
Mundo
Sílvia Oliveira
O Tunel de Hommer: Um Portal para o Paraíso onde a Natureza é Arte

Bosques, florestas,
lagos de cores irreais, colinas a perder de
vista, glaciares milenares, praias arenosas
e tranquilas, deserto, cascatas, cadeias
montanhosas, fiordes, piscinas de lama,
fontes geotérmicas, um vulcão adormecido e
muitas, muitas ovelhas. Esta foi a Nova
Zelândia que eu visitei. Tão singular que
nem sei se a Alice viu beleza igual no País
das Maravilhas.
Ir à Nova Zelândia e
não visitar os fiordes é somente perder um
dos cenários mais belos e ímpares do mundo.
Acreditem!
Milford Sound é o
fiorde mais bonito e localiza-se em
Fiordland, uma região a sudoeste na ilha do
sul. Esta região é coberta pelo Parque
Nacional de Fiordland, o maior da Nova
Zelândia e também um dos maiores do mundo.
Chegar a Fiordland
requer alguma logística especialmente na
época de inverno, quando existem inúmeras
placas sinalizadoras no interior do parque,
junto às estradas a alertar para não parar
os veículos e tirar fotos, pois existe risco
de avalanche.
É recomendável para
quem viaja em autonomia, iniciar esta viagem
de manhã cedo. Por isso, pernoitamos junto
ao lago Te Anau, que está nos limites do
Fiordland National Park. É o maior lago da
Austrálasia em volume de água doce, fazendo
parte do Património da Humanidade de Te
Wahipounamu (UNESCO, 1990). No lado oeste do
lago apresentam-se três grandes fiordes:
North Fiord, Middle Fiord e South Fiord e
ainda uma magnífica natureza selvagem de
floresta e montanhas.
De manhã cedo,
seguindo pela estrada 94 (a única que nos
leva ao nosso destino) aproximamo-nos do
famoso túnel de Hommer, que liga Milford
Sound a Te Anau, cavado na rocha entre 1935
e 1954. Diz a história que em 1935, cinco
homens com picaretas, pás e carrinhos de mão
começaram a perfurar a Cordilheira de
Darran, num túnel complexo de concluir, pois
as avalanches quando ocorriam chegavam a
matar e ferir vários homens. A falta de
segurança, o clima e a Segunda Guerra
Mundial atrasaram a sua construção. Em 1940
conseguiram o “furo passante”, mas faltava
alargar. Depois foi a escassez de mão de
obra que obrigou à suspensão das obras e
apenas em 1954 passou o primeiro carro
particular. Quem seria o sortudo?
E, assim, foi aberto
um portal para uma das mais bonitas
maravilhas do mundo.
Em 2005 quando lá
estive, o túnel era sinistro… uma só faixa
de rodagem, paredes em granito sem forro,
uma pequena luz sinalizadora à entrada,
depois ficávamos imersos na sua escuridão,
apenas iluminados pelos faróis do carro e ao
fim de 1270 metros, uma nova luz surgia no
topo do túnel assinalando a saída.
A julgar pelo túnel
não teria ido visitar Milford Sound.
Se “a lei suprema da
arte é a representação do belo”, fique
sabendo que este é o cenário que se avista
quando termina o túnel: Imensas montanhas
cobertas de neve, cascatas que se formam com
a chuva e a acrescentar a tudo isto,
floresta subtropical.
Se há coisas que caem no esquecimento, uma delas foi a proibição de parar devido ao risco de avalanche. Difícil era não parar para correr e fotografar aquele cenário extraordinário – a beleza de Cleddau Valley!
- n.15 • agosto 2020