Paulo Cunha

Musique-se

Paulo Cunha

“Uaaau… é mais fixe cantar sem máscara!”

Depois de um longo período de obrigatoriedade de usar máscara, como forma de reduzir as hipóteses de disseminar o coronavírus SARS-COV-2, foi decretado, recentemente, o fim do seu uso obrigatório. Para quem, num período de crescimento, esteve quase dois anos privado de conviver com as expressões faciais dos colegas, em boa hora tal aconteceu. Finalmente, antes de acabar o terceiro período, muitos alunos estão a ter oportunidade de conhecer os companheiros e, principalmente, os professores.

Tem sido interessante reparar e apreciar as expressões dos alunos ao entrarem na sala de aula e, já sentados, fixarem atentamente os seus olhares em mim, tal como se estivessem na primeira aula. Alguns, alunos há dois anos, a terminar o ciclo de escolaridade estão - finalmente - a apresentar-se totalmente “ao vivo e a cores”.

Tendo privilegiado a voz como o instrumento escolhido para praticar e exercitar os diversos conteúdos explorados em Educação Musical, não tendo sido por isso necessário os alunos terem de retirar as máscaras, tivemos, todos, de nos habituar a cantar menos tempo, a cantar um pouco mais forte, a aprender a inspirar e expirar com mais frequência e a habituarmo-nos à consequente alteração tímbrica.

Para além das expressões faciais que o canto necessita e provoca, ouvir a sua voz e, principalmente, a dos seus colegas, desta feita já não mascarada, tem sido para a generalidade dos alunos um momento em que vários sentimentos e reações se misturam. Alguns sentem alguma vergonha por finalmente ouvirem e sentirem os seus timbres vocais desnudados; outros riem-se ao verem as expressões faciais dos colegas enquanto cantam; outros colocam a máscara para cantar; outros retraem-se e cantam numa intensidade menor do que a pretendida; outros, ao descobrirem a clareza e a expressividade nas suas vozes, ainda cantam com mais pujança e alegria.

É um facto, cantar é um ato natural que proporciona prazer a quem o pratica e, quase sempre, a quem o escuta. Felizmente, a um período de terminar o ano letivo, os alunos que usam a sua voz como instrumento irão desfrutar do prazer de descobrir e apreciar na sua plenitude o instrumento mais acessível que existe – a voz. Sem máscaras que a amordacem, todos poderão gratuitamente, em qualquer local, em qualquer altura e com qualquer idade, experimentar o seu timbre vocal. Enfim, citando um aluno “Yesss, cantar é fixe!” Subscrevo, mas sem máscara!