António Grosso Correia

IN VERBIS

António Grosso Correia

QUE SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA ISRAELO-ÁRABE?

A paz entre Israel e a Palestina parece cada vez mais uma miragem, como demonstram os últimos acontecimentos em Jerusalém, com dezenas de mortos. E, contudo, os povos desses países parece estarem ávidos de paz!

Com efeito, já no longínquo Novembro de 2001, o jornal israelita Maariev publicou uma sondagem que mostrava que 53% dos israelitas pretendiam uma solução pacífica para o conflito que os tem oposto aos árabes e particularmente aos palestinianos (Vd. La Clé Palestinienne de Dominique Vidal, in Manière de Voir, nº. 60, Novembre-Décembre de 2001). Os povos, como as pessoas, cansam-se, além do mais, quando as soluções para os seus problemas tardam em surgir! E o conflito israelo-árabe dura desde há mais de um século, embora se tenha agravado desde 2 ou 3 anos antes da independência de Israel, declarada unilateralmente em Maio de 1948!

Sabe-se que o enfado – mas também o progressivo esclarecimento das populações – derivado desta longa e trágica guerra tem vindo a aumentar ano após ano. E o desejo de uma solução que traga a paz definitiva tem também vindo a crescer, quer de uma parte, quer da outra. Porém, a concretização desse desejo tem sido impedida pelos extremistas de ambos os lados: a extrema direita israelita – com os seus falcões à cabeça, como Benjamin Netanyahu, eleito primeiro-ministro após o assassinato, por outro extremista, do sensato e moderado Yitzak Rabin – e o Hammas palestiniano, actualmente no poder.

Sem se pretender – longe disso – expiar ou apagar da memória os bárbaros actos de terror praticados pelos palestinianos contra israelitas, não podemos deixar de considerar que o maior terror e as mais cruéis agressões têm sido perpetrados por estes contra aqueles: os massacres em massa (em Haifa – antes da anexação por Israel –, em Deir Yiassine, em Mont Scopus, em Guch, em Etzion, em Ad-Dawwyima, em Sasa, em Safsaf, em Majd al-karum e em Jisf), os assassinatos selectivos, as ocupações militares de territórios (designadamente em Gaza – as suas melhores terras – nos Montes Golã e na Cisjordânia), acompanhadas de massacres e de expulsões das populações e da destruição das suas aldeias (como Bir’am, Ikrit e Gabsiyeh), a destruição, indiscriminada, umas vezes, e selectiva, outras, de edifícios, públicos e privados, as humilhações...

Um dos maiores massacres praticados pelos israelitas ocorreu em 1948, logo após a independência, no seu próprio território, contra os árabes aí residentes. Crê-se que nesta hedionda acção foram impiedosa e cruelmente assassinados entre 8.000 e 9.000 palestinianos, todos civis. Este bárbaro acto teve como objectivo aterrorizar os palestinianos (o próprio David Ben Gurion o admitiu), de modo a que fugissem das suas terras – para os israelitas as ocuparem, está claro.

As atrocidades dos israelitas sobre os palestinianos têm sido tantas e tais que o próprio Ehud Barak, quando foi eleito primeiro-ministro do Governo de Israel, em Maio de 1999, terá afirmado: “Se eu fosse palestiniano também optaria pela violência”! Vd. Alain Gresh in “Israel-Palestine. Vérité sur un Conflit”, Fayard, Paris, 2001.

Mas, como se sabe, não têm sido só os palestinianos que têm vindo a ser agredidos e invadidos. Têm-no sido também o Egipto, a Síria e o Líbano. Quem já se esqueceu da “Guerra dos Seis Dias” e da invasão deste último país, em 1982, em que foram mortos 12.000 civis? E quando e quem se esquecerá da posterior invasão do Líbano e do rol de atrocidades e de crimes de guerra praticados por Israel, de resto, disto mesmo acusado pela Amnistia Internacional, que concluiu que a estratégia do invasor “tinha objectivos militares e civis”? Na verdade, também nesta invasão, Israel, para além de infra-estruturas e alvos militares, destruiu estradas, pontes, reservatórios e condutas de petróleo (com os dificilmente reparáveis danos ambientais) e bombardeou e destruiu hospitais, creches, escolas, inúmeros edifícios de habitação, igrejas e mesquitas, no que se calcula terem sido mortos entre 2.600 e 3.500 civis, tendo deixado o sul do Líbano praticamente em ruínas, como as televisões mostraram. E até assassinou elementos das Nações Unidas e atacou alvos da Cruz Vermelha Internacional.

E os árabes, particularmente os palestinianos, os mais brutalmente agredidos, reprimidos e espoliados, como se têm caracterizado as suas (re)acções contra o poderoso Israel, super armado e apoiado pelos americanos? Têm-se armado até aos dentes, como o tem feito Israel, desde a sua independência? Não consta, até pelo bloqueio à venda de armamento que têm sofrido e às divisões entre estes, provocadas pelos Estados Unidos (mais uma vez e sempre).

Ora, sem armamento e sem união que possam fazer frente ao inimigo de todos os dias, ocupante e destruidor, a quem pode espantar que se tenham tornado em “especialistas” atiradores de pedras (Intifada) e “homens-bomba”?

A verdade é que Israel, super armado e incentivado pelos Estados Unidos, tem feito muito bem o que tem querido!...

Trata-se, quem duvida?, de uma política, sem moral, toda ela dominada por estratégias e interesses unicamente económicos – o petróleo e o chorudo negócio do armamento – para engorda de alguns, mas que só pode conduzir ao sofrimento, à ruína e à morte de muitos milhões, bem como à guerra, à destruição e á catástrofe.

É, pois, necessário que a Humanidade desperte para flagelos como este…É preciso dar mais valor à verdade que ao embuste. A paz é um bem inestimável, todos sabemos. Mas não pode haver paz enquanto se continuar a perverter a verdade e a praticar a injustiça.

Por isso, satisfaz-nos imenso que, cada vez mais, se despertem consciências em países, cujos governantes parece que não sabem ou não podem exercer as suas altas funções senão promovendo a guerra, como em Israel, onde progressivamente vozes importantes e insuspeitas têm vindo a levantar-se contra ela. 

São os casos do General Amon Shahak, antigo Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, que foi um dos signatários dos Acordos de Genebra e se distinguiu na defesa do seu país, quando defendeu que “sair dos territórios ocupados é um dever sionista”, e do General Uri Avnery, que chegou a integrar o Yrgun, organização terrorista judaica que combateu a presença colonial britânica na Palestina (que englobava o território que foi cedido pelas Nações Unidas para criação do Estado de Israel).

Estas destacadas personalidades, entre muitas outras, de “peso” na sociedade israelita, como os acima referidos Ehud Barak e Yitzhak Rabin, os Coronéis Benny Michalson, Eppi Meltzer e Abraham Zohar, e ainda os universitários Tom Segev, Avi Schlaim Benny Morris e Simha Flapan, reclamaram uma mudança radical da política de Israel, com vista a uma paz duradoura com os seus vizinhos árabes.

Verdadeiramente, não pode ser outro o caminho para a paz naquela região do globo.