem a riqueza, mas normalmente é sempre feita à custa da
pobreza dos outros.
Para além desta dura realidade a que ninguém consegue pôr cobro (por enquanto), o abuso turístico é uma
constante e se não houver uma vigilância constante e atenta, a especulação sobe de tom e aqueles que nos
visitam, porque o destino é bom e atractivo, começam a perceber que alguma coisa vai mal e que, por vezes,
os custos são exagerados.
É importante perceber o que se está a passar e exercer uma vigilância atenta e um controlo total das situações
para que este magnífico destino turístico não feche as suas portas, por culpa dos que querem enriquecer a
qualquer custo.
Também se torna importante recordar alguns exemplos anteriores ocorridos com outros destinos portugueses,
onde a especulação deu cabo das belezas turísticas, transferindo os visitantes para Espanha, onde lhes deram
(e dão) condições mais vantajosas. É, por isso, o momento de travar o que está errado, de incentivar o que
está bem e não ter contemplações com os do costume que não olham a meios para atingir os seus objectivos
imediatos.
Portugal é um destino turístico de eleição. São múltiplas as belezas e o povo é carinhoso, tranquilo e fraterno.
Com toda a naturalidade, abre as portas de casa aos visitantes e partilha o que tem sem querer nada em troca.
Pois bem. Que este exemplo seja seguido pelos grandes proprietários, hoteleiros e comerciantes e que juntos,
defendam e tratem bem a nossa “galinha dos ovos de ouro”.
NÓS SOMOS TEMPO
CHEGA OU É DEMAIS
VÊM Aí OS FUNDOS EUROPEUS
AS OBJEÇÕES DE CONSCIÊNCIA
CONFESSO QUE NÃO PERCEBO
OS VÂNDALOS DA HISTÓRIA
A “NAMORADINHA DO BRASIL” NÃO TEM NAMORADO
UM AVISO SÉRIO
TODA A CAUSA TEM O SEU EFEITO
E a notícia é esta: cresce o número de portugueses endividados, ao mesmo tempo que duplica o número dos
que não têm abrigo ou tendo abrigo não têm dinheiro para comer, nem para remédios, nem para sustentar os
filhos, muito menos para os educar, nem para comprar roupa, nem para a electricidade, nem para os
transportes, nem para sorrir!...
A maré enche e vaza com a força dos fluxos e refluxos da natureza e se do Natal ficou a história cristã,
também ficou a aridez de um bolso vazio ou de uma vida penhorada. O Ser Humano é assim e, por vezes,
gasta o que tem e o que não tem, apoiado num enganador cartão de crédito que só serve a quem o emite;
outras vezes gasta – se a si mesmo, a reivindicar os direitos que não lhe dão e quando procura trabalho para
“sair da rua”, as portas fecham – se -lhe na cara, com as mais variadas e invulgares justificações.
É por isso que o Estado Social se deveria envergonhar do que faz na maioria das suas acções, deixando como
herança histórica o facto de cada vez haver mais gente rica e, como consequência, mais pessoas na miséria ou
no limiar da miséria.
Não pensarmos no que isto quer dizer é iludirmos o significado da nossa própria existência e ignorarmos a
razão de ser da humanidade, tal como foi concebida e criada.
Ou seja: o cidadão abastado (que não divide o que tem) e se serve dos outros para conseguir, para si, mais
riqueza, é um simples Ser abastardado que tem uma visão distorcida da realidade, não sendo capaz de
perceber a importância do esforço colectivo, nem de avaliar a grandeza de uma existência repartida e,
certamente, mais de acordo com o significado da vida terrestre, da vida material. E, por essa via de
procedimento, jamais encontrará o caminho do espírito, jamais será iluminado pela grandeza da dádiva, pela
importância da partilha, pela nobreza do caracter que, afinal, não tem e pela alegria de estender a sua mão a
quem dela precisa.
Alguns justificam – se dizendo que foi o acaso que lhes deu o dinheiro, o poderio, a voz de comando, a
supremacia…
Falácia. Justificação que nada justifica. Sombra da realidade.
Para esses recomenda – se vivamente a consulta do “Caibalion”, se tiverem a coragem de o ler e de o
entender, ou mesmo só de o ouvir. Se o fizerem encontrarão a “voz” de uma consciência diferente: TODA A
CAUSA TEM O SEU EFEITO; TODO O EFEITO TEM A SUA CAUSA; TODAS AS COISAS ACONTECEM DE ACORDO
COM A LEI SUPERIOR; O ACASO É SIMPLESMENTE O NOME DADO A UMA LEI NÃO ENTENDIDA E NÃO
CUMPRIDA.
É preciso, então, perceber e tomar boa nota do que estas palavras significam, porque, de facto, toda a causa
tem o seu efeito.
Quando os Seres Humanos menos avisados entenderem o que isto quer dizer, poderá ser demasiadamente
tarde.
A Galinha dos Ovos de Ouro