Paulo Falcão Alves

Vaguear na Maionese

Paulo Falcão Alves

HABITUA-TE!

Nos finais do século XVIII, Jeremy Bentham idealizava um sistema de vigilância a que chamou – Panopticon, uma forma de controlo prisional assente numa estrutura circular, similar à do Coliseum de Roma, onde no centro se encontrava uma torre circular com vidros a toda a volta e um guarda que vigiava todos os reclusos sem que estes pudessem ter a noção de estarem a ser vigiados, não permitindo ao mesmo tempo a comunicação entre eles. Embora fosse fisicamente impossível um único guarda observar todas as celas ao mesmo tempo, os prisioneiros nunca sabiam de facto se estariam a ser observados condicionando assim o seu comportamento.

Face ao fenómeno pandémico que hoje todos vivenciamos, esta Panopticon tende a ser subliminarmente substituída por infinitos algoritmos e desmesuráveis sistemas de vigilância permitindo aos Estados-nação, para já apenas os totalitários, a legitimação das suas ações de vigilância através de um processo coercivo de controlo e invasão da privacidade, apoiado pela promessa de uma maior segurança e bem-estar social.

O monopólio da violência que Max Weber atribuiu aos Estados-nação do século XIX é hoje substituído pelo monopólio da vigilância, obrigando os cidadãos a agir de acordo com as políticas definidas pelo poder político através da manipulação da informação como forma de condicionamento social.

Enquanto no passado o ideal social assentava no equilíbrio entre segurança e liberdade quanto mais liberdade, menos segurança e vice-versa, num futuro próximo esse ideal social irá recair sobre o equilíbrio entre privacidade e controlo, mas com uma pequena diferença - desta vez o controlo será exercido independentemente dos nossos esforços para preservar a nossa privacidade.

As políticas de vigilância e controlo têm agora a oportunidade de saltar as fronteiras dos países totalitários e começarem a implantar-se nas mais variadas sociedades democráticas do Ocidente, exercendo políticas de controlo e punição cada vez mais implacáveis, aproximando-nos cada vez mais das visões futuristas de George Orwell ou Aldous Huxley. Parafraseando Scott McNealy, co-fundador da Sun Microsystems – Já não tens qualquer privacidade – habitua-te! ...