Animals 'Я' Us


Família Epigenética?
Rute Rocha

Pergunto-vos se não estará na altura de mudarmos o conceito de família? Ou tomarmos consciência que dele fazem parte uma série de mitos que nos angustiam e escravizam!

Repare-se que o termo família deriva do latim famulus, que significa escravo doméstico.

Que conceito é este o de família que nos estão a querer impor?
– religioso, de matrimónio de dois humanos ateus?!
– de laços de sangue, que historicamente geraram tantas guerras?!
– com os mesmos genes? como se ambos os progenitores partilhassem dos mesmos genes!
– individualista, confinada a três elementos, de que já nem os avós e os tios fazem parte!
– pequeno burguês? num (pseudo)ambiente, materialista, acolhedor e de aconchego.

Vejamos as formigas! Já nem as formigas são o que eram! Foi o nosso conhecimento que mudou. Construímos a ideia de que as formigas "obreiras/trabalhadoras" servem a formiga "rainha/mãe". Contudo, estudos recentes mostram que a função das formigas na sua comunidade não está predeterminada, depende muito dos mecanismos epigenéticos. Repare-se que ao morrer uma formiga rainha, uma obreira tomará o seu lugar, produzindo feromonas e garantindo a sobrevivência de toda a comunidade de formigas. Também os golfinhos, na grande maioria das vezes, as crias são amamentadas pelas "tias".

Todos os humanos partilham de uma genética ancestral comum, mas não faz sentido assumirmos um organismo como uma individualidade genética, estanque. Todos os animais humanos e não-humanos estão sujeitos a fatores epigenéticos, que constantemente causam alterações do DNA (material genético das nossas células) e que se perpetuam no tempo através das divisões celulares. E mais... é saudável mudar os nossos genes, é a mudança que garante a homeostasia e o bem-estar. Como António Damásio, refiro-me quer à homeostasia interna quer à homeostasia sociocultural.

Talvez pela minha formação e/ou deformação em Biologia, projeto a família para um conceito mais sistémico e com muito mais (bio)diversidade, na qual, genepool, aprendizagens, experiências e afetos interagem para um bem comum.


https://doi.org/10.23882/2184-5689-191116