O triunfo tecnico e artistico de �1917�

Daniela Graca

Espelho Cinemático

Daniela Gra�a

O triunfo t�cnico e art�stico de �1917�

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O �pico de guerra �1917� do realizador Sam Mendes foi inspirado pelas hist�rias da Primeira Guerra Mundial que o av� lhe contara. O filme tem sido criticamente aclamado. Mendes foi eleito melhor realizador nos pr�mios do Sindicato de Realizadores de Hollywood e �1917� � um dos grandes concorrentes dos �scares com 10 nomea��es, incluindo Melhor Filme e Melhor Realizador.

�1917� conta a hist�ria de dois soldados brit�nicos, o cabo Blake (Dean-Charles Chapman) e cabo Schofield (George MacKay), encarregados com a miss�o aparentemente imposs�vel de atravessar territ�rio inimigo para transmitir uma mensagem que ir� parar a investida de um batalh�o de 1600 soldados brit�nicos, entre os quais se encontra o irm�o de Blake, e salv�-los de cair numa armadilha mort�fera alem�.

� um enredo convencional: miss�o suicida e contrarrel�gio. Mas o que distingue e eleva �1917� � a mestria t�cnica alcan�ada atrav�s da dire��o arrojada de Sam Mendes e da vis�o de Roger Deakins, considerado um dos melhores diretores de fotografia da atualidade. O filme foi rigorosamente arquitetado de forma a dar a ilus�o de ter sido filmado em dois planos-sequ�ncia, o �nico corte no filme acontece quando um dos soldados fica inconsciente, desta forma a audi�ncia acompanha a hist�ria em tempo real e tal como os protagonistas n�o tem tempo para processar e parar devido � natureza da guerra, o que intensifica a a��o. Este feito � uma tarefa �rdua que requere planeamento, precis�o e organiza��o de todas as partes envolvidas durante todo o processo de grava��o e montagem.

O triunfo art�stico e t�cnico de �1917� n�o s� � impressionante como � tamb�m fundamental para a cimenta��o do filme como uma experi�ncia imersiva, na qual o espetador � for�ado a confrontar a realidade b�lica. A audi�ncia acompanha os protagonistas, segue-os no seu encal�o e coloca-se nos seus lugares, ao atravessar as trincheiras, frias e in�spitas, lotadas de homens desgastados, feridos e cad�veres; ao vivenciar a horripilante Terra de Ningu�m, a quietude e beleza dos campos de Fran�a e a destrui��o de vilas e casas.

�1917� come�a e termina com um plano de um campo cheio de flores, uma vis�o serena que contrasta severamente com a carnificina da guerra. O filme explora de uma forma intimista a jornada f�sica, mental e emocional destes jovens, expondo a desola��o sentida, a �nsia por sobreviver, o desespero por suceder, a dor das mortes de companheiros, mas tamb�m o confronto encontrado na camaradagem e nas piadas, hist�rias e can��es saudosas sobre casa.

A cinematografia de Deakins captura tanto a beleza campestre como o terror e frenesim da guerra de uma forma assombrosa, recorta silhuetas com paisagens e luz criando imagens inesquec�veis. �1917� � uma proeza visual que � fortificada pela trilha sonora exemplar composta por Thomas Newman, pelo elenco constitu�do por talentos como Colin Firth, Mark Strong, Benedict Cumberbatch, Andrew Scott e Richard Madden (que t�m participa��es curtas no ecr�, mas marcantes) e pelos dois atores principais, George MacKay e Dean-Charles Chapman, que se destacam com os desempenhos naturais, convincentes e emotivos.

� pela mestria t�cnica e a aud�cia art�stica que �1917� se consagra como um dos grandes �picos de guerra, � uma obra imersiva sobre o inferno travado por entre lama, balas e cad�veres. �1917� reflete sobre a magnitude das perdas e a inutilidade da guerra e recorda os valores, os atos e os homens, porque guerras n�o s�o ganhas por massas an�nimas, mas sim pelo esfor�o coletivo e cont�nuo de homens que carregam muito mais do que as suas mochilas e armas �s costas.