Afonso Dias

reflexões in verso

Afonso Dias

romance IV (da ria formosa)

romance IV
(da ria formosa)

leve e formosa é a ria
morada de pão e água
e homens sal e marisco
no bailado das marés
cujas se elevam no embalo
das medusas que esbeltas
coram vergonhas à vista
do hippocampus guttulatus
cavalo marinho chamado
altivo como um solista
em ondulante bailado
na transparente humidade

e tantos que a ria tinha
e que agora já não tem
pois que da china a crendice
de ressuscitar firmezas
e saudosas competências
da endocrinologia
fez voar redes furtivas
e pelo espanto embarcou
o peixe da extravagância
rumo à insana tolice

e o hippocampo abalado
fez-se deserto na ria

certo é que rara santola
e alguma ameijoa boa
inda por ali passeiam
com lingueirões e douradas
pequeninas dos viveiros
mas o berbigão a monte
que em tempos foi tapete
de areias que mal se viam
debaixo da tal fartura
já não se pisa na borda
da laguna espoliada
da população que tinha

pois que até a holotúria
pepino do mar chamada
que não tinha serventia
na petisqueira de amigos
é rapinada pela névoa
e pela sombra é levada
a ser manjar do japão
servida em prata lavrada

pobre ria transvestida
em estaleiro e vazadouro
que a navegar-lhe saudades
‘inda tem gente teimosa
que semeia amor na água
espelho que não se acanha
de brilhar a correnteza

ninfa é a ria formosa
tão de mágoa e de beleza
de esperança tão sequiosa

11.11.2018
















e holotúrias roliças


asmática papelada