IN VERBIS
António Grosso Correia
QUE SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA ISRAELO-ÁRABE?
- Partilhar 9/05/2021
A paz entre Israel e
a Palestina parece cada vez mais uma
miragem, como demonstram os últimos
acontecimentos em Jerusalém, com dezenas de
mortos. E, contudo, os povos desses países
parece estarem ávidos de paz!
Com efeito, já no
longínquo Novembro de 2001, o jornal
israelita Maariev publicou uma sondagem que
mostrava que 53% dos israelitas pretendiam
uma solução pacífica para o conflito que os
tem oposto aos árabes e particularmente aos
palestinianos (Vd. La Clé Palestinienne de Dominique Vidal, in Manière de Voir, nº. 60, Novembre-Décembre de 2001). Os povos,
como as pessoas, cansam-se, além do mais,
quando as soluções para os seus problemas
tardam em surgir! E o conflito israelo-árabe
dura desde há mais de um século, embora se
tenha agravado desde 2 ou 3 anos antes da
independência de Israel, declarada
unilateralmente em Maio de 1948!
Sabe-se que o enfado
– mas também o progressivo esclarecimento
das populações – derivado desta longa e
trágica guerra tem vindo a aumentar ano após
ano. E o desejo de uma solução que traga a
paz definitiva tem também vindo a crescer,
quer de uma parte, quer da outra. Porém, a
concretização desse desejo tem sido impedida
pelos extremistas de ambos os lados: a
extrema direita israelita – com os seus
falcões à cabeça, como Benjamin Netanyahu,
eleito primeiro-ministro após o assassinato,
por outro extremista, do sensato e moderado
Yitzak Rabin – e o Hammas palestiniano,
actualmente no poder.
Sem se pretender –
longe disso – expiar ou apagar da memória os
bárbaros actos de terror praticados pelos
palestinianos contra israelitas, não podemos
deixar de considerar que o maior terror e as
mais cruéis agressões têm sido perpetrados
por estes contra aqueles: os massacres em
massa (em Haifa – antes da anexação por
Israel –, em Deir Yiassine, em Mont Scopus,
em Guch, em Etzion, em Ad-Dawwyima, em Sasa,
em Safsaf, em Majd al-karum e em Jisf), os
assassinatos selectivos, as ocupações
militares de territórios (designadamente em
Gaza – as suas melhores terras – nos Montes
Golã e na Cisjordânia), acompanhadas de
massacres e de expulsões das populações e da
destruição das suas aldeias (como Bir’am,
Ikrit e Gabsiyeh), a destruição,
indiscriminada, umas vezes, e selectiva,
outras, de edifícios, públicos e privados,
as humilhações...
Um dos maiores
massacres praticados pelos israelitas
ocorreu em 1948, logo após a independência,
no seu próprio território, contra os árabes
aí residentes. Crê-se que nesta hedionda
acção foram impiedosa e cruelmente
assassinados entre 8.000 e 9.000
palestinianos, todos civis. Este bárbaro
acto teve como objectivo aterrorizar os
palestinianos (o próprio David Ben Gurion o
admitiu), de modo a que fugissem das suas
terras – para os israelitas as ocuparem,
está claro.
As atrocidades dos
israelitas sobre os palestinianos têm sido
tantas e tais que o próprio Ehud Barak,
quando foi eleito primeiro-ministro do
Governo de Israel, em Maio de 1999, terá
afirmado: “Se eu fosse palestiniano também
optaria pela violência”! Vd. Alain Gresh in
“Israel-Palestine. Vérité sur un Conflit”,
Fayard, Paris, 2001.
Mas, como se sabe,
não têm sido só os palestinianos que têm
vindo a ser agredidos e invadidos. Têm-no
sido também o Egipto, a Síria e o Líbano.
Quem já se esqueceu da “Guerra dos Seis
Dias” e da invasão deste último país, em
1982, em que foram mortos 12.000 civis? E
quando e quem se esquecerá da posterior
invasão do Líbano e do rol de atrocidades e
de crimes de guerra praticados por Israel,
de resto, disto mesmo acusado pela Amnistia
Internacional, que concluiu que a estratégia
do invasor “tinha objectivos militares e
civis”?
Na verdade, também nesta invasão, Israel,
para além de infra-estruturas e alvos
militares, destruiu estradas, pontes,
reservatórios e condutas de petróleo (com os
dificilmente reparáveis danos ambientais) e
bombardeou e destruiu hospitais, creches,
escolas, inúmeros edifícios de habitação,
igrejas e mesquitas, no que se calcula terem
sido mortos entre 2.600 e 3.500 civis, tendo
deixado o sul do Líbano praticamente em
ruínas, como as televisões mostraram. E até
assassinou elementos das Nações Unidas e
atacou alvos da Cruz Vermelha Internacional.
E os árabes,
particularmente os palestinianos, os mais
brutalmente agredidos, reprimidos e
espoliados, como se têm caracterizado as
suas (re)acções contra o poderoso Israel,
super armado e apoiado pelos americanos?
Têm-se armado até aos dentes, como o tem
feito Israel, desde a sua independência? Não
consta, até pelo bloqueio à venda de
armamento que têm sofrido e às divisões
entre estes, provocadas pelos Estados Unidos
(mais uma vez e sempre).
Ora, sem armamento e
sem união que possam fazer frente ao inimigo
de todos os dias, ocupante e destruidor, a
quem pode espantar que se tenham tornado em
“especialistas” atiradores de pedras
(Intifada) e “homens-bomba”?
A verdade é que
Israel, super armado e incentivado pelos
Estados Unidos, tem feito muito bem o que
tem querido!...
Trata-se, quem
duvida?, de uma política, sem moral, toda
ela dominada por estratégias e interesses
unicamente económicos – o petróleo e o
chorudo negócio do armamento – para engorda
de alguns, mas que só pode conduzir ao
sofrimento, à ruína e à morte de muitos
milhões, bem como à guerra, à destruição e á
catástrofe.
É, pois, necessário
que a Humanidade desperte para flagelos como
este…É preciso dar mais valor à verdade que
ao embuste. A paz é um bem inestimável,
todos sabemos. Mas não pode haver paz
enquanto se continuar a perverter a verdade
e a praticar a injustiça.
Por isso,
satisfaz-nos imenso que, cada vez mais, se
despertem consciências em países, cujos
governantes parece que não sabem ou não
podem exercer as suas altas funções senão
promovendo a guerra, como em Israel, onde
progressivamente vozes importantes e
insuspeitas têm vindo a levantar-se contra
ela.
São os casos do
General Amon Shahak, antigo Chefe de
Estado-Maior General das Forças Armadas, que
foi um dos signatários dos Acordos de
Genebra e se distinguiu na defesa do seu
país, quando defendeu que “sair dos
territórios ocupados é um dever sionista”, e
do General Uri Avnery, que chegou a integrar
o Yrgun, organização terrorista judaica que
combateu a presença colonial britânica na
Palestina (que englobava o território que
foi cedido pelas Nações Unidas para criação
do Estado de Israel).
Estas destacadas
personalidades, entre muitas outras, de
“peso” na sociedade israelita, como os acima
referidos Ehud Barak e Yitzhak Rabin, os
Coronéis Benny Michalson, Eppi Meltzer e
Abraham Zohar, e ainda os universitários Tom
Segev, Avi Schlaim Benny Morris e Simha
Flapan, reclamaram uma mudança radical da
política de Israel, com vista a uma paz
duradoura com os seus vizinhos árabes.
Verdadeiramente, não
pode ser outro o caminho para a paz naquela
região do globo.
- n.24 • maio 2021