Paulo Cunha

Musique-se

Paulo Cunha

A importância dos pais no gosto musical dos filhos

A cada início de ano letivo, solicito aos meus alunos do segundo ciclo de escolaridade que me preencham uma ficha com informações relativas ao contacto com a música por parte do seu agregado familiar. São informações que me ajudarão a contextualizar, programar e envolver as famílias no percurso musical dos alunos, na escola e fora dela.

Invariavelmente, os gostos musicais dos petizes refletem as tendências musicais veiculadas pelos vários canais de divulgação musical colocados ao seu dispor. Mas nem sempre assim é. Por vezes sou surpreendido por gostos peculiares e diferenciados por parte dalguns alunos. São preferências por géneros e grupos musicais que refletem a influência da audição ativa, conjunta e participada por parte do agregado familiar. Para aferir tal constatação basta confrontar as respostas dadas nas fichas individuais de recolha de dados musicais.

É interessante verificar que, a par com os vários canais de divulgação digital, a influência familiar continua a ser um dos fatores preponderantes na formação do gosto musical dos jovens. Desengane-se quem espera que sejam apenas os professores de Educação Musical, em duas únicas horas semanais e apenas a partir dos dez anos, que moldarão e/ou apurarão o sentido estético e qualitativo dos futuros produtores e consumidores de música.

Estando as tendências musicais mais populares condicionadas e manietadas pelas editoras multinacionais, é caso para dizer: “Diz-me o que ouves, que eu direi como cantarei!”. Aliás, é assim que todos os anos procedo, tentando inteirar-me e conhecer quais são os cantores e grupos que os jovens ouvem e partilham - até à exaustão - entre si. Da mesma forma que lhes transmito conhecimentos baseados e assentes na música de ontem, tenho que me manter atualizado para poder perceber e falar de música, usando os códigos e termos de hoje.

Não é, pois, de estranhar que muitos músicos, à medida que envelhecem, tentem, tal como fazem consigo, remoçar a sua música para assim continuar a agradar às novas gerações. Mas será essa a melhor estratégia de carreira? Penso que não. Da mesma forma que os músicos envelhecem, envelhecem com eles os seus apreciadores e fãs. O segredo é tornar a música intemporal, dando-a a conhecer, entender e apreciar aos filhos de uma geração que cresceu com determinados músicos que marcaram um período temporal da sua vida.

Sou defensor que o nosso tempo é o tempo em que vivemos, daí achar que a música tem o tempo da altura em que é devidamente ouvida, entendida e apreciada. Por isso, apelo constantemente, de várias formas, para que os pais interajam musicalmente com os seus filhos. Apesar de nem sempre ser bem entendido, continuo a marcar trabalhos de casa onde o agregado familiar é chamado a participar ativamente, cantando ou interpretando com os meus jovens alunos.

Nem imaginam a quantidade de alunos que me dizem ter esperado cerca de dez anos para conhecer os dotes musicais dos pais, conjuntamente com os seus gostos musicais. É também essa umas das tarefas dos professores de Educação Musical: aproximar as famílias através da música. Porque o ato de gostar também se aprende. Como? Educando!