Daniela Graça

Espelho Cinemático

Daniela Graça

Soul – Uma Aventura com Alma (2020)

Depois de um adiamento inicial devido à pandemia Covid-19, Soul – Uma Aventura com Alma trocou a estreia nas salas de cinema portuguesas pela estreia exclusiva e direta na plataforma de streaming Disney Plus no dia 25 de dezembro.

A mais recente adição ao catálogo cinematográfico dos gigantes da animação, Pixar e Disney, trata-se de uma história focada no género musical jazz e na procura do propósito para viver. Este é o primeiro filme da Pixar protagonizado por um afro-americano. O realizador de Soul, Pete Docter, é responsável pelas adoradas obras de animação Monstros e Companhia (2001), Divertida-mente (2015) e Up – Altamente (2009), que foi galardoado com o Óscar de Melhor Filme de Animação.

O filme segue Joe Gardner, um professor de música apaixonado por jazz, que após uma audição, finalmente conseguiu atingir o seu sonho de tocar num bar de Nova Iorque com uma banda talentosa. Joe fica eufórico, é domado por uma felicidade incontrolável. No entanto, não vê o seu sonho realizado uma vez que acaba por sofrer um acidente grave que o deixa à beira da morte. A sua alma separa-se do seu corpo, mas o músico recusa-se a morrer sem realizar o seu propósito de vida. Começa aqui a viagem de Joe e sua tentativa de escapar do Grande Além. Joe acaba por tornar-se o mentor de uma jovem alma reticente em iniciar a sua vida, a número 22, no Grande Antevida, o lugar onde as almas existem antes de começarem a viver na Terra. O músico aproveita esta oportunidade para regressar ao seu corpo e tocar o concerto mais importante da sua vida.

Soul lembra o filme Coco (2017), também da autoria da Pixar e Disney, uma vez que em ambos existe a temática musical e a missão do protagonista consiste em tentar regressar à vida. Mas as semelhanças ficam por aí, Soul é inserido numa cultura e vivência completamente diferente e a sua mensagem não é focada na importância da família e legado, mas sim no significado e propósito de viver.

Através de viagens espirituais por diferentes dimensões de existência e aventuras pela cidade de Nova Iorque marcadas por desentendimentos, obstáculos e confusões caricatas as duas personagens descobrem facetas da vida que previamente tinham ignorado. Soul levanta aquela derradeira e incontornável pergunta que apoquenta tantas, mas tantas pessoas: “Qual é o meu propósito de vida?”. Soul demonstra como a falta ou a obsessão por um propósito destroem o espírito humano, como as pessoas se perdem na procura por um propósito, como paixões se tornam prisões.

Com o outono nova iorquino como cenário e jazz a pautar a história, Soul desmistifica como ter um propósito não é o significado da vida. No fundo, Soul demonstra e ensina que o significado da vida está no simples ato de aproveitar a beleza de viver, a companhia dos outros, as experiências e sensações mais simples (tidas, tantas vezes, como banais) e a natureza em si.

Soul trata do tema que mais cativa e aterroriza a humanidade, a grande incógnita que é o propósito e significado da vida, de uma forma divertida, leviana e ternurenta com sequências ora mágicas, ora serenas. O humor, tal como é habitual nos projetos da Pixar, é um dos pontos fortes do filme. Soul é reconfortante, é o filme perfeito para um serão em família no conforto do seu lar.

Soul está agora disponível para streaming no Disney Plus.

Classificação: ★★★★