António Marçal Grilo

Estórias da História

António Marçal Grilo

A conquista dos Algarves pela coroa portuguesa

A última campanha de D.Sancho II

Com os cavaleiros de Santiago, Sancho II parte à conquista do litoral do Gharb acometendo a vila de Aljustrel sensivelmente a 20 léguas de Alcácer que é tomada aos mouros e doada de imediato aos espatários em recompensa dos altos serviços prestados por D. Paio Peres Correia mestre da Ordem. Em 1238 Sancho II saudoso já dos arraiais de guerra juntamente com os freires do Hospital seus fidelíssimos, convoca as suas tropas e avança para sul pelas ribas do Guadiana onde chega ao forte castelo de Mértola, tomando-o aos mouros e doando-o aos hospitalários que desde logo transferem para lá a casa capitular da ordem. Nesse mesmo ano, Sancho II chega ao mar e toma os castelos de Alfajar de Pena e Ayamonte alargando o domínio português para lá do guadiana até às margens do Odiel. O senhorio das novas terras doa à Ordem dos Hospitalários que ficam com o encargo de as defenderem.
No ano seguinte, Sancho II de volta às lides de guerra avança sobre Cacela e Tavira que conquista.

Assim se vai cerrando a oeste um férreo círculo de castelos em torno dos fortes castelos de Faro e Silves que por terra se achavam já cercados e isolados da Andaluzia pouco faltando para a inteira posse do Algarve.

Sancho II já planeava para o ano seguinte coroar a sua carreira militar com a conquista e posse definitiva do extremo ocidental da península propondo-se acometer sobre Silves, Faro e Loulé simultaneamente por mar com a sua frota de galés e por terra com todas as guarnições dos castelos e com as suas mesnadas e tropas reais, mas tal empresa não viria a acontecer;
Sancho II um brilhante guerreiro tinha descurado as coisas do reino, a governação do território, o exercício da justiça do reino, o desamparo dos municípios, o poder descontrolado dos nobres, uma igreja dividida e discricionária, pusera em causa toda a sua legitimidade e toda a sua autoridade pondo em dúvida a sua própria pessoa, a sua própria autoridade como Rei. O usurpador, seu irmão Afonso, Duque de Bolonha que há muito conspirava com as forças do reino a tomada do poder ia negociando com as diversas forças a sua subida ao trono.

O reino estava exausto, repartido por ódios entre nobreza e clero, o povo injustiçado pelos desmandos de toda a ordem, a anarquia militar, as deploráveis contendas da nobreza que não respeitava nem as ordens reais, nem isenções da igreja, nem os foros municipais vão ter por consequência a guerra civil e, por fim, a deposição de Sancho II que procura o seu desterro em Toledo onde acaba por falecer, protelando-se assim a conquista do Algarve, para o reinado de seu irmão, o futuro rei Afonso III de Portugal que lhe sucede.