Afonso Dias

reflexões in verso

Afonso Dias

romance do negacionismo

romance do negacionismo

há um che bar em pristina
em sagres um
dromedário
e do algarve aos balcãs
a lonjura é um calvário 

como é que o che da argentina
corrido tanto fadário
foi abancar no kosovo
e como é que sagres tem
sem deserto um dromedário

    (mas porquê este paleio
     e a que propósito vem...) 

isto anda é tudo ligado
e o
big brother comanda
o preço do javali
digo eu que sou
vegan
inda que não praticante 

o trump fede a bedum
e a bochechos de lixívia
para alourar a melena
e não desampara a loja 

o bolsonaro arrota
a hidroxicloroquina
e o pantanal soluça
um  tormento  desalmado
pelo inferno da indiferença
 

e em vagas de estupidez
o negacionismo ataca
à bruta no
facebook
no twitter no instagram
e ameaça com o inferno
quem se atreva a inocular
a vacina salvadora 

as coisas que eles inventam
para distraído me porem 

    antes a poliomielite!
diz a crendice assassina
    antes a tuberculose
    o tétano e o sarampo
    que a ciência estudiosa
    antes a fé que a ciência!
    mais do que a fé a f
ézada!  

razão tinha-a o meu pai
    – quem não sabe não inventa
    cale o bico engula o
chip
    e arrume-o no intestino
    e vá cagá-lo para longe 

vacina  contra o fascismo
é que havia de espalhar-se
com um toque de raticida
e gel das unhas dourado
a disfarçar o embrulho 

a estupidez é velhaca
e ameaça cruzes! credo!
que me vão cravar o
chip
à boleia da vacina
para se saber onde páro
a qualquer hora do dia 

então tim-tim por tim-tim
o
big brother verá
a que exacto minuto
me alivio de apertos
em que me ache aflito
e pobre de mim também
a que carinhos me aninho
se tenho quem de mim cuide 

mas a quem há-de interessar
que em segredo e gozo pleno
eu lance peidos às ventas
da crendice enlameada
pelo vírus da estupidez

vão lá sujar o inferno!
vade retro lá para trás! 

10.12.2020