Victoria Sajin

Olhar Juvenil

Victoria Sajin

Dar valor aos valores de antigamente

Já algum tempo se passou e eu tenho andado um pouco desaparecida. No entanto, decidi voltar para poder partilhar com vocês algumas novidades e pequenas aventuras que têm acontecido nos últimos tempos, agora a viver sozinha em Lisboa.

Bem, como todos sabem: Lisboa, cidade grande. O sonho de muitos jovens que procuram ir em busca daquilo que desejam, seja ela uma carreira ideal ou até mesmo uma mudança. E eu, igualmente uma jovem sonhadora, a fazer exatamente o mesmo. Mas focando no assunto que vou partilhar este mês, tem a ver com o estranhar da simpatia dos jovens (eu sei que isto soa um pouco estranho, mas vou já explicar e vai fazer sentido, prometo).

O primeiro momento que vou partilhar aconteceu numa fila de supermercado, que funciona como a da Primark, em que é apenas uma fila única e cada caixa chama assim que está livre e nós apenas nos temos de deslocar para lá e colocar as nossas coisas no tapete, enfim, uma forma de organização mais justa. Estava na fila do Continente, à minha frente um senhor entre os seus 50 e 60 anos. Chamaram para a caixa e o senhor foi a caminho da mesma, porém, em menos de um minuto regressou e estava com um ar de incomodado. Pediu-me imediatamente desculpa como se me estivesse a passar à frente ou a tirar o meu lugar, dizendo que a caixa chamou, mas que a fila ainda estava grande, então regressou para esperar. A minha resposta foi tão simples quanto isto: “Não tem problema nenhum, é normal porque as caixas chamam automaticamente e podem falhar”. O senhor ficou especado a olhar para mim durante uns longos segundo até que lhe saem as seguintes palavras: “Obrigado menina, obrigado pela sua compreensão e pela sua reação” (estranho, não é?).

O segundo momento aconteceu no autocarro, onde ajudei duas senhoras que não tinham a certeza onde era a paragem que elas iam descer e, eu como ouvi a conversa e percebi que precisavam de ajuda, disse-lhes que quando estivermos quase a chegar lá eu aviso e elas descem. Entretanto, ambas, super simpáticas, fomos a conversar o caminho todo. Antes de chegarmos à paragem onde as senhoras iriam descer, toquei no botão e disse-lhes que era já a seguir. Elas ficaram muito felizes e agradeceram pela minha simpatia e disponibilidade e disseram-me o seguinte: “Já não há muitos jovens como a menina, muito simpática e que nos ajudou só porque sim!” (aparentemente uma atitude normalíssima da minha parte, achava eu).

Nestes dois meses a viver em Lisboa, tenho vindo a tirar algumas conclusões de coisas que, na minha cabeça me pareciam tão simples e que qualquer pessoa o faz no seu dia a dia, como ser simpático/a. Vou então retomar o que disse acima: as pessoas estranham a simpatia dos jovens e, acho que isto se sente mais pelos idosos. E talvez seja normal, pois numa cidade tão grande, as pessoas mal se conhecem e mal se falam. Mas será que ser simpático com alguém que não nos fez nada de mal é assim tão difícil? Senti-me estranhamente especial em ambos os momentos que contei, porque pela reação das pessoas percebi que já não é tão comum um jovem dar o seu lugar no autocarro para uma pessoa de mais idade, ser simpático só porque sim ou mesmo apenas não levar a mal o atrasar numa fila de talvez um minuto. Mas o facto de não ser tão comum nos dias de hoje, faz de mim uma pessoa que ainda dá valor aos valores de antigamente?