Aníbal de Sousa
Devaneio em dia de São Valentim
- Partilhar 29/01/2023
“– Prestemos atenção às
coisas sérias!”
–
dizia a minha tia…“– Mas
sem perder
jamais de vista
a poesia!”
–
falava em tom de artista
O meu tio,
Enquanto tateava sob a cama
Procurando
O bacio.
“– Torradas
com manteiga
e algum cio, é que é para
mim
a pura poesia!”
E,
ripando de um lenço lavajado,
Solene, ela
cuspia,
Enquanto o velho ria,
Sem,
contudo, parar a vil micção.
“–
Olha o que fazes, cão!”
E, um pouco atrapalhado,
Então o
velho via
Que mijara …o porão…
E
assim se interrompia
O devaneio e a
discussão…
E a poesia, enfim, se
resumia
Àquela porcaria
Ali no chão!
*In É tempo de salvar o que nos resta, inéd.
- n.45 • fevereiro 2023